55| Os Jogos das Virtudes

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Fui jogada em uma cela escura, fria e úmida. Sem espelhos ou reflexos para escapar.

Meus braços e pernas estavam cheios de hematomas, roxos e vermelhos. 

O som dos fios estalando choques em mim, ainda ecoava pela minha cabeça, que por sinal, estava uma bagunça, cheia de memórias antigas e recentes, se misturando com pesadelos e medos.

Minhas costas doíam, como se um trator tivesse passado por cima delas. 

Deitei em um canto da cela, e esperaria a morte chegar, lentamente.

°°°

Acordei sobressaltada, com o barulho das chaves tintilintando umas nas outras, e o grunhido da porta da cela se abrindo.

 — Uau, vocês fizeram um estrago nela! — disse a Primeira Dama, se agachando próxima a mim.

Seu rosto estava em um tom uniforme, sem a pele vermelha e os olhos roxos. Provavelmente usava maquiagem, ou eu estava tempo demais sem ver a luz do sol.

— Eu não costumo distribuir sortes gratuitamente para pessoas, ainda mais para ingratas como você, mas, tenho uma proposta boa para lhe oferecer — começou ela, limpando as unhas enquanto as palavras saiam de sua boca.

— Não quero nada de você! Apenas saia daqui e me deixe morrer em paz —  digo, com dificuldade, pois meu peito doía.

—  Paz? Querida, você nunca terá paz, ainda mais estando em meu cativeiro. Essa dor que está sentindo em seu peito, é apenas um efeito colateral de meu experimento com você, ou pelo menos um deles.

— O que você fez comigo? — Sinto um gosto de ferro em minha boca.

— Ouça minha proposta, e depois talvez eu te conte. 

Fiquei em silêncio.

— Pois bem, esse ano não tivemos muitas indicações, nem inscrições para os jogos. Portanto, pensamos em uma forma de compensar essa falta de interesse do público — contou.

— Vá direto ao assunto — consigo dizer.

— Nada melhor do que grandes atrações nos jogos, nada melhor do que uma campeã fazendo jus ao seu nome na arena, e provando que é digna mais uma vez de vencer. Tudo que tem que fazer é ser a vencedora, depois, terá espaço ao meu lado na Embaixada. Talvez eu esqueça sua malcriação e permita que ao longo do tempo possa ver seus amigos novamente, até lá, tudo que tem que fazer é ficar quieta sob minha supervisão a todo tempo — finalizou.

Os jogos.

Senti meu estômago embrulhar; as lágrimas surgirem.

— Suas opções são bem claras: participar dos jogos e vencer, ou apodrecer como um experimento meu. O que prefere? —  enfatizou, sorridente.

Eu só preciso vencer, vencer de crianças fracas sem preparo, repeti para mim mesma.

Depois eu fugiria, arranjaria uma maneira de fugir, ir o mais longe possível da Embaixada, de Pandora, do continente. Atravessaria um espelho e desapareceria, como o ar, a fumaça, seria invisível.

Limpei as lágrimas. 

— Tudo bem, participarei.

— Sábia escolha.

Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora