21| Estrangeira à moda Kimmy

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Apressei-me para avisar Kimmy. Assim que chegamos no quarto, ela correu em disparada ao guarda-roupas para pegar malas e maletas de mão, e claro, as roupas.

— Ainda não acredito que ela fez isso —  esbravejou Kimmy.

— Nem posso pensar muito, se não eu choro —  digo verdadeiramente.

— Mas eu avisei Joy, sabia que não ia ficar barato todo seu circo daquele dia. Você tem dado muita dor de cabeça para ela, ainda mais sendo só uma Campeã — fala, enquanto pega um monte de roupas dos cabides.

—  Em primeiro lugar, não foi um circo qualquer, aquelas crianças estão morrendo Kimmy, e são só crianças inocentes — falo, ajudando-a com as roupas. —  E em segundo, eu nem sei como vou sobreviver longe de vocês, não sei mesmo —  completo.

Ela para a frenesia de arrumar as roupas e me encara com ternura.

—  Joy, você vai ficar bem, sei disso. Não se esqueça de quem é. Nunca. —  Conforta ela.

— E quem sou eu Kimmy, além de uma garota que teve um surto durante a madrugada, atravessou um espelho, caiu aqui e até agora não fez nada que não seja posar para paparazzi? —  me descrevo com amargura.

—  Não diga isso de si mesma. Você é a garota mais extraordinária que já conheci, a única que salvou seus oponentes num jogo insano de um destino cruel, a única que expressou o que pensa sobre o governo e a única até agora, em todos esses anos, que teve a coragem de ir contra o governo para tentar mudar o destino de pobres crianças numa guerra desleal. Joy, você pode até achar que não muda nada com seus atos as vezes impulsivos, mas de verdade, muda, e muito —  seus olhos marejam ao falar isso.

—  Obrigada Kimmy, por ter estado aqui quando cheguei e por me guiar por todos esses meses.

—  Sabe que quando você chegou, ainda estava no hospital desacordada, mas eu estava lá rezando para que voltasse logo para gente, e para que pudéssemos fazer compras juntas, e trançar os cabelos uma das outras, e —  faz uma pausa, —  para que pudéssemos fazer coisa de amigas de novo —  diz sentimental.

Ficamos em silencio apenas nos encarando. 

Ela enxuga as lagrimas, inspira fundo e diz:

— Vamos, não temos tempo a perder. Será a estrangeira mais bela de todo continente, mesmo sem meus preparos —  fala brincalhona.

— Pode apostar —  concordo.

Terminamos de fazer as malas e pego só mais alguns itens essenciais.

Pego meu colar, coloco o meu anel no dedo, pego meu livro favorito e minhas armas brancas pequenas.

—  Tem certeza que precisa disso? Creio que haverá uma escolta com você — pergunta Kimmy, se referindo as armas.

— Sim, nunca é demais andar preparada —  afirmo.

— Ah Kimmy, queria me despedir do Ben também. Falei com Hester e Celine, mas não o encontrei —  menciono.

— Infelizmente não sei dizer aonde está, nem onde possivelmente está. Mas, por que a pressa?

— Pretendo passar minha ultima noite com Carter, quero guardar esta lembrança pelos próximos seis meses —  explico

— Ah sim, eu falo com ele. Quer deixar uma carta? — sugere.

—  Pode ser.

Pego papel e uma caneta.

"Ben

Procurei por você o dia inteiro. Queria me despedir, estou partindo para o sul do continente conforme a Primeira Dama decidiu. 

Sentirei saudades. Espero que possamos resolver as coisas quando voltar, odiei cada minuto em que ficamos brigados. Lamento por não poder dizer isso pessoalmente. Desculpa pelas palavras grossas e insensíveis que lhe disse naquele dia, e espero que entenda também que se tornou um grande amigo para mim. 

Enfim, até breve ( não tão breve) querido Ben."

Entrego  a carta para Kimmy.

— Então é aqui que nos despedimos? —  pergunta ela, já certa que sim.

— Infelizmente — vejo as lagrimas em seu rosto.

— Não vou saber viver por seis meses, seis meses —  enfatiza dramática, —  sem uma boneca chamada Joy, para pentear o cabelo e vestir —  completa gesticulando exageradamente no ar.

—  Nem eu, sem minha fiel conselheira e caixinha de segredos —  a imito.

Ela ri um pouco para afastar as lagrimas.

Nos abraçamos.

— Até daqui a seis meses, Kimmy — digo, também sentindo as lagrimas se acumularem.

—  Até, querida Joy.

Inspiro fundo antes de fechar a porta.

Sentirei tanto a falta dela... A falta deles.

Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora