42|Conhecendo a noiva

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Minha mente estava novamente voando por algum lugar distante da mesa de jantar em que me encontrava. Tinha sido difícil encarar a Primeira Dama, principalmente com sua atuação impecável de pena e consolo referentes a mim. Não sei a quem ela tentava enganar, nós ou si mesma.

Ainda serviam as entradas quando foi anunciada a chegada da noiva de Carter. Ele parecia um boneco oco, com certeza sua mente também não se encontrava na conversa.

Todos estavam arrumados formalmente, alguns membros da comitiva de Galadult já ocupavam lugares na longa mesa, e os lugares foram propositalmente escolhidos. Kimmy, Ben, Hester, Celine e eu, estávamos na parte central da mesa. Carter e a Primeira Dama estavam bem no comecinho dela.

A noiva chegou, em grande estilo, com um vestido deslumbrante e parte da comitiva. Ela era bem diferente de mim, sua pele brilhava mais, parecia sendo iluminada pela luz do sol a todo momento — mesmo durante a noite. Seu cabelo volumoso cor de mel combinava perfeitamente com sua pele negra.  Seus olhos eram cativantes.  Miranda vestia um vestido em tons amarelo-dourado, em detalhes ricos de ouro. Uma verdadeira princesa.

Naquele momento, me senti levemente intimidada. Observei Carter a todo momento, ele parecia não se importar com a presença da noiva, pelo contrário, nossos olhos se encontraram uma vez. Foi o suficiente para sentir o peso daquele momento.

— Bem vinda, Princesa Miranda de Galadult — cumprimentou a Primeira Dama, levantando-se. Em seguida, todos na mesa se levantaram.

— É uma honra estar de volta. A paisagem tecnológica e industrial fez falta, sempre fico impressionada. — Um mordomo afastou sua cadeira para que a alteza sentasse.

A Primeira Dama lançou um sorriso amistoso.

— Creio que conheçam a Princesa Miranda de Galadult, estamos hoje aqui, para celebrar o anuncio do casamento entre a Alteza  e o conselheiro-comandante militar Carter — anunciou.

A Princesa abriu um sorriso largo e alegre, ao passo que Carter apenas tentou parecer simpático.

Trouxeram varias comidas diferentes, de todos os tipos e para todos os gostos. A noiva de Carter pareceu contente com todas os pratos, ela também conversava bastante com a Primeira Dama, e vez ou outra soltava altas gargalhadas. Carter parecia entediado, porém, cumpria o papel que haviam lhe dado e dialogava com as pessoas ao seu redor.

Entregava meu prato vazio a um garçom quando a Primeira Dama ousou dizer:

— Ah, acho que não conhece nossos novos campeões. Aquele na direita, ruivo, é o Benethorian, e a moça em sua frente é a Joyce. Ouviu falar deles?

Quase engasguei com a menção a nossos nomes.

— Olá — digo, pegando um guardanapo.

Ben apenas acena.

— Vi algumas noticias sobre vocês. Fico muito admirada pela atitude nobre da srta. Joyce nos jogos do festival, foi muito bonito, uma digna vencedora — admitiu sorrindo.

— Obrigada — agradeci.

— A Alteza mencionou que gostaria visitar a ala reformada da Embaixada, que tal se a srta. Joyce lhe mostrasse? — A Primeira Dama me encarou.

Quase engasgo novamente.

— Eu? Mas, não conheço quase nada. Voc... A senhora, sabe disso — digo a Primeira Dama.

— Não se importaria em mostrar a embaixada para a Princesa, se importaria? 

Engulo em seco.

— Eu poderia leva-las, se não se importar — sugeriu Kimmy.

—  Claro, eu adoraria um passeio com a srta. Kimmy. Poderia, Primeira Dama — pediu Miranda.

— Sim, seu pedido é uma ordem Princesa!

Ufa. Agradeceria a Kimmy mais tarde.

A princesa aparentava estar verdadeiramente feliz. Creio que qualquer um em sua posição estaria, afinal de contas, ela será dona de um dos casamentos mais badalados da Cosmopolita Central. Um bônus seria o marido que a espera, além de bonito, Carter tinha boa personalidade.

O jantar acabou, e como eu era parte dos membros oficiais da embaixada, tive de esperar todos os demais convidados irem embora. Além de acenar, sorrir e ser carismática.

— Carter, poderia acompanhar a Princesa e sua comitiva até seus respectivos quartos? —Ouço a Primeira Dama pedir.

Obviamente, Carter aceitou e saiu de braços cruzados com Miranda porta afora. Eles até que pareciam noivos de verdade. Será que já se conheciam?

Bem, não importa, não mais. Carter teria que se tornar passado de qualquer maneira, é minha única opção. Melhor tentar logo, pois quanto antes ele sumir de meus pensamentos, melhor será para nós dois. Espero verdadeiramente que ele faça o mesmo, afinal de contas, agora Carter Hawllet Jonhson era noivo da Princesa Miranda Ava Moor de Galadult, herdeira do trono de Galadult e uma das mais importantes membros de monarquias existentes.

°°°

Carter

Eu pude notar o desconforto de Joy assim que minha tia fez aquela pergunta desagradável no jantar. Já era suficiente tê-la convidado, forçar um encontro entre as duas era demais. Não pude protestar, soaria rude com a Princesa, e levantaria desconfianças dos outros conselheiros. 

Neste exato momento, Miranda tagarelava sobre a embaixada e sua empolgação com a viagem. Ela era diferente de Joy, não parava de falar sobre si e suas expectativas, enquanto Joy raramente dizia algo quando nos conhecemos. Joy era mais fria, misteriosa, quieta, porém uma energia dentro de si pulsa para ser descarregada em algum momento. Miranda era o próprio sol em pessoa, emanava calor e  era um livro aberto. 

— Fazia tanto tempo que não nos vemos, mas ainda sim, parece que foi ontem que corremos pela embaixada inteira com bolinhos na mão e descalços — disse ela, melancólica.

O máximo que eu conseguia fazer era acenar  com a cabeça. 

Desde a minha drástica conversa com Joy, minha mente vaga entre as lembranças de suas últimas palavras antes da viagem. Eu havia prometido que nada nos separaria, e bem, aqui estou eu. Talvez se eu tivesse confrontado a decisão de minha tia... 

— Carter? Carter? —  chamou Miranda.

— Ah, oi, o que disse? Perdão, não prestei atenção — admiti.

— Esquece. Podemos tomar um café amanhã? — perguntou.

— Eu estarei ocupado o dia inteiro. — Era uma verdade e meia, estaria ocupado, mas não o dia inteiro.

— Por favor, tenho certeza que arranja um tempinho para sua noiva aqui.

Noiva. Claro, pois agora somos noivos.

Chegamos na porta de sua suíte presidencial.

— Amanhã às 8 da manhã. Estarei te esperando, não me deixe te esperando por muito tempo. — Entrou na suíte, sem que eu pudesse a contradizer.

No horário do treino com a Joy. Não sei se continuaríamos a treinar juntos, mas de qualquer jeito, ainda era o horário da Joy. 

Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora