9| Fora de controle

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Fizemos o trajeto de volta todo em silêncio. Fomos divididos em três automóveis. Por ironia do destino, o cadáver de Felício veio em nosso jeep.

Hester estava amolando suas adagas, arrastando uma na outra, em um barulho agudo e agonizante. 

Carter estava dirigindo e Ben olhava de cinco em cinco minutos para trás, como que em censura ao barulho de Hester.

— Vamos parar aqui. Provavelmente deve ter uma pia — avisou Carter, parando no estacionamento de uma loja de conveniência aparentemente abandonada, sinalizando para que os demais carros fizessem o mesmo.

Realmente, a maioria estava precisava limpar as mãos sujas de terra, poeira e sangue seco.

— Rick e Jared, montem guarda por aqui; Carlos e Lacerda vigiem o corpo de Felício. Celine, vá com Joy pelo outro lado e procure por uma pia, tanque ou banheiro. Hester, Ben venham por aqui — ordenou Carter.

Eu e Celine tínhamos achado um poço na parte de trás do posto abandonado. 

Já estávamos voltando para loja de conveniência, quando homens com um pano no rosto, do nariz para baixo invadiram o local. Uma mulher esguia, com a pele bronzeada e cabelos cacheados castanhos, entrou em seguida.

— Surpreso em me ver, capitão Carter? — anunciou. Foi o suficiente para a faxada de vidro estourar e voar vidro para todo lado.

Sua astucia era assustadoramente impecável.

Hester se aproximou dela, daria um golpe se já não estivesse sido acertada e no chão.

— Ora ora, se não é aquela tal de Joy! Esperava que não fosse se juntar a trupe da Embaixada, pensei até que estava com algum grupo de rebeldes — disse a mulher.

— Já chega Rebeca! O que você quer? — Carter falou.

— Nada. Vim apenas para um aviso. Se continuarem avançando, ou melhor, invadindo as terras do sul, do meu sul, eu acabo com todos pessoalmente. — avisou.

— Sabe que não posso fazer nada a respeito — afirmou Carter.

— Uma pena. Vou ter que sujar as mão; logo agora que fiz as unhas — falou sarcástica.

Os três foram embora, deixando para trás o ar de caos.

_ O Sul não está em guerra com o sudeste? — pergunto a Celine.

— Sim, por isso que a Rebeca veio; ela quer o fim das guerras, assim como todos nós, só que ela pode acabar com elas de seu jeito... 

— Vai comunicar a Primeira Dama? — perguntou Hester a Carter.

— Talvez — respondeu.

Depois da confusão na loja de conveniência, seguimos ao centro sem mais interrupções.

°°°

Chegamos na embaixada pelos fundos. 

Hester que já estava furiosa por ter sido enviada naquela "missão" , agora parecia mais calma.

— Cadê o cadaver? — falou Hester.

Jared apontou para o local.

Ela arqueou uma das sobrancelhas e puxou o saco.

— Vai aonde com isso, Hester? — questionou Carter.

— Levar o troféu para o vencedor — disse sorrindo em satisfação.

— Hester — censurou Carter.

Ela seguiu em frente. Carter, Celina, eu e Ben fomos atrás. Hester arrastou aquele saco como se estivesse arrastando um cobertor cheio de travesseiros. 

Guardas barraram a nossa entrada na sala da Primeira Dama, mas com um gesto de Carter eles permitiram.

— Aqui está — Hester empurrou o saco para perto da Primeira Dama.

— Mas o que é isso? — indagou a Primeira Dama.

— A tarefa de casa foi feita. Aí — falou Hester sarcástica.

A Primeira Dama puxou o zíper e se deparou com a cabeça de Felício.

Ela colocou a mão no nariz e boca. 

— O que te fez pensar que poderia trazer até aqui? — indagou a Primeira Dama.

— Não sei, só pensei que esse troféu você fosse gostar de colocar na sua prateleira — debochou Hester.

— Saiam. SAIAM — gritou.

A caminho do meu quarto encontrei Kimmy, que me avisou sobre a coletiva de imprensa.

— Coletiva de imprensa? Mas o que eu vou fazer lá? — pergunto.

— Nada, apenas sorrir e deixar que os outros falem — Kimmy explicou.

— Acho que eu deveria mudar meu nome de Joyce Ayales pra Joyce Fantoche — digo sarcástica.

— Não é bem assim Joy. Por enquanto é o melhor a se fazer.

Inspiro fundo.

°°°

Chegamos no auditório onde a coletiva aconteceria. Ele estava arrumado com varias cadeiras e câmeras posicionadas em direção ao palco a frente; nele uma longa mesa retangular estava disposta de 9 cadeiras, sendo a central da Primeira Dama.

Minha cadeira era a segunda a direita da Primeira Dama. A ordem da esquerda para a direita ficara Jared, Ben, Hester, Primeira Dama, Carter, eu, Celine e Carlos.

Os editores de jornais e os produtores do Jornal Oficial começavam a chegar.

As câmeras já ligadas e os painéis de luz ascendendo.

— No ar em cinco, quatro, três, dois, um — contou um dos produtores.

Muitas luzes estavam ofuscando minha visão. As perguntas direcionadas a Primeira Dama começaram. Ela respondeu todas diretamente. 

Um visor possibilitava que pudêssemos nos ver.

As perguntas sobre a captura e morte de Felício, eram dirigidas na grande maioria a Carter e Hester. Ela respondia tudo em um tom irônico e de desdém, o que rendeu olhares de reprovação da Primeira Dama.

—E a Joyce, como desapareceu? Por onde andou? — um dos editores perguntou.

Lá se foi a máscara de fantoche.

— Eu não desapareci, na verdade eu não lem... — sou cortada por outra pergunta.

—  Então forjou seu desaparecimento?— outro pergunta.

— Não, claro que não, eu perdi a memória, eu... — sou interrompida novamente.

Vários flashes de câmeras começam a disparar. Editores ao redor começam a anotar em seus caderninhos cada palavra que digo.

— Como foi que voltou? 

— Será que não é uma sósia da verdadeira Joyce Ayales — outra pergunta absurda.

— Soubemos que foi encontrada nos limites da floresta. Esteve com os nativos? 

As perguntas não pararam. Uma atrás da outra sem que eu pudesse responder por completo. Em poucos minutos o caos no auditório se instaurou. Era inevitável o burburinho e as encaradas dos entrevistadores. 

— Já chega, vamos tirá-la daqui — falou Carter cortante.

Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora