Hoje já era sábado à tarde. Devido ao meu machucado, a madame mudou meu castigo para ficar somente no quarto, incluindo realizar as refeições por lá. Agora, saio apenas para aulas e passeios de fim de tarde.
— Nossa, que problemão você arranjou, Joy — disse Tiffany.
— Nem tanto, já estive em piores, acredite — admito.
—Tomara que a caminhada acabe logo e a gente volte lá pra dentro. Odeio ficar exposta ao ar livre — reclamou Liana.
Liana não parava de se abanar e espantar os insetos que se aproximavam dela.
O dia, apesar de cinzento, estava com uma temperatura amena e agradável. Nem tão frio, nem tão quente. Um solzinho tímido aparecia entre as nuvens, e o nível de poluição no ar estava baixo.
Estávamos em uma trilha com outras garotas e a Madame Monclair. Chegamos na parte anterior do Castelo, num pequeno pátio com mesinhas, bancos e guarda-sóis.
Nos posicionamos e Liana já colocou seus óculos escuros.
— Essa é a melhor vista — cantarolou Tiffany.
— Mas não tem nada, apenas arbustos e um celeiro ali na frente. Além dos caminhões de carga, ali atrás. — disse eu.
— Ah não, Tiffany está falando dos garotos trabalhando — explicou Liana.
Tiffany me lançou um sorriso preguiço.
Percebi que não era só ela, a maioria das garotas se juntava perto do cercadinho para observar os jovens trabalhando.
— Isso é tão tosco — disse Liana.
— Eles estão só trabalhando — digo.
— Eles são uns piteis. Vem cá, Joy — chamou Tiffany.
Me aproximei dela.
— Sabe aquele mais alto de cabelo escuro? Ele é o Joe. Aqueles ruivos são Petter e Derek, o bronzeado é o Luke e por fim, Eric, o loirinho. — mostrou.
Eric. Senti uma ardência nas bochechas, estava corando.
Lembrei de Carter em seguida e percebi que esse tipo reação me levaria a um final errado.
Voltei para realidade.
— Como sabe disso? — pergunto.
— Ah, digamos que as informações correm rápido por aqui — respondeu Tiffany.
Tiffany estava tão entretida, que precisava se abanar de cinco em cinco minutos.
— Cora está de olho no loirinho, o Eric — cochichou Tiffany.
— Está? — digo, rápido demais.
— Sim, mas como sabe, não podemos namorar. Pelo menos não aos olhos de todos, se é que me entende.
— Aham — respondi.
Conforme ficamos ali, percebi que estava tempo demais admirando Eric.
Ele reparou e logo virei o rosto, para disfarçar.
— O que aconteceu na sua mão? — perguntou Tiffany.
— Foi lavando a louça, mas está tudo bem, estou cuidando — contei.
— Precisa tomar mais cuidado, damas não podem aparecer machucadas em público. É feio — comentou.
— Feio?
— Sim, é deselegante. Não passa uma boa imagem, parece que não temos modos.
— Mas foi um acidente, além do mais tinha motivos pra isso acontecer.
— Eu sei. Só estou dizendo — disse ela, e se deslocou para mais próximo da cerca.
°°°
Tinha planejado uma forma de escapar daqui.
Estava agora a caminho da dispensa, no andar de baixo, para avisar Eric.
— Eric? — o chamo.
— Jo... Dayse — diz confuso.
— Tudo bem, agora que já sabe pode me chamar de Joy — digo.
— Joy, o que foi? Aconteceu algo? — pergunta, colocando outros sacos de arroz de lado.
— Tem um minutinho? É importante — peço.
— Me acompanhe — acena.
Voltamos para aquela saleta, do dia em que ocorreu toda confusão.
— Decidi como vamos partir.
— Ótimo, e como será?
— Na próxima falha da fornalha. Estou com tudo pronto, arrumei o mínimo que trouxe para partir. — explico.
— Por onde a gente vai sair? E como vamos fazer para embarcar num avião?
— Calma. Eu recuperei meu passaporte , mas provavelmente a Madame vai notar isso. Por tanto, essa fornalha tem que dar problema o mais rápido possível. Vamos sair pela portinha que você pega a carga do caminhão. Decorei o mapa do nosso distrito, tem uma estação ferroviária aqui perto, podemos chegar lá a pé. Pegando o trem, vamos para o próximo distrito. Seguiremos ao norte de trem também. De lá fica mais fácil continuar subindo para Pandora, vamos de barco. Entrando lá, não teremos mais problemas. — finalizo.
— O.K. Acho que posso dar um jeito na fornalha. Amanhã cedo esteja pronta, desça aqui o mais rápido possível.
— Eles só liberam minha saída pra cozinha às 6:00 horas. Antes é impossível.
— Tudo bem, então esteja aqui às 6:10.
Inspiro fundo.
Teria que contar muito com a sorte, mas provavelmente daria certo.
— 6:30, é menos arriscado.
— Então esteja aqui às 6:30. Outra coisa também, você sabe, assim que perceberem que sumiu vão espalhar seu rosto pelo distrito inteiro — avisou.
— É de se esperar. Mas planejo não mostrar meu rosto, e também espero estar longe daqui. — digo.
— Até amanhã, Joy — diz, e volta a seu trabalho.
Voltando para minha solitária, peguei as malas debaixo da cama e comecei a arrumar as coisas.
Como eu não trouxe muita coisa, seria fácil separar o que levar. Peguei a menor maleta de mão e fui colocando primeiramente as facas. Eu as priorizava mais, nunca se sabe o que vamos encontrar pela frente.
Depois, peguei uma calça, um casaco, roupas intimas e uma echarpe de lã. Colocaria uma roupa confortável por baixo do uniforme amanhã. Como passaria pela dispensa, pegaria frutas, cereais e água.
A maleta, apesar de espaçosa, era pequena.
Tinha tudo organizado, agora só precisava dormir, pois provavelmente seria minha ultima noite boa em algumas semanas.
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Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDA
Fantasy- Deadly Mirrors - Atravessando Espelhos |CONCLUÍDA| [PLÁGIO É CRIME!!] Sobre a obra: Um drama envolvendo política e família, triângulos amorosos e juras de vingança? Sim, você definitivamente está no livro certo! Bem, este é um típico thriller on...