26| Ambiente hostil

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Havia recebido ordens de não circular pelos corredores sem minhas "novas roupas".

Era praticamente um uniforme. Um vestido longo, até a canela, branco; sapatos com salto pequeno, preto e afivelado; meias brancas; e grampos, muitos grampos.

Tentei fazer um coque parecido com o das meninas de hoje mais cedo, porém o resultado não ficou tão bom.

Agora já considerava poder sair do quarto. 

Andei pelos corredores e todos eram iguais: poucas portas, paredes brancas, piso escuro e algumas janelas.

No salão por onde entrei, a decoração da fim de ano já era visível.

Kimmy me contou que não celebram em datas especificas, e sim durante o mês todo.

Este mês era em homenagem a Virtude do fim da vida e começo de um novo ciclo. Bem interessante.

As cores da Virtude eram vermelho, dourado, branco e prata, combinavam com a estação fria.

— Olá — uma menina se aproximou.

— Oi, você fala minha língua — digo, surpresa.

— Temos aulas didáticas sobre idiomas e o estrangeiro, a maioria das garotas fala, outras apenas entendem, e outras ainda estão tentando pegar o jeito. —  explica.

A garota era magra, alta e a pele morena, bronzeada, porém com um cinza indicando a falta de sol. Seu cabelo era preto e estava preso em um coque, como o das outras. Um rosto delicado e olhos parecidos com os meus.

— Prazer, sou a Liana. Você vai precisar de amigos aqui —  disse ela.

— Sou Joy, a estrangeira. —  rio.

— Por aqui —  ela indicou o caminho.

— Esta roupa pinica um pouco —  digo me coçando.

— Você se acostuma. Mas então, o que veio fazer aqui? — perguntou enquanto caminhávamos. Sua postura super ereta e seus passos ágeis e delicados.

— Foi um engano, provavelmente uma armação. Longa história —  desconversei.

— Chegamos, esta é a saleta de refeições. Temos um chá da tarde agora. —  avisou.

Era uma sala pequena, com uma única mesa grande e poltronas perto das paredes.

— Vamos nos sentar. — arrastou sua cadeira, e fiz o mesmo.

Não muito tempo depois, outras meninas começaram a chegar.  Geralmente em grupinhos de quatro, trios ou duplas. Raramente uma aparecia sozinha.

— Tiffany —  acenou Liana sem elevar muito seu tom de voz.

— Patdayah —  disse Tiffany, em hyntzkii.

— Patdayah, xespa yl hedult Joy. — disse Liana, em hyntzkii também.

— Yeobatisi! 

— Desculpa, eu não entendi nada — disse envergonhada.

— Ah, tudo bem. Eu disse: bem vinda. —  explicou Tiffany.

—  Obrigada.

— "Patdayah" é boa tarde, "yeobatisi" é bem vinda. "Xespa yl hedult Joy" significa "esta é a Joy" —  ensinou Liana.

— Obrigada por me explicar —  agradeço.

— Obrigada é "yeoprin" —  diz Tiffany.

— Yeoprin — digo.

O chá da tarde seguiu bem. Todas as moças conversavam em baixo tom. 

Meu cabelo se destacava das demais garotas, todas com cabelo preto, ou bem próximo do preto, e eu com meu cabelo quase ruivo.

— Seu cabelo é natural? — perguntou Tiffany.

— Sim. Por que todos me perguntam isso? 

— É raro moças com cabelos diferentes de preto. A maioria que nasce loira, ou ruiva, tinge de preto ainda criança. Algumas até usam métodos questionáveis —  explicou Tiffany.

— Que tipo de método? —  pergunto.

— Queimar o comprimento do cabelo, ou passar cinzas neles —  disse Liana.

 — Para que isso? 

— Não sei, acho que nossa sociedade se acostumou com isso, e como pode perceber, todas devemos ser "iguais" — disse Tiffany.

— Não vou tingir meu cabelo, nem sou daqui —  digo.

— Sim, realmente — Liana fala, e começam a rir baixo.

Percebo que estou derramando chá na roupa.

— Ahh, estão vendo, nem sei colocar chá na xícara direito — digo me limpando.

— Hmm, seu perfume aroma erva doce é encantador — diz Tiffany e começamos a rir.

Elas eram legais, talvez pudesse relaxar um pouco a mente enquanto estava com elas. Isso era bom.

Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora