30| Hyntzkii

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Joy

Os dias tem passado lentamente por aqui. Sem minha rotina na Embaixada, sempre parecia faltar algo. O fuso horário também me deixava noites acordada e sonolenta durante o dia.

Todas tinham um cronograma. Somos divididas em três grupos, assim as aulas não ficam super lotadas.

Praticamente todas minhas aulas eram com a Tiffany, em algumas  Liana nos encontrava.

"7:10 - café da manhã

8:30 - aula de etiqueta

9:50 - chá da manhã

10:30 - aula de moda feminina

11:30 - aula de dança

12:50 -  almoço

14:00 - aula de comportamento

15:00 - aula de Hyntzkii

16:15 - aula de Pandorano

17:00 - chá da tarde

21:00 - janta

23:00 - ceia. "

Este era o meu cronograma. Caso faltasse alguma aula seria punida com serviço na cozinha, ou na limpeza.

Agora me encontrava na aula de Hyntzkii.

Tinha aprendido que "Halal" é equivalente a "repitam", então toda vez que a professora — a Madame Monclair — dizia "halal", era para repetir.

—  Halal —  disse ela, se inclinando em minha direção.

— Pats, pat, patis —  digo.

—  Patisi —  corrige.

— Patisii— repito.

—  Pa-ti-si— diz ela, novamente.

— Patisí? — repito, novamente.

Ela me olha com reprovação.

A aula segue e sinto dificuldade.

Hyntzkii era uma língua complicada, mudando uma única letra de lugar, ou removendo ela, formavam-se novas palavras. Por exemplo: "pats" era "boa", "pat" era "bom" e "patisi" era "bem".

A aula finalmente acabou e eu estava extremamente confusa.  Agora viria a aula de pandorano, e espero ser boa nessa.

— Tudo bem, você pega o jeito. Eu peguei, então você também consegue — disse Tiffany, se aproximando.

— Mas Hyntzkii não é sua língua materna? —  pergunto.

— Não, meu pai é Hyntzno, mas minha mãe é da Republica de Dalai, na Eurasia, na porção asiática. Vivi lá até meus 15 anos, depois, vim para cá com meu pai para aprender sobre a cultura dele e agora estou aqui. 

— Mas você está no Castelo das Damas por vontade própria? —  pergunto.

—  Sim, é uma honra para mim. Os ancestrais maternos de meu pai vieram para cá e pretendo manter essa tradição. Quando completar meus 25 anos, voltarei a Republica de Dalai e me casarei com o marido que a família de minha mãe escolher. —  disse sorridente.

 — Uau, isso é uma vida bem planejada. 

—  Sim, cresci ouvindo isso, acreditando nisso. Agora é uma meta a alcançar, um desejo e uma alegria pra mim. 

— Eu realmente não sei o que o futuro me aguarda. Se eu te contasse o que tem acontecido comigo, você me acharia louca — digo.

— Todos somos um pouquinho loucos no fundo. É nossa essência, é o que nos move — diz ela.

As atividades programadas seguiram bem. 

Eu, Tiffany e Liana fizemos as últimas atividades juntas. 

Durante a janta, percebi que uma menina chamada Cora não parava de me olhar e comentar — em hyntzno — com as amigas.

Tentei ignorar, mas aquilo me incomodava. A medida que mais meninas iam cochichando, Liana e Tiffany perceberam e não gostaram.

— Chubulla, manepydor kada! Naprih, meiquissivol Cora-yni! — Liana elevou a voz.

— Maiol, jasp do preh — Cora pareceu cuspir as palavras.

A mulher que observava nosso comportamento durante as refeições, levantou o olhar para nós.

— Ao menos diga isso na cara dela! Não seja uma garota mimada e insolente sem coragem! — dissse Tiffany.

Os olhos felinos e intimidadores de Tiffany começaram a fitar Cora.

Cora era branca e levemente rosada, os olhos azuis contrastavam  com o cabelo preto. A raiz crescida indicava que Cora era loira.

— Dizer o que? Que essa estrangeira desprovida do mínimo de nossa cultura é irritante? — debocha.

— E você acha que eu queria estar aqui? Não sei se percebeu, mas minha estadia foi providenciada as pressas, e contra minha vontade, por tanto, Cora, pode apostar que eu faria de tudo pra não ter que olhar mais para sua cara. Já que não gosta tanto assim de mim, fale com sua madame, para me enviar de volta a meu país! —  retruquei.

— Você é desprezível — disse ela, com desgosto.

Peguei o purê de frutas vermelhas e caminhei até onde Cora estava sentada, em seguida despejei tudo sobre ela.

— Eu não diria desprezível, deselegante no máximo —  falei perto de seu ouvido. 

Cora ficou furiosa. Estava toda suja, escorria pure por todo lado. Tiffany, Liana e mais algumas meninas começaram a rir. 

A moça que nos observava levantou e me pegou pelo braço. Ela me arrastou para fora da sala.

Chegando no quarto ela mandou eu pegar minhas coisas. Talvez fosse ser deportada, isso seria bom.

Ela falou com a madame e logo em seguida continuou me arrastando. 

Chegamos em uma ala mais vazia. Ela abriu uma porta, aparentemente um quarto, e praticamente me jogou lá dentro.

— Não sabe conviver com as demais, então ficara aí até aprender a se comportar —  avisou.

Em seguida, ouvi ela trancar a porta.

—  Ei, não pode me prender aqui! NÃO PODE, ESTÁ ME ESCUTANDO, EI! —  grito, batendo na porta.

Eu estava numa solitária. Grande dia!

O quarto era pequeno, tinha apenas uma cama, uma mesinha do lado dela e uma abajur. Apenas isso.

Deitei na cama e fiquei pensando.

Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora