Capítulo 88

1.2K 133 49
                                    

RAFAELLA

Terminei meu expediente e esperei pela Gi na recepção do edifício da minha agência. Ela havia me ligado avisando que estava a caminho e cá estou eu, lhe aguardando. Estranhei sua voz na ligação mas não fiz questão de lhe interrogar, pois eu sabia da reunião que ela teria mais cedo. Talvez seja esse o motivo de estar tão seca no telefone.

Não demora muito até que eu ouça a buzina do meu carro do outro lado da calçada. Os vidros escuro fumê, todos fechados. Gizelly nem ao menos arriou a metade do vidro, como sempre fazia, para mandar-me beijos ao vento enquanto me aproximo para abrir a porta.

Assim que entro, me sento e antes de puxar o cinto de segurança, me inclino para lhe cumprimentar com um selinho mas logo Gizelly liga o carro e anda com ele. Estranho mais uma vez aquela situação e resolvo soltar o que está preso em minha garganta.

- Não vai me dar beijo? -

- Agora o carro ta andando.-

- O que ta pegando, Gizelly?-

- Em casa a gente conversa.-

Eu não sei o que pensar nem o que dizer, a última frase curta e grossa da Gi me fez gelar. O que aconteceu nessa reunião? Vou o caminho todo de olho na tela do meu celular, sem prestar atenção em nada. Só pensava no porquê da Gi estar tão seca. Sempre que passeamos de carro, tenho o costume de apoiar minha mão em sua coxa. Vez ou outra, Gizelly cruza seus dedos nos meus e deixa um beijo estalado em meu dorso. Mas dessa vez, foi diferente. Não senti a mão da Gi pegando na minha hora alguma.

O resto do caminho foi todo em silêncio, incluindo a subida pelo elevador. Entramos em casa e Gabi estava sentada na mesa dando a janta das crianças. Observei os passos da Gi indo até a cozinha e tirando da geladeira sua verdinha, tive a certeza de que tinha algo errado. Gizelly não bebe meio de semana, apenas uma ou duas taças de vinho para me acompanhar de vez em quando. Puxei uma cadeira e me sentei na mesa esperando Gabi terminar com eles.

- Ei, tudo bem aqui?- Pergunto enquanto Frâncis estica os bracinhos para ser puxado de sua cadeira.

- Tudo sim, hoje esse mocinho deu trabalho.-

- Como assim? Aprontou?- Pergunto já com Frâncis em meu colo.

- Não dormiu de tarde, chorando atoa. Dei um remedinho de dor pra ele. Pensei em ser alguma coisa.-

- Fez bem.- Digo medindo sua temperatura com minha mão. - Deu febre?-

- Ficou quentinho mas depois do remédio a temperatura não subiu mais.-

- Ai que bom.- Suspiro aliviada. - E ela? Tudo certo?-

- Tudo sim. Dormiu que uma beleza.-

Enquanto converso com Gabi sobre o dia dos meus filhos, observo por cima os movimentos de Gizelly pelo casa. Andava de um lado para o outro virando a garrafa de cerveja na boca até que entrou pelo corredor e não saiu mais. Minutos depois Gabi se despede e vai embora. Levo meus filhos para banhar e os deixo na sala assistindo seus desenhos enquanto vou até meu quarto tomar meu banho.

Gizelly havia tomado seu banho e já estava deitada na nossa cama de olhos fechados e o antebraço sobre os olhos, contra a luz. Enrolo uma tolha em meus cabelos e outra em meu corpo indo em direção ao quarto para passar meus cremes corporal noturno.

- Não vai jantar?- Pergunto assim que a vejo mas não recebo a resposta. - Gi? Não vai falar o que houve?-

- O Pierre estava na reunião hoje.-

Gizelly finalmente senta na cama e me encara mas a resposta não me surpreende, uma vez que eu já sei sobre a reunião e sobre a presença do mesmo. O que me surpreende é ela ter chamado ele pelo nome, já que ela o intitula como 'o filho do Carlos'.

- Ta, mas e ai? Eu já sabia que você ia encontrar ele hoje. Que tinha uma reunião.- Termino de passar os cremes e retiro a toalha dos cabelos.

- Ele estava de jaqueta.- Gizelly diz de uma só vez e meus olhos arregalam.
- A jaqueta que estava aqui em casa aquele dia e você disse que era do Igor.-

Quando penso em abrir minha boca para responder, ela me interrompe.

- Não adianta negar, almocei com o Igor hoje e ele me disse que não tem jaqueta nenhuma.-

- Eu não vou negar, a jaqueta era dele sim.-

- E mentiu por que, Rafaella?-

- Eu ia te falar pra que, se já resolvemos esse assunto?!-

- Você disse que era do Igor.-

- Você queria que eu dissesse que a jaqueta era de um outro homem? Pra que isso?-

- Por que não me disse logo quando conversamos e você me contou dele?-

- Mas, Gizelly foi tão irrelevante que eu nem me lembrava mais dessa jaqueta. O que é agora? Não já conversamos sobre isso? Não decidimos esquecer tudo? Assim fica difícil, qualquer coisinha você desenterrar o que aconteceu lá atrás e jogar na minha cara.-

- Eu não to jogando na sua cara.-

- Ah, que bom né?! Seu telhado também é de vidro.-

- Rafa, eu não to julgando o que você fez e nem jogando na sua cara.-

- Por que ta arrumando confusão comigo, então?-

- Ele veio aqui aquele dia? -

- Eu já falei que não houve nada além de encontros na orla. Eu nunca o traria aqui. Ta maluca?-

- É mas....-

- Vai! Fala! Fala que eu fui lá. Vai ficar presa nisso a vida toda? Se for me avisa, não quero ficar passando por isso.-

- O que quer dizer?-

- Quero dizer que eu vou embora, Gizelly. Eu amo você, mas se estou te fazendo mal é melhor eu me afastar e te deixar sozinha.-

Gizelly continua sentada na cama sem dizer uma palavra. Vou até o closet, visto minha camisola e em seguida penteio meus cabelos. Ao voltar para o quarto, Maitê entra pela porta e Frâncis atrás resmungando pedindo colo. O pego e ponho sua chupeta em sua boca e o pequeno deita em meu ombro. Enquanto isso, Gizelly sobe Maitê na cama e começa a brincar com nossa menina.

Vou até a sala com meu filho e me sento no sofá com ele em meu colo. Esperando-o dormir para então eu o colocar em seu quarto. Meus olhos fitam na tv ligada mas não enxergo nada do que está passando na tela. Eu não teria forças para fazer o que minutos antes eu descarreguei sobre Gizelly no quarto mas ela não me deixava outra escolha. E isso dependia somente dela.

Felizes Para Sempre ?¿ (GIRAFA)Onde histórias criam vida. Descubra agora