Capítulo 68

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RAFAELLA

Nossa manhã de domingo foi um pouco agitada, depois do café arrumamos nossas coisas para pegarmos a estrada. Queríamos evitar trânsito pois algumas famílias também voltavam de viagem e chegar mais cedo em casa para descansar, afinal, amanhã é segunda de novo e temos que trabalhar.

Depois de almoçarmos nos despedimos na casa mesmo, pois em um determinado caminho ambos iriam tomar rumos diferentes. No começo da tarde, já no caminho, paramos em uma cafeteria na estrada para comermos algo. Gizelly, Gabi, as crianças e eu. Depois seguimos em frente e a próxima parada só a casa onde Gabi mora. Gabi que então andava saindo com Pierre, conheceu outro rapaz e se afastou do mesmo. Gizelly foi a viagem toda com um olhar perdido na estrada, diferente da ida que tagarelou junto com Gabi sem nem me deixar falar, voltou calada e parecia que nem prestava atenção no que falávamos.

Chegamos em casa por volta das seis da tarde, demos banho nas crianças e deixamos de barriga cheia antes de colocarmos os dois no quarto e hibernar. O cansaço era visível em seus olhos. Enquanto eu tomava meu banho, Gizelly preparava algo para comermos e assim que terminei, ela foi para o banho e setamos na mesa para lanchar. Na mesa só se ouvia o barulho do suco descendo pelas nossas gargantas e barulho das torradas entre os dentes. Gizelly não disse uma palavra e eu respeitei seu momento.

Quando terminamos, deixei que ela se levantasse da mesa enquanto fui guardar as coisas que usamos e levar as que sujamos. Observei seus passos indo em direção a sacada e se sentar na poltrona, fitando o mar do lado de fora do condomínio. O sol já tinha se posto, então só se via as luzes dos postes e dos quiosques, e ouvia o barulho das ondas.

Terminei minha tarefa e fui até o armário retirando duas taças e enchendo de vinho. Desliguei as luzes deixando acesa apenas a luz de trás dos armários e o abajur da sala, como sempre fazíamos ao sair de casa, ou quando estamos dentro dos quartos. E fui em direção a ela que estava com a mente tão longe quanto o barulho das ondas e as buzinas dos carros.

- Quer conversar, meu amor?- Pergunto entregando-lhe uma taça, me sentando em seu colo.

- Eu amo vocês!- Ela diz num suspiro, levando a cabeça para trás no encosto da poltrona. - Eu não quero que nada aconteça com vocês. Me desculpa por ter escolhido essa profissão. Eu juro que se eu pudesse voltar atrás, eu escolheria ser professora.-

Gizelly dispara de uma só vez e eu sinto como se o ar que estava preso o dia todo em seu peito, fosse solto e me pego rindo na sua última frase.

- Por que isso agora, meu bem?- Pergunto levando a taça em minha boca.

- Já passamos por tantas coisas por causa dessa bendita profissão, você nunca está em paz.- Faz uma pausa para tomar seu vinho. - Agora temos os pequenos, a responsabilidade cresceu e se acontecer alguma coisa com vocês eu não sei se aguentaria.-

- Amor, olha pra mim.- Pego em seu maxilar e trago seu rosto para encarar o meu. - Chegamos até aqui, olha quantas coisas passamos... Mas passamos! Não vai ser diferente agora. Eu tô contigo, suas amigas estão contigo, seus filhos, sua família. Nem pense que está sozinha porque não está. Hum?? O que aconteceu agora?-

- A Clara me mandou mensagem aquele dia pra falar que também recebeu mensagens de ameaças assim com a Tábata.-

- E você acha que pode ser....-

- É ele, Rafa. Ou são eles, não sei. Não sei se ele ta tendo ajuda de alguém lá de dentro ou aqui de fora. Não sei..-

- Ei, calma. Só vou te fazer uma pergunta. Por que ele não mandou essas mensagens pra você até agora?-

- Porque ele quer me atingir e a única maneira de isso funcionar é mexendo com vocês. Com as pessoas que eu dou minha vida.-

- Não! Ele não manda pra você porque ele sabe que com você ele não pode! Ele tem medo de você, Gi. Eu já te disse isso, ele ta desesperado porque ele sabe quem é você. Então para de se abater por isso, eu não gosto quando você reage assim sabendo quão forte você é...-

- Mas...- Ela me interrompe e eu ponho um dedo em seus lábios calando-os.

- Deixa eu terminar. Não tem nada haver a escolha que você fez na sua vida. Você é advogada porque tinha que ser assim. E eu amo você assim, eu me encantei por você assim. Me sinto super orgulhosa em te ver saindo de casa vestida com sua farda de advogada ou quando usa sua voz de advogada, eu amo.- Digo fazendo um carinho em seu queixo. - Não faz isso com você mesma. Se orgulhe! Você é forte, meu bem. Me sinto segura ao seu lado, sei que nada vai me acontecer quando você ta aqui com a gente. Entenda isso.-

Digo tudo o que eu tinha pra dizer e a deixo sem reposta. Viro a taça de vinho em minha boca finalizando o líquido vermelho escuro e a observo fazer o mesmo. Pego em sua mão que antes fazia um carinho suave em minha coxa e trago até a boca e deixo um beijo estalado. Logo, a vejo pôr a taça vazia na mesa ao lado e em seguida pegando a minha da minha mão e pondo lá também. Sinto seus braços envolver minha cintura puxando-me mais para perto, ー Se é que é possível. ー E seus lábios se encontram com os meus.

Seguro forte em seus cabelos que antes meus dedos passeavam por eles. O beijo era lento, mas não era um beijo de maldade ou de segundas intenções. Era um beijo de ternura, cumplicidade e a resposta de que estou ombro à ombro com ela.

- Te amo! - Me diz assim que finaliza o beijo.

- Eu amo muito mais! - Respondo deixando um último selinho.

Aproveitaríamos esse momento até o outro dia se um choro manhoso não viesse do corredor.

Felizes Para Sempre ?¿ (GIRAFA)Onde histórias criam vida. Descubra agora