Capítulo 26

10.1K 713 14
                                    

Elisabete.

Três semanas depois

Sabe quando você tenta a todo custo fazer o tempo ir mais devagar?

Eu queria.

Na verdade, essas últimas três semanas foram confusas e torturantes. Tive que admitir que realmente deixei meus sentimentos tomarem um rumo catastrófico. Não sabia o porquê ou como fui me apaixonar por aquele idiota frio que acabaria toda essa loucura, hoje.

Confesso que chorei antes de dormir porque sabia que não poderia fazer nada para mudar essa situação. Eu não poderia fazer com que ele também gostasse de mim, mesmo que às vezes Henrique agisse como se sentisse o mesmo.

Ele veio se afastando um pouco, mas ainda conversávamos e saíamos às vezes. Ele me mostrava as estrelas e contava histórias que eu nunca ouvira falar.

Descobri no último fim de semana que o homem ainda tocava e ele fez questão de me fazer ouvi-lo.

Talvez tenha sido aí que descobri esse sentimento sem sentido pelo meu chefe. Henrique me olhava como se quisesse dizer algo, porém não falou nada.

Quando acordei, lutei contra o meu corpo para levantar. Mesmo sabendo que no final do dia eu não seria mais nada além de uma simples funcionária.

— Por que não fala para ele o que está sentindo? — Questionou Mariana preocupada comigo.

Eu contei para ela assim que entrei pela porta de casa, depois que ele me deixou lá embaixo. Minha mente estava inquieta e eu não sabia o que fazer.

— Não sonha, Mari, você acredita que Henrique vai gostar de mim? — Perguntei sem ânimo algum. — Ele é blindado contra sentimentos.

— Isso não é verdade. Ele sente o mesmo, só é mais teimoso que você.

Não queria entrar em um debate com a minha irmã a respeito disso. Henrique e eu só interpretamos bem o papel de amantes e agora tudo isso acabou. Era doloroso aceitar isso, porém, sabia me recuperar de um baque.

Terminei o meu café e logo saí de casa. Eu sabia que ele não viria hoje, então...

Assim que saí pela portaria, surpreendi-me com ele encostado no capô, como de costume. Já fazia três dias que eu ia de ônibus para o trabalho, e justamente hoje o homem decidiu vir. Talvez ele quisesse acabar com tudo antes de chegar à empresa para facilitar as coisas. Caminhei com cautela e a cada passo que eu dava, meu peito ameaçava pular do peito.

— Bom dia, Elisabete. — Disse sério.

Um flashback se passou pela cabeça de quando ainda não nos dávamos bem. Eu odiaria voltar a odiá-lo, quando agora meu coração já era seu.

— Bom dia. — disse com receio. — O que está fazendo aqui?

Minhas mãos estavam suando frio e a qualquer minuto eu poderia ouvir uma daquelas grosserias matutinas, mas ele apenas me observou. Com um simples movimento, Henrique afastou uma mecha de cabelo para trás da minha orelha e só isso foi necessário para que ele me ganhasse.

— Não vamos para o escritório agora. — Disse com um sorriso.

***

Fiquei surpresa quando Henrique falou que não iríamos diretamente para o trabalho e depois deu aquele sorriso. Eu esperava uma conversa séria de "término" ou qualquer outra coisa, mas o homem me trouxe para um haras onde havia vários cavalos lindos.

— Lembro que você queria vir a um lugar desse, e pensei que gostaria de passar um dia aqui em vez de ficar em uma sala fechada com um chefe chato. — Ele falou.

Já era difícil suportar o final da mentira que nos mantinha unidos, agora ele estava tornando tudo pior sendo atencioso e fofo. Talvez ele quisesse acabar com isso de um modo legal, mas não estava sendo legal para os meus sentimentos e eu não podia dizer nada.

— Você perderá um dia de trabalho para ficar aqui comigo? — O questionei tentando ser o mais normal possível.

— Sinceramente, estar ao seu lado é bem melhor que estar fazendo qualquer outra coisa.

Eu estava quase acreditando que esse era um modo novo dele me torturar. Como alguém poderia falar essas coisas antes de um término?

Depois daquele momento, quase torturante, passeamos pelo imenso local. O lugar era de um amigo que administrava o haras. Era a primeira vez que eu cavalgava e estava feliz. Em certo momento, até esqueci de tudo, pois pela primeira vez nós parecíamos um casal real.

Eu realmente gostava de cavalos e tudo o que tem na natureza, e falei isso em uma das nossas conversas, porém eu não pensava que o homem estava prestando atenção em mim.

Fomos comer em um restaurante não muito longe, e conversamos sobre banalidades, deixando de fora os assuntos sobre trabalho.

Como em um vício, meus olhos procuravam as horas e as amaldiçoava por estar passando rápido demais. Se não acabasse logo com essa tortura, acabaria me iludindo ao pensar que ele estava prolongando os momentos só para também não ter que oficializar as coisas.

Ao final da tarde, estávamos em um dos pontos mais calmos da praia. O sol estava se pondo e já estava preparada para o que vinha, eu só estava achando estranho toda essa demora para acabar com a minha tortura.

Sim, eu poderia dizer a Henrique o quanto ele me estragou nesses últimos meses. Que eu sentia algo muito forte por ele, e que não aceitaria acabar com o que tínhamos. O problema era que meu chefe não sentia o mesmo por mim e estaria cometendo uma tolice tremenda em me sujeitar a isso. Ele já deixou claro que nunca voltaria a amar uma pessoa, e mesmo vendo agora seu lado sensível, sabia que isso não significava que o homem sentia o mesmo por mim.

Seria difícil vê-lo todos os dias e sentir como se meu coração estivesse se partindo ao meio só porque não posso tê-lo.

— Elisabete. — Chamou-me despertando-me dos meus pensamentos. — Tenho que lhe pedir desculpas por tudo.

— O quê? — Eu estava realmente confusa. Não sabia o porquê ele estava pedindo aquelas desculpas se hoje o homem foi perfeito comigo.

— Você pode ter esquecido, mas fui um verdadeiro grosseiro com você no dia que começou a trabalhar para mim. — Henrique estava com um meio sorriso no rosto, e me olhava de uma forma intensa, como se pudesse ver o que tinha dentro de mim. — Você disse que eu teria de pedir desculpas, no final, quando reconhecesse ser boa.

— Eu estava chateada naquele momento e confesso que queria provocá-lo.

— Eu sei, por isso gostei de você. — Minha surpresa foi evidente, e o frio do fim do dia já estava me afetando, o que fez com que ele me desse seu blazer. — Ninguém nunca tinha feito isso e me surpreendi com a sua determinação. Porém, minha mentira nos levou a outro rumo, e... — Sabia que ele queria dizer algo, mas parecia com medo. Por quê? — Você é alguém especial, Elisa, e trabalhar ao seu lado é inspirador. — Um embrulho ficou na minha garganta, mas não deixei que as emoções tomassem conta do meu corpo. Não agora. — Você merece alguém que reconheça o quão incrível é.

— Por que está falando isso?

— Porque...

— Henrique!

— Temos que ir. — Disse levantando-se do lugar. Ele estava mais estranho que o normal. Dava para sentir o quanto ele estava inquieto, no entanto, estava se fazendo de duro novamente. — Hoje acaba a nossa mentira. Você está livre. Iremos nos tratar como colegas, nada mais que isso. — Falou sem olhar para mim.

O observei por alguns instantes, sem poder respirar normal. Meu peito estava tão pequeno que parecia que era do tamanho de uma formiga.

— Se você quer assim. — Sussurrei triste.

A MENTIRA DO CEO: Contrato com o chefeOnde histórias criam vida. Descubra agora