Capítulo 46

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Elisabete

Não vou mentir, senti um pouco de receio quando chegamos à casa de Henrique. Eu não sabia o que estaria por vir e se algo aconteceria para que tudo desse errado. Eu sabia que isso era novo para ele e que o homem sentia certa dificuldade em conhecer pessoas.

Minha mãe era um amor. Sempre foi simpática com todos e saber disso me tranquilizava um pouco. Claro que ela nunca gostou do Miguel, mas agora eu entendia o porquê.

Fiquei surpresa com o bom humor dele assim que abriu a porta. Certamente Henrique queria passar uma boa impressão. Estávamos na transição para morarmos juntos, e tudo isso parecia maluquice.

Senti que Dominic, assim como a minha irmã, estava apreensivo. Provavelmente também não passou pela experiência de ser apresentado a mãe da namorada. Acredito que os irmãos Vilella não tenham tido muitas namoradas ou que nunca avançaram na relação como agora.

A noite estava alegre e muito tranquila, até a campainha tocar e Catarina Vilella aparecer na sala de jantar varrendo o lugar com seus olhos curiosos.

Não sabia que ela viria, e mesmo não tendo nada contra a mulher, atualmente, sabia que ela já causou muita dor de cabeça para mim e minha irmã no passado.

Não sabia como ela agiria, e todos pareceram surpresos com a sua aparição.

Dona Julia sempre foi uma mãe pacífica e compreensiva, a não ser é claro quando fazíamos merdas ou quando alguém prejudicava e humilhava a nossa família.

Milhares de situações se passaram por minha cabeça, e em todas elas a noite terminava com discussão e dor de cabeça para todos. Porém, decidi ser positiva e rezar para que o senhor Deus nos ajudasse com essas duas.

— Eu estava ansiosa para conhecer a mulher que criou esses dois homens incríveis. — Falou minha mãe, levantando-se para cumprimentar Catarina. — Você está de parabéns.

A mulher abriu um sorriso largo e apertou a mão dela, também a cumprimentando.

Eu estava me sentindo naquele jogo, campo minado, onde você não sabe onde pisa e a qualquer momento uma bomba poderia explodir e acabar com tudo.

— Obrigada, meus meninos são mesmo ótimos. — Falou orgulhosa. — Mas confesso que não fui uma mãe exemplo. Quando Henrique nasceu eu nem sabia o que fazer direito. Quem me ajudou em tudo foi minha mãe.

Todos que conheciam Catarina, estavam achando estranha toda a sua simpatia. Olhávamos uns para os outros, tentando descobrir o que poderia ter acontecido com a mulher arrogante e preconceituosa que eu conheci.

— Mãe, sente-se aqui. — Pediu Henrique puxando a cadeira para ela.

Servimos a comida, enquanto as duas batiam um papo. A mesa era grande, Henrique e eu estávamos lado a lado, e Mariana e Dominic à nossa frente.

Não falamos nada, apenas observamos a interação das duas.

— O que aconteceu com a sua mãe, ela foi abduzida por extraterrestres? — Perguntei sussurrando a meu namorado.

— Talvez. — Ele respondeu.

— Seu marido não virá? — Questionou minha mãe.

— Samuel não é de jantares familiares, não mais. — Falou cabisbaixa. — Você ficará aqui por muito tempo?

— Não muito, só essa semana. Deixei meu marido sozinho na fazenda. — Ela explicou.

— Vocês têm uma fazenda?

— Cuidamos de uma para um fazendeiro muito rico. Ele vive em outro estado, mas tem propriedades em todo o país.

— Interessante. — Falou e virou-se para nos observar. — Por que estão tão calados?

— Não queremos atrapalhar a conversa de vocês, parecem que se deram bem. — Falou Dom.

— Julia é uma mulher muito simpática, assim como as filhas.

Mariana quase se engasgou com a bebida que estava bebendo. Chutei sua perna para que ela não falasse nada que estragasse tudo.

— Sempre criei minhas meninas muito bem. — Minha mãe estava feliz com o jantar e eu estava agradecendo a Deus por essa paz. — Espero que tenhamos netos logo. Ficarei feliz em vê-los correr pela fazenda e subir em árvores quando forem nos visitar.

— Meus netos não subirão em árvores, isso é perigoso. — Discordou Catarina.

— Minhas meninas estão vivas, então acredito que podem se arranhar um pouco.

— Não estamos mais em 1990, as crianças de hoje em dia não fazem mais isso.

— Então vai querer que elas fiquem presas em casa com os olhos no telefone?

Estava bom demais para ser verdade. Como do nada elas podem brigar?

— Mães, não vão começar com discussões. — Pediu Henrique.

— Dona Julia! — Chamei a sua atenção.

Às duas baixaram a guarda e isso me tranquilizou. Depois do jantar ainda tivemos um momento tenso, porém, nada que não pudéssemos resolver na hora.

Unir duas famílias era difícil em qualquer situação, e quando éramos totalmente diferentes dos outros isso complicava ainda mais.

Cresci no interior, meus pais sempre tiveram que viver com pouco, e só com o tempo pudemos melhorar um pouco a nossa situação. Henrique e Dominic cresceram em berço de ouro e sempre tiveram do bom e do melhor.

Era óbvio que quando essas duas realidades se chocassem iria causar um pouco de agitação, no entanto, poderíamos resolver tudo.

Minha mãe achou melhor ficar com Mariana em seu apartamento. Como eu estava "morando" com o meu namorado, fiquei na casa e o ajudei com a bagunça que ficou depois do jantar.

— Por um instante pensei que as duas realmente ficariam amigas, mas algo aconteceu e a magia acabou. — Ele disse com bom humor. — Minha mãe será sempre difícil de lidar.

— Ela não tem toda a culpa, viu que minha mãe também não ajudou muito. Fiquei surpresa por Catarina ser tão comportada e simpática. — Falei ainda surpresa.

— Pensei que ela bateu a cabeça em algo.

Ri da sua piada, mas fiquei pensando que essa foi a primeira de muitas situações entre as nossas famílias. O problema real não era nossas mães, pois parecia que a senhora Vilella queria mudar seu jeito. No entanto, meu pai e o pai de Henrique eram os verdadeiros problemas.

— Você já falou com seu pai? — Perguntei enquanto lavava os pratos. — Faz um tempo que tudo aquilo aconteceu, não vai querer ficar brigado com ele para sempre.

— Não sou eu, Elisa, é ele. Sempre que tento conversar, ele se afasta. — Diz com amargura na voz. — Talvez ele me odeie pela briga com Anna e isso não fará com que nós voltemos às boas.

— Espero que ele perceba que o passado deve permanecer lá, e não que continue interferindo no futuro.

— Quer saber, isso pode ficar para amanhã. — Disse jogando o pano de prato em cima da bancada, e me puxando para perto dele. — Vamos mudar o clima dessa noite.

Sempre que nos beijávamos, era como se fosse a primeira vez. Era inevitável não sentir meu coração bater forte, como se eu estivesse correndo em uma maratona. Minha mente se esvaziava e nada mais existia ao nosso redor.

Henrique me colocou em cima da bancada da cozinha sem dificuldade nenhuma. Não importava o que aconteceu há algumas horas, quando ficávamos sozinhos nada mais importava. Não existiam diferenças ou brigas. Só o nosso amor.

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