Capítulo 23

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Elisabete

Depois daquele jantar na minha casa, senti que Henrique estava mais afastado e calado. Não queria que nossa relação regredisse, mas também não podia invadir seu espaço e deixá-lo chateado.

Cada vez que ele revelava mais um pouco de si, eu podia ver como tudo isso era complicado. Não tinha muita informação sobre a irmã dele, contudo, ela morreu em um acidente de carro com o namorado. As palavras que ele usou na noite passada ainda estavam na minha cabeça e eu desejava continuar descobrindo quem era Henrique e o porquê dele se martirizar tanto.

Quando cheguei ao escritório, todos estavam tensos. Judi me olhou com certa preocupação, no entanto, não disse nada.

Caminhei até minha sala e organizei meus papéis, mas um barulho vindo da sala ao lado me chamou a atenção. A porta do escritório de Henrique estava fechada, porém, dava para ouvi-lo discutindo com alguém. Senti minha pressão arterial subir com a ideia de que meu chefe estava em um péssimo dia, e se ele era ranzinza nos dias normais, imagina como estaria agora.

Tomei coragem e bati em sua porta. Não houve respostas, mas entrei assim mesmo. Roberto se encontrava encolhido na cadeira a sua frente, e ao me notar, o moreno abriu um sorriso de alívio e logo se levantou.

— Graças a Deus você chegou. — Falou ao se aproximar. — Só você consegue acalmar essa fera.

Arregalei os olhos surpresa com as suas palavras. Acredito que Roberto não sabia que eu não tinha nenhum poder sobre o homem.

— O que aconteceu? — Perguntei com um sorriso preocupado, pois não sabia se também seria alvo dessa raiva.

O olhar que ele lançou sobre nós foi assassino e se tivesse superpoderes poderia até nos matar.

— Saia, Roberto! — Falou entre os dentes. — Resolva isso rápido. Temos que ter essas assinaturas o quanto antes.

Nesse momento a minha respiração já estava alterada e poderia, a qualquer momento, ter um ataque de pânico. No entanto, deveria parecer mais forte e corajosa. Todos aqui achavam que tínhamos uma relação e eu deveria encarar isso de uma forma melhor.

— Eu cuido dele. — Sussurrei para o amigo que se afastou saindo da sala. — Bem, não vou começar desejando um bom dia, pois parece que você não está tendo. — Falei tentando ser engraçada. Caminhei até a mesa e me escorei, ficando em sua frente. — Porque está tão irritado e seus funcionários tão tensos?

Eu estava com medo de levar um fora ou até mesmo ser expulsa da sua sala, entretanto resolvi tentar ser como uma amiga e tentar ajudá-lo.

Meu chefe encostou-se na cadeira e juntou as mãos na frente do corpo. Seu lado sério voltou, e apesar de me deixar nervosa, também o deixava muito bonito.

Acho que sou maluca.

— Lembra da reunião que tive com um velho amigo? — Perguntou mais calmo. Fiquei aliviada com o seu tom de voz, já que quando entrei ele estava quase gritando com seu amigo de infância. Para responder, confirmei com a cabeça. — Temos um projeto. Ele deseja construir um condomínio e estávamos conversando há muito tempo sobre esse projeto. Mas agora ele está se separando e isso é um problema para nós.

— Por quê?

— Sua esposa, Susan, também é acionista e precisamos das assinaturas dela para formarmos uma parceria, no entanto, eles estão se odiando no momento e ela está dificultando as coisas. — Ele não estava chateado comigo, mas dava para ver sua raiva com esse assunto.

— Deve ser algo difícil para eles. — Pensei em voz alta.

— É difícil para todos. — Exclamou irado. — Passei meses projetando esses esboços, corrigindo erros, gastando o meu tempo para no final ser tudo jogado fora devido a uma birra?

Levantei-me e fiquei atrás do homem estressado, pretendendo tentar acalmá-lo.

— Henrique, pense, se você fosse casado e estivesse se separando, seja lá qual for o motivo, iria querer estar ao lado da pessoa? — Perguntei, colocando a mão sobre o seu ombro.

— Não, mas...

— Não existe, "mas" para uma mulher furiosa. — Falei o interrompendo. – Acredite, você não vai gostar de discutir com ela.

— Então temos que jogar tudo fora? — Me perguntou.

— Só tem que achar um modo de convencê-la. O que o marido fez para terem que se separar?

— Não entramos em detalhes. — Disse sem paciência.

— Descubra o possível. — Disse caminhando até a porta. — Se quiser esse projeto, você terá que ser compreensivo.

***

Depois daquele começo de dia conturbado com o chefe, o escritório estava mais silencioso do que o normal. Parecia que todos andavam nas pontas dos pés para que o barulho não incomodasse o homem.

Roberto estava ao telefone, preocupado, tentando convencer os dois lados a nos encontrar para uma conversa. Judi estava uma pilha de nervos e o restante fazia seu trabalho sem fazer contato visual um com outro.

Mas eu fui a mais corajosa, pois mesmo não querendo ver novamente o lado arrogante de Henrique, não podia trabalhar com medo dele.

— Tenho que levar esses papéis na sala dele. — Disse Judi entrando abruptamente na sala. — Pode vir comigo?

Fiquei surpresa com o seu pedido e levemente animada. Sei que o momento era tenso, mas vê-la tão nervosa devido ao chefe, era engraçado.

— Precisa da assinatura? — Perguntei escondendo o meu sorriso. A mulher balançou a cabeça várias vezes para confirmar. — Pode deixar que eu levo.

Não pude descrever o quanto ela ficou feliz pela minha disposição para enfrentar o carrancudo que todos temiam. Ele poderia estar em um péssimo dia, mas ainda era o cara que estava conhecendo e sabia existir uma parte boa dentro de si. Todos nós, às vezes, ficamos bravos por algo. Claro que isso ocorria frequentemente com Henrique, e nada justificava a sua arrogância, porém o entendia.

Entrei na sala segurando os papéis e sorrindo para o homem que estava concentrado na tela do computador.

— Judi precisa das suas assinaturas. — Fui direta.

Ele levantou a cabeça e me olhou com olhos estreitos.

— Então por que é você quem veio? — Questionou-me parecendo irritado.

— Porque você hoje está parecendo uma mulher nos dias de TPM. — Disse irônica e o homem deixou um lado dos seus lábios se curvar. — Sei que está tendo um dia ruim por causa do seu projeto futuro, mas poderia não surtar com todos?

Aproximei-me dele, e inclinei meu corpo para ficarmos ainda mais próximos. Ele continuou a me encarar.

— Os papéis. — Pediu ainda sério. O entreguei e rapidamente ele os assinou. O observei fazendo todo o processo, calada. Talvez ele ainda esteja receoso com a nossa aproximação. — Não voltarei para o escritório à tarde, então deixarei você responsável por terminar os esboços desse desenho para a nova área do Jockey Club.

— Como quiser. — Falei após respirar fundo. — Se quiser conversar ou sair para se distrair, pode me ligar.

— Elisabete, você pensa que sou esse tipo de pessoa? — Me questionou cerrando os olhos, parecendo estar sem paciência.

— Ainda não sei que tipo de pessoa você é, Henrique. — Reclamei pegando os papéis e me afastando. — Sempre que estamos em uma fase boa e consigo conhecê-lo melhor, você se fecha.

— Não tem o que conhecer. Nada disso é real. — Disse rude. — Em três semanas não seremos mais nada além de colegas de trabalho.

Confesso que fiquei ofendida com a sua arrogância. Eu sabia que tudo isso era verdade, e que esse homem era duro na queda. Acredito que deixei-me iludir por uma fração do que ele me mostrou.

— Você está certo. Só mais três semanas.


A MENTIRA DO CEO: Contrato com o chefeOnde histórias criam vida. Descubra agora