Elisabete
Depois daquele jantar na minha casa, senti que Henrique estava mais afastado e calado. Não queria que nossa relação regredisse, mas também não podia invadir seu espaço e deixá-lo chateado.
Cada vez que ele revelava mais um pouco de si, eu podia ver como tudo isso era complicado. Não tinha muita informação sobre a irmã dele, contudo, ela morreu em um acidente de carro com o namorado. As palavras que ele usou na noite passada ainda estavam na minha cabeça e eu desejava continuar descobrindo quem era Henrique e o porquê dele se martirizar tanto.
Quando cheguei ao escritório, todos estavam tensos. Judi me olhou com certa preocupação, no entanto, não disse nada.
Caminhei até minha sala e organizei meus papéis, mas um barulho vindo da sala ao lado me chamou a atenção. A porta do escritório de Henrique estava fechada, porém, dava para ouvi-lo discutindo com alguém. Senti minha pressão arterial subir com a ideia de que meu chefe estava em um péssimo dia, e se ele era ranzinza nos dias normais, imagina como estaria agora.
Tomei coragem e bati em sua porta. Não houve respostas, mas entrei assim mesmo. Roberto se encontrava encolhido na cadeira a sua frente, e ao me notar, o moreno abriu um sorriso de alívio e logo se levantou.
— Graças a Deus você chegou. — Falou ao se aproximar. — Só você consegue acalmar essa fera.
Arregalei os olhos surpresa com as suas palavras. Acredito que Roberto não sabia que eu não tinha nenhum poder sobre o homem.
— O que aconteceu? — Perguntei com um sorriso preocupado, pois não sabia se também seria alvo dessa raiva.
O olhar que ele lançou sobre nós foi assassino e se tivesse superpoderes poderia até nos matar.
— Saia, Roberto! — Falou entre os dentes. — Resolva isso rápido. Temos que ter essas assinaturas o quanto antes.
Nesse momento a minha respiração já estava alterada e poderia, a qualquer momento, ter um ataque de pânico. No entanto, deveria parecer mais forte e corajosa. Todos aqui achavam que tínhamos uma relação e eu deveria encarar isso de uma forma melhor.
— Eu cuido dele. — Sussurrei para o amigo que se afastou saindo da sala. — Bem, não vou começar desejando um bom dia, pois parece que você não está tendo. — Falei tentando ser engraçada. Caminhei até a mesa e me escorei, ficando em sua frente. — Porque está tão irritado e seus funcionários tão tensos?
Eu estava com medo de levar um fora ou até mesmo ser expulsa da sua sala, entretanto resolvi tentar ser como uma amiga e tentar ajudá-lo.
Meu chefe encostou-se na cadeira e juntou as mãos na frente do corpo. Seu lado sério voltou, e apesar de me deixar nervosa, também o deixava muito bonito.
Acho que sou maluca.
— Lembra da reunião que tive com um velho amigo? — Perguntou mais calmo. Fiquei aliviada com o seu tom de voz, já que quando entrei ele estava quase gritando com seu amigo de infância. Para responder, confirmei com a cabeça. — Temos um projeto. Ele deseja construir um condomínio e estávamos conversando há muito tempo sobre esse projeto. Mas agora ele está se separando e isso é um problema para nós.
— Por quê?
— Sua esposa, Susan, também é acionista e precisamos das assinaturas dela para formarmos uma parceria, no entanto, eles estão se odiando no momento e ela está dificultando as coisas. — Ele não estava chateado comigo, mas dava para ver sua raiva com esse assunto.
— Deve ser algo difícil para eles. — Pensei em voz alta.
— É difícil para todos. — Exclamou irado. — Passei meses projetando esses esboços, corrigindo erros, gastando o meu tempo para no final ser tudo jogado fora devido a uma birra?
Levantei-me e fiquei atrás do homem estressado, pretendendo tentar acalmá-lo.
— Henrique, pense, se você fosse casado e estivesse se separando, seja lá qual for o motivo, iria querer estar ao lado da pessoa? — Perguntei, colocando a mão sobre o seu ombro.
— Não, mas...
— Não existe, "mas" para uma mulher furiosa. — Falei o interrompendo. – Acredite, você não vai gostar de discutir com ela.
— Então temos que jogar tudo fora? — Me perguntou.
— Só tem que achar um modo de convencê-la. O que o marido fez para terem que se separar?
— Não entramos em detalhes. — Disse sem paciência.
— Descubra o possível. — Disse caminhando até a porta. — Se quiser esse projeto, você terá que ser compreensivo.
***
Depois daquele começo de dia conturbado com o chefe, o escritório estava mais silencioso do que o normal. Parecia que todos andavam nas pontas dos pés para que o barulho não incomodasse o homem.
Roberto estava ao telefone, preocupado, tentando convencer os dois lados a nos encontrar para uma conversa. Judi estava uma pilha de nervos e o restante fazia seu trabalho sem fazer contato visual um com outro.
Mas eu fui a mais corajosa, pois mesmo não querendo ver novamente o lado arrogante de Henrique, não podia trabalhar com medo dele.
— Tenho que levar esses papéis na sala dele. — Disse Judi entrando abruptamente na sala. — Pode vir comigo?
Fiquei surpresa com o seu pedido e levemente animada. Sei que o momento era tenso, mas vê-la tão nervosa devido ao chefe, era engraçado.
— Precisa da assinatura? — Perguntei escondendo o meu sorriso. A mulher balançou a cabeça várias vezes para confirmar. — Pode deixar que eu levo.
Não pude descrever o quanto ela ficou feliz pela minha disposição para enfrentar o carrancudo que todos temiam. Ele poderia estar em um péssimo dia, mas ainda era o cara que estava conhecendo e sabia existir uma parte boa dentro de si. Todos nós, às vezes, ficamos bravos por algo. Claro que isso ocorria frequentemente com Henrique, e nada justificava a sua arrogância, porém o entendia.
Entrei na sala segurando os papéis e sorrindo para o homem que estava concentrado na tela do computador.
— Judi precisa das suas assinaturas. — Fui direta.
Ele levantou a cabeça e me olhou com olhos estreitos.
— Então por que é você quem veio? — Questionou-me parecendo irritado.
— Porque você hoje está parecendo uma mulher nos dias de TPM. — Disse irônica e o homem deixou um lado dos seus lábios se curvar. — Sei que está tendo um dia ruim por causa do seu projeto futuro, mas poderia não surtar com todos?
Aproximei-me dele, e inclinei meu corpo para ficarmos ainda mais próximos. Ele continuou a me encarar.
— Os papéis. — Pediu ainda sério. O entreguei e rapidamente ele os assinou. O observei fazendo todo o processo, calada. Talvez ele ainda esteja receoso com a nossa aproximação. — Não voltarei para o escritório à tarde, então deixarei você responsável por terminar os esboços desse desenho para a nova área do Jockey Club.
— Como quiser. — Falei após respirar fundo. — Se quiser conversar ou sair para se distrair, pode me ligar.
— Elisabete, você pensa que sou esse tipo de pessoa? — Me questionou cerrando os olhos, parecendo estar sem paciência.
— Ainda não sei que tipo de pessoa você é, Henrique. — Reclamei pegando os papéis e me afastando. — Sempre que estamos em uma fase boa e consigo conhecê-lo melhor, você se fecha.
— Não tem o que conhecer. Nada disso é real. — Disse rude. — Em três semanas não seremos mais nada além de colegas de trabalho.
Confesso que fiquei ofendida com a sua arrogância. Eu sabia que tudo isso era verdade, e que esse homem era duro na queda. Acredito que deixei-me iludir por uma fração do que ele me mostrou.
— Você está certo. Só mais três semanas.
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A MENTIRA DO CEO: Contrato com o chefe
Roman d'amourSinopse Uma mulher traída. Um chefe arrogante. Uma mentira perigosa. Você já se imaginou em um dia dos infernos? Eu tive um dia assim. Primeiro, me adiantei e cheguei no trabalho duas horas mais cedo, fui demitida e quando cheguei em casa, descobr...