Capítulo 37

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Não consigo acreditar no que eu acabo de fazer.

Olho para trás, pelo vidro traseiro do carro, e tudo que eu vejo são outros carros deslizando pela auto estrada junto com o carro do Alonso.

Ele dirige rápido demais. Seu carro é um modelo esportivo, potente e a cada vez que ele passa a marcha, automaticamente, eu sinto a potência do motor sob os meus pés.

Lorenzo vai enlouquecer. Vai me procurar pela cidade como um louco, preocupado comigo. Enquanto eu, por curiosidade, estou no carro de um dos seus maiores inimigos.

Meu peito dói há algum tempo e temo sobre o que acontecerá se eu não conseguir controlar meu coração, pois não posso tomar minha medicação. Nem pensar eu vou apagar ao lado de um desconhecido. Não sei para onde ele está me levando e muito menos o que ele vai fazer comigo. Pensar no envolvimento do Francesco nisso faz meu corpo estremecer de medo.

Olho rapidamente para o Alonso enquanto ele dirige compenetrado na estrada.

Ele sabe que eu estou olhando para ele. O sorriso sarcástico que ele dá me indica isso. Com movimentos lentos ele pega o celular no bolso da frente da calça e o seu polegar da mão direita desliza pela tela iluminada do aparelho.

- Estou chegando. Estou com ela. - é tudo o que ele diz. Alonso encerra a ligação e enfia o celular de volta no bolso da calça.

Lorenzo não merece isso. Por Deus, ele é um homem íntegro, é policial, empresário e muito conhecido em toda a Sicília. Partindo dessa lógica não teria como ele estar envolvido com algo ilícito. Não teria como ele ter uma vida dupla. Cristo, eu acordo e durmo todos os dias ao lado dele, já teria percebido alguma coisa.

Lorenzo não merece o que eu fiz.

- Quero voltar para casa. – anuncio com a voz trêmula. Alonso solta uma bufada que mais parece uma risada irônica e me olha por alguns segundos.

- Não, você não quer. – ele ri. – Sem contar que já estamos chegando.

- Aonde? – olho em volta quando ele entra em uma bifurcação, saindo da autoestrada. – Estamos chegando aonde, Alonso? – pergunto desesperada.

- Vamos para a vila. – ele diz simplesmente.

- Que vila? – ele não me responde e o caminho que ele segue me apavora. Não tem nada ao redor da estrada que nós entramos. Nada além de nós, o farol do carro que estamos e de terra e rochas, estamos indo para uma das encostas no mar. – Alonso, eu quero ir para casa.

- Me chama de Ale. – ele sorri e eu o encaro incrédula.

- Foda-se o seu nome! – grito e massageio meu peito com a palma da mão direita. – Eu quero ir para casa agora. - esbravejo e ele dá um sorriso cínico, parando o carro.

Percebo que estamos na frente de um portão gigantesco e assim que paramos ele começa a se abrir.

A construção parece uma fortaleza ou um castelo antigo. Lembra um forte, daqueles da época das navegações onde havia canhões e guardas protegendo a cidade de um ataque marítimo. O mar está revolto e as ondas se chocam contra a encosta com violência, sei por que o som que vem do mar é alto e assustador.

Alonso desce do carro, mas eu permaneço imóvel no meu assento. Meu corpo está dormente e respiro com dificuldade, não consigo me mover. As batidas do meu coração eu já desisti de controlar faz algum tempo.

A única coisa que consigo pensar é no desespero do Lorenzo ao se dar conta que eu sumi. Não consigo acreditar onde o meu orgulho me levou, de novo.

Lorenzo está sempre me orientando, me dizendo o que fazer e agora, nessa situação fodida, eu percebo que não era o seu lado controlador que queria mandar em mim, era o seu cuidado e o seu amor cuidando para que eu ficasse segura e confortável.

Começo a chorar quando a porta ao meu lado se abre e quando olho vejo Alonso e seu olhar ferino em cima de mim, atrás dele meia dúzia de seguranças vestidos de preto.

- Vamos, saia! – ele ordena com frieza, quase gritando.

- Alonso, por favor. Eu quero voltar para casa. – imploro sem me mover de dentro do carro, apenas o encaro. – Eu não quero mais saber de nada, esqueça o que eu falei. Eu não me importo mais com isso.

- Saia! – ele grita e me sobressalto. Meus olhos estão abertos até o limite. Todos os homens atrás dele colocam a mão em suas armas enquanto me encaram. – Não tenho a noite toda, Emma. Saia agora!

Engulo o nó que se forma na minha garganta e forço minhas pernas para fora do carro. Eu entendi o sinal, não sou bem-vinda aqui. Não sou a convidada que chegou para o jantar, sou a inimiga.

Ninguém me ajuda a sair do carro e devido ao tamanho da minha barriga, tenho um pouco de dificuldade em fazer isso sozinha.

Lorenzo me ajudaria. Ele, Enrico, Mattia e qualquer um dos meus seguranças ou protetores. Pensar nisso faz com que mais lágrimas saltem dos meus olhos.

Assim que os meus dois pés estão foram do carro e me ponho de pé, os homens dão as costas para mim e caminham em direção a grande varanda da casa.

- Eu não quero entrar. – sussurro para Alonso. Foi o único que não me deixou sozinha. – Por favor, me deixe em qualquer lugar e eu me viro para voltar para casa.

- Agora você não tem escolha. – ele segura o meu braço com força, quase o erguendo, e me puxa para onde os outros homens foram. Sinto suas unhas curtas na minha carne por causa do seu aperto e eu estou praticamente na ponta dos pés por causa da força que ele faz para erguer o meu braço.

- Você disse que não me forçaria a ir. – grito, desesperada pra o lembrar. As lágrimas chegam com violência aos meus olhos conforme nos aproximamos da enorme porta da casa.

- Bom... você chegou até aqui por conta própria. – ele diz com sarcasmo e dá de ombros, ainda me puxando pelo enorme quintal.

- Por favor, eu estou grávida, Alonso. - suplico. - Lorenzo vai me procurar... – olho para trás por cima do meu ombro direito, como se eu fosse ver Lorenzo entrando pelo portão a qualquer momento, pronto para me levar para casa, mas tudo o que eu vejo é o portão fechando e alguns seguranças se movimentando pelo enorme quintal.

Alonso ainda me puxa pelo braço quando empurra a porta dupla e pesada de madeira maciça e praticamente me joga dentro de um enorme hall de entrada, que se parece com um longo corredor, quando me solta do seu aperto.

- Onde estamos? - pergunto olhando em volta e vendo apenas paredes de pedras e luminárias presas a elas.

- Na casa da Cosa nostra. – ele diz e um largo sorriso brota em seu rosto. Meu corpo se arrepia e ao ouvir passos se aproximando de nós eu recuo, quase me protegendo atrás do corpo do Alonso. – Vamos, estão esperando por você.

Nos teus braços - Livro 2.Onde histórias criam vida. Descubra agora