Após a queda

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Uma parte do meu mundo e o de Gerard havia desmoronado, e não havia outra forma de descrever. Quando chegamos ao armazém com a pele escurecida pelas cinzas do incêndio, o cenário não poderia ser pior. Todos imediatamente perguntaram o que aconteceu para voltarmos de tal forma. Gee estava em choque, e era quase como se eu pudesse ver o fogo que ainda queimava profundamente em seus olhos. Coube a mim, então, resumir o que aconteceu. A terrível visão de seus desenhos sendo destruídos. Todo o nosso refúgio fora reduzido ao chão, e o que ele significava também.

Agora, nos dias depois, continuava a ser extremamente difícil lidar com isso. A perda não era só material. Eu sabia o contato emocional que Gerard tinha com aquela casa, e eu também. O fato de ser mais importante para ele do que para mim só tornava a dor mais intensa.

Para piorar, eu e ele tínhamos certeza de quem era o responsável. Os três que nos causaram mais problemas do que podiam contar. Eu tinha certeza que Way planejava alguma forma de se vingar de Bruce, Damon e John por terem feito aquilo, ainda mais de forma tão covarde. Porém, para mim, não era novidade que eles não fossem mais que aquilo. É claro que eu seria o primeiro a querer ver as péssimas pessoas receberem o que merecem, mas eu estava tentando ser realista. Depois da briga que tivemos há tanto tempo, eu não queria mais arriscar Gerard. Era óbvio que eles só terminariam quando tivessem o refúgio, e, como aquilo não era possível, eles não queriam que nós o tivéssemos. Então, talvez fosse melhor aceitar o fim daquilo do que entregar Gerard para ganhar bem mais do que uma simples cicatriz no rosto. Eu não tinha coragem de discutir isso com Gee, pelo menos, não em um tempo tão recente após o acontecimento.

Em um dos poucos momentos em que quebramos a tensão para conversar sobre o assunto, consegui expressar o que pensava. Meu medo não era que Gerard não me entendesse. Eu tinha medo que ele não achasse que devia confiar em mim. Mesmo assim, eu não consigo achar que os malvados sempre são punidos. Se fossem, nenhum de nós seis estaríamos nessa situação. Odiava colocar isso de forma tão bruta, pois eu sempre pensei que soava como um adolescente emo lotado de misantropia, mas era a verdade que coletei depois de todos esses anos. Nem era preciso ter a mesma experiência que eu e Way tivemos. Era só pensar em todos os políticos e presidentes que iniciariam uma guerra justificada pelo seu amor à democracia, mas que, no fundo, não tinha nada além de sangue inocente derramado e puro egoísmo. O mundo era repleto de pessoas podres. E o que aqueles idiotas fizeram só me fazia ter mais certeza disso.

Por tantas vezes me peguei pensando na sorte que eu tinha de encontrar Gerard. Agora era uma delas. Com tudo que ele havia passado e mesmo com o sofrimento que sentia, ele ainda decidia deitar em meus braços como naquele momento. E nós dois não precisávamos falar uma palavra, pois sabíamos que não deixaríamos um ao outro só.

Comecei a entrelaçar meus dedos pelas pequenas ondulações do seu cabelo, e ele logo pareceu corresponder ao carinho. Por um breve momento, lembrei da descoloração do meu antigo corte que fizemos juntos, e imaginei a perfeição das mechas que eu explorava se estivessem ruivas. Gerard agarrou a minha mão pela palma e a beijou delicadamente.

- Por sorte, eu guardei um pouco daquele dinheiro. - ele disse, com certa melancolia em sua voz. Eu sabia que a maior perda, para ele, era muito mais que material. -  Acho que poderia usar aquilo para algo de nós dois.

- Ah, é? O que você tem em mente? - perguntei.

- Não sei. Eu pensei em uma tatuagem clichê de casal, sabe? Mas acho que isso podemos deixar para depois. - ele riu. - Falando sério, eu ainda preciso decidir. Só me dê um tempo, e prometo que será o melhor presente para o melhor casal possível.

- Presente de casal pelo próprio membro do casal. Essa é nova.

- Ei, me deixa inventar meus conceitos e ser feliz com eles.

Bulletproof HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora