Duas almas

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Era cinco da manhã e eu estava atirado no sofá central do armazém, olhando para o teto e fumando um cigarro. O dia anterior havia sido um tanto peculiar, porém igualmente bom. Eu sequer havia conseguido dormir mais que alguns minutos depois de voltar da saída com Gerard. 

Nós apenas fomos até o quarto, devia ser por volta das duas da manhã, mas eu não estava prestando tanta atenção no horário. Eu e ele havíamos bebido mais, depois que saímos do bar com Bert, talvez por isso eu não lembrasse tanto dos detalhes. O que eu lembrava era transarmos e Gerard caindo sonolento em sua cama logo em seguida. Mas nós estávamos tendo tanto sexo no relacionamento que o fato de eu não lembrar dessa vez com detalhes não me incomodava tanto. 

Desde então, desisti de pegar no sono e decidi esperar o efeito da bebida passar enquanto observava as luzes do dia amanhecendo invadindo os poucos vidros superiores no grande galpão, com os olhos apenas um pouco abertos. 

- Olha só quem acordou cedo. - Jamia me deu um peteleco na testa, e eu retruquei tentando atingir seu rosto com um tapa de leve. Falhei miseravelmente e ela riu.

- Tá mais para "Olha só quem madrugou". - eu bocejei, levantando do sofá. 

Jamia sorriu enquanto ligava a cafeteira, fazendo sinal para me oferecer uma xícara. Eu fiz que sim com a cabeça para aceitar.

- Você e seu namorado realmente sumiram ontem, hein? Eu fiquei preocupada que vocês tivessem roubado a Ferrari e fugido até o Canadá.

- Esse grupo de delinquentes só rouba de pessoas que não estão dentro dele. - falei, com um pequeno sorriso. 

- Isso você não precisa me explicar. - ela riu. - Tome, vai te ajudar a se sentir melhor. E acho que mais alguém está precisando de cafeína. - Jamia disse ao perceber Gerard saindo do nosso quarto. Ele estava péssimo.

Seus cabelos estavam com vários nós, olheiras dominavam seus olhos; ele tinha reposto a roupa que havia usado para sair ontem, agora ela estava totalmente surrada.

- Bom dia, amor. - ele me pegou inesperadamente pela cintura e me beijou demoradamente. Fechei os olhos em resposta. Era impossível não ter uma reação positiva quando ele fazia isso. Quando ele se afastou, Jamia nos encarava maliciosamente, finalizando um gole do café com um sorriso fechado no rosto. 

- Você quer uma xícara, Gerard? - ela perguntou. Eu corei.

- Olha, eu nunca vou negar café, mas antes eu preciso de um banho. Faz um bom tempo que eu não tenho uma ressaca assim. Acho que tô desacostumado.

- Tem certeza que não quer ir pro banho com ele, Frank? 

Fuzilei Jamia com o olhar e estava prestes a dar um soco de leve no braço dela, quando Gerard me distraiu pela sua risada. Eu era apaixonado por aquele desgraçado mesmo quando ele estava rindo de mim. Droga, o que o amor faz com o seu cérebro? 

- Ele sabe que  este convite está aberto sempre que ele quiser. - ele me deu um beijo na bochecha rapidamente e começou a voltar para o quarto. - Eu vou pegar minha toalha e estarei te esperando, Frank... Mas, se você não for, não vou ficar magoado. Você tem sorte de se relacionar com uma pessoa compreensível. 

Eu devia estar vermelho em um misto de irritação das brincadeirinhas de Jamia com a vergonha dos comentários de Gerard. Mas relevei, respirando fundo.

Minutos depois, enquanto ele foi para o banho, conversei um pouco mais com Jamia. Contei sobre a noite passada, o estranho encontro com o Bert (o que, é claro, nada diferente do esperado, provocou muita zoação) e Gerard, quando ainda estava levemente embriagado, me pondo para subir ao palco. Ela ouviu aquilo como uma criança animada com uma história. Mesmo com as provocações, eu amava Jamia, e qualquer momento desses com ela. Às vezes, em meio a correria de missões ou agora no tempo com Gerard, eu sentia que não era tão bom amigo quanto antes. Expressei minha insegurança para ela, mas ela fez questão de mostrar que aquilo era "coisa da minha cabeça de punk lerdo" (nas exatas palavras dela), e que ela sempre ia me ver como o melhor amigo dela, alguém que sempre poderia contar. Decidi aceitar, mesmo com a insegurança. Eu não confiava em mim, mas confiava na amizade dela, então me agarrar as palavras era uma boa escolha para aquele momento. 

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