O dia seguinte

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Não havia um integrante do nosso grupo que não entendesse o significado da palavra ressaca naquele dia. Nenhum de nós levantou antes de uma da tarde, o que me fez o primeiro a acordar.

As garrafas de cerveja que compramos na noite anterior estavam espalhadas por todos os cantos da parte central do armázem, e eu mal conseguia caminhar pela falta de capacidade em me orientar. Minha cabeça estava me matando. Eu conseguia me lembrar de termos dividido uma garrafa de vodka entre os seis, também, sendo que eu nunca fui fã da bebida em especial.

Além da dor de cabeça, senti uma vontade enorme de vomitar, e precisei correr alguns metros para chegar até o banheiro e torcer para que ninguém acordasse e precisasse ouvir aquela cena desagradável. Eu estava sentado no chão gelado e tentava organizar os fatos depois que o roubo aconteceu. Nós cinco havíamos passado numa loja de bebidas e comprado todas garrafas que eu acabei de ver, já vazias e atiradas como lixo. Devemos ter comemorado, contado o valor que conseguimos e compartilhado a história com Rob de como a polícia chegou perto de descobrir quem éramos.

Desde que o álcool estava no meu sangue, eu não conseguia me recordar de muito. Mas eu sabia do que aconteceu antes disso. Gerard e eu nos beijamos algumas vezes no carro. Acho que aquela era a confirmação que eu precisava para ter certeza que não gostava de apenas um gênero. Ainda assim, eu nunca beijei alguém como apenas um número, porque eu não agia dessa forma. Aquilo tinha significava algo para mim. Eu não sabia se para Gerard também.

Recuperei minhas forças e lavei a minha boca na pia do banheiro, sabendo que era melhor tomar um banho para tirar o completamente o cheiro de cerveja do corpo. Fui ao meu quarto e peguei a primeira roupa que vi pela frente, mas não sem observar Gerard dormindo como uma pedra. Ele estava atirado de bruços na sua cama, o que me fez ter mais certeza que os outros teriam horas de sono pela frente até precisarem lidar com as consequências de encher a cara. Eu não consegui sair do quarto sem repetir para mim mesmo quanto Way era fofo dormindo. Droga, eu precisava decifrar um pouco do que sentia. Por isso que diziam sobre todos precisarem de psicólogos.

Já no lado de fora do quarto, voltei ao banheiro e comecei a tirar as roupas para poder me lavar. A água, que, para minha sorte, estava morna, me deu um completo choque ao bater em meu rosto. Tentar agir normalmente depois de tomar um porre era um desafio complicado.

Depois de terminar o banho com pressa, coloquei as roupas e só então vi as que eu havia escolhido sem ver as estampas. A camiseta era uma preta com a imitação da anatomia de um esqueleto, que não serviria em mim se eu fosse um pouco maior. Eu deveria ter ela desde os meus treze anos, não que eu tivesse crescido tanto a partir daí.

Depois que saí do banheiro e aproveitei o silêncio que estava na centro do galpão para me deitar no sofá e fechar os olhos, melhorando um pouco a dor que ainda martelava minha testa, Jamia saiu do seu dormitório. Ela aparentava estar tão pessima quanto eu, quando acordei, e seus cabelos estavam engruvinhados.

- Ora, ora, que paradoxo você ter sido o primeiro a acordar. - ela disse, sentando-se em uma poltrona e passando as mãos pela cabeça, tentando se arrumar um pouco.

- Eu também achei. - eu ri.

- Ontem foi uma noite e tanto, não foi? Eu ainda estou impressionada pela forma que você agiu. Você foi completamente durão apontando a arma.

- Ah, não fui nada. Eu estava me cagando, ainda mais quando eu ouvi as sirenes.

- Não seja modesto, Frank. Se isso te fizer concordar, todos nós fomos bem. Agir como uma equipe é o que realmente nos salva nessas horas.

Bulletproof HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora