A segunda saída

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Argh, parecia que a noite não chegava nunca.

Eu e Gerard decidimos quebrar nosso confinamento dos dias recentes e sairmos novamente juntos. Ele me levaria a uma região semelhante àquela da última vez na cidade. Way não estava de brincadeira quando disse, há um longo tempo, que conhecia bem os melhores lugares. Era estranho o tanto que havíamos vivido juntos desde o roubo da guitarra. Eu lembrava exatamente o quão animado ele parecia ao propor a ideia quando estávamos na loja de instrumentos (a qual nenhum com certeza jamais voltaria, nem mesmo se quiséssemos).

- Pensativo demais, Frank? - Elisa interrompeu meus devaneios, sentando-se ao meu lado. Não eram muitos os momentos que ficávamos a sós, mas eu gostava de seu jeito. Ela era o tipo de pessoa que te fazia se sentir bem apenas com a presença no mesmo ambiente.

Eu estava debruçado sobre o capô do carro (o único, agora que havíamos vendido o melhor deles para termos o dinheiro e nos mantermos por um longo tempo), por mais sujo que estivesse, e observando o pôr do sol, torcendo para que passasse o mais rápido possível. Enquanto isso, do lado de dentro do armazém cinzento e sem graça que chamávamos de lar doce lar, Gerard estava se vestindo e ficando pronto para sairmos a pé e voltarmos apenas na manhã seguinte. 

- Talvez. - respondi, com uma risada e piscando para desviar o olhar rapidamente ao sentir a luz do sol arder nas minhas retinas. 

- Vou te fazer companhia para algumas conversas filosóficas nesse meio tempo então. falou, jogando os longos cabelos ruivos que caiam sobre o rosto para trás. - Então, eu encontrei o Gerard. Ele tava indo se arrumar. Soube que vocês vão sair hoje.

- É, vamos. - falei. Eu não queria soar tão curto e grosso, mas o que eu ia fazer? Em alguns momentos, eu simplesmente não tinha a menor de ideia de como continuar um assunto. Mais um para a grande lista de defeitos de Frank Iero. 

- Frank, a gente já se conhece a um bom tempo, e eu conheço o Gerard há ainda mais tempo. - ela suspirou e olhou para cima em hesitação. - Ele provavelmente vai ficar puto por eu ter tocado nesse assunto sem consultar ele antes, mas acho que ele deve ter te contado a maior parte. Mas ele passou por muita coisa.

- Como assim? - perguntei. - Não me deixe preocupado assim.

- Vícios, Frank. - ela disse. - Ele tem controle agora e tudo bem, todos nós precisamos de um pouco de diversão. Não sou uma hipócrita porque eu também uso drogas. Eu só quero que você tenha cuidado, por favor. Eu vi ele no pior estado, e não é legal ver um amigo seu assim. 

Precisei assimilar por alguns segundos o que ela falava. Gee me esclareceu sua história e seu período da vida, inclusive com Bert, até mais do que precisava. 

- Ele nunca chegou a cair tão profundamente nisso. Só virou uma válvula escape mais do que ele deveria ser. Mas, mesmo assim, se ele tivesse dado um passo a mais, ele estaria destinado a se perder e atingir o fundo daquele poço. Eu passei muitos dias com medo que aquilo acontecesse. - Elisa esfregou o rosto suado. - Não quero que você vire padrinho de reabilitação dele ou algo assim. Ele nunca precisou disso. Gerard é e sempre foi forte. Peço que você garanta que as lembranças de momentos ruins não seja maior que ele. Afinal, você está com ele agora, e ele realmente te ama. Todos precisamos de alguns cuidados de quem amamos. 

- Eu sempre cuido dele. - falei quase de imediato. - Não pense que eu deixaria ele na mão. 

- Eu sei que você não deixaria, Frank. Tô falando isso de amiga de longa data para namorado do Gerard. 

- Tudo bem... - Abaixei minha guarda após repensar. - É bom que você se preocupe com ele. 

- Ei, e com você também, seu trouxa. 

Bulletproof HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora