Negociações

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Uma hora da manhã. O horário marcado com John.

Estávamos superlotando uma caminhonete antiga e enorme, de cor vinho, que Gerard me explicou ser a peça mais querida por Harry.

Eu, Way, Harry e a até então tolerável Lindsey estávamos nos assentos principais. Três homens e uma mulher do grupo se esgueiravam para não ficarem visíveis nos outros espaços disponíveis do veículo. Eles eram o nosso reforço para o momento. Bastava uma palavra segura e eles nos ajudariam com os imprevistos.

O local em frente a calçada que nos encontrávamos estacionados era um conjunto de depósitos privados. Qualquer segurança das ruas próximas já não estava no trabalho, e quem desconfiasse de atividades ilícitas seria convencido a ignorá-las, de uma maneira ou de outra. Esperamos alguns minutos e eu sentia meu coração bater forte, não importava o quanto eu tentava me acalmar. Depois desse tempo, era nossa deixa para entrar.

Antes de nós quatro sairmos do carro, Lindsey colocou alguns sacos de pano, que, por sinal, estavam um tanto fedidos, ao redor de nossas cabeças. Imagino o prazer que ela sentiu ao fazê-los. Ainda que trabalhássemos juntos, não devia ter nada melhor do que fazer pequenas humilhações para o atual de seu ex-namorado na cabeça sádica dela.

- Ok, agora devemos estar prontos. - ela suspirou fundo, quando eu já não estava mais capaz de enxergar. - Preparados? 

- Nunca estive melhor. - Gerard disse, com a voz abafada pelo pano a frente de cada um de nós.

- Então vamos lá. - Harry disse, abrindo as portas do veículo. Pude sentir uma mão me puxar para o lado de fora e começar a prender meus pulsos para entrarmos no disfarce necessário. As mãos eram pequenas e certamente femininas, então Lindsey me guiaria como seu refém e Gerard atuaria como o de Harry. Fiquei um pouco mais tranquilo e com menos ciúmes por isso.

Caminhamos forçadamente pela rua escura, já incapazes de ver pelas vendas sobre nossos olhos. Aquilo mal havia começado e eu me sentia extremamente tenso. Mas, ainda, com um bom pressentimento que não demoraria muito para acabar. E eu e Gerard teríamos mais uma história juntos; daquela vez, eu podendo incomodá-lo pelo seu jeito envergonhado de agir com seu passado. Seriam histórias interessantes para lembrar. Mas qualquer uma com ele era.

De repente, escutei o som de uma porteira de metal se abrindo e concluí que havíamos acabado de entrar no local. Lindsey me pôs de joelhos sobre o chão e eu não consegui escutar nenhum barulho diferente, o que me fez concluir que éramos os primeiros a chegar. Logo, fiquei com certeza que termos mantido a atuação desde cedo foi uma boa ideia, porque vários passos se aproximaram de nós repentinamente de diferentes pontos do local. No mínimo três pessoas diferentes, todas que deviam ser da equipe de John. Naquele momento, em que eu dependia apenas das suposições pelos meus outros sentidos, conclui o quanto era péssimo não conseguir enxergar.

- Então, o que trouxeram para mim? - O homem disse, e pude sentir sua presença rodeando o espaço em que eu e Gerard estávamos ajoelhados.

- Dois informantes. Eu imagino que eles tenham algum envolvimento com a sua mercadoria apreendida pela polícia do outro lado da cidade há alguns meses. - Lindsey disse.

- Como eles conseguiram isso é o que eu me pergunto... Vocês se darem o trabalho de colher um presente tão grande para mim de repente é muito suspeito. - O homem parou na frente de Lindsey, que ficava ao meu lado, e escutei seus sapatos se prendendo com força ao chão.

- Não se sabe em quem pode confiar esses dias, não é mesmo? - A mulher falou, fixando-se ao chão da mesma maneira que ele. Eles pareciam muito próximos agora, e eu comecei a suar de nervosismo. As gotas pingavam pelo meu rosto coberto. Aquele pano era extremamente quente e desconfortável. Agora eu finalmente entendia o problema de qualquer refém em um filme.

Bulletproof HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora