Feridas abertas

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O dia amanheceu, e eu e Gerard estávamos prestes a conseguir algum descanso. 

Passamos as últimas horas inteiras tentando limpar e estancar os machucados, tendo que trocar de roupas com as poucas mudas reservas que tínhamos no refúgio e enfrentando a dor física a qualquer mínimo movimento e efeitos mentais do tempo ruim pós-álcool.

Eu sentia como se cada pedacinho do meu corpo fosse cair. Pelo menos, graças aos nossos cuidados e limpezas na casa que antes estava com ar totalmente abandonado, eu conseguia me sentir mais confortável por ter lavado as feridas, coberto elas com a gaze e remédios necessários (por mais que a ardência me corroesse, valia a pena para aliviar depois) e colocado uma calça e uma camisa que não estivessem cobertas com o meu sangue e de outras pessoas. Tinha certeza que Gerard também se sentia assim. 

Ainda que os raios de sol nascendo na janela invadissem o quarto que usávamos para iluminá-lo completamente, aquilo não importava. Eu só queria dormir um pouco, se eu conseguisse fazer a dor passar. 

Eu abraçava Gerard, olhando para o grande risco no seu rosto. Toda vez que lembrava de Damon em cima dele, segurando a lâmina de forma frouxa e provavelmente planejando fazer muito pior, meu ódio por aquele cara superava qualquer arrependimento que eu tivesse de ter brigado e atingindo seu rosto tantas vezes. 

- Você acha que vai deixar cicatriz? - ele perguntou, com a voz um pouco trêmula e sonolenta. Way percebeu que eu olhava para a marca em seu rosto, e conseguia perfeitamente adivinhar no que eu estava pensando.

- Não foi um corte profundo...

- Mas também não foi tão superficial. - Gerard disse. - Teria cortado muito mais se você não tivesse impedido ele. 

- É... - eu falei. 

- Acho que vai ficar marcado, pelo menos por uns meses. Depois, com o tempo, acho que vai cicatrizar mais. Já tive uns machucados desse tipo, só nunca no rosto. - ele suspirou. 

- Não vai te deixar menos lindo. - eu afirmei. - Aliás, vai te deixar ainda com mais cara de fodão do que você é.  - ele riu. 

- Talvez. Pelo menos eu vou ter um protótipo de raio do David Bowie fixo na minha cara. 

- Então! E eu sempre vou apreciar isso. - falei, tirando uma mecha de seu cabelo preto longo caindo no rosto, e revelando um sorriso discreto no canto de sua boca. 

Gerard se aproximou do meu abraço, relaxando seu rosto sobre meu braço. 

- Acho que a gente deu muita sorte de ter encontrado uma farmácia aberta no caminho para cá. - eu falei. - E de ainda ter dinheiro para pegar os remédios para os machucados.

- É. Mas nós certamente assustamos para caralho a moça que estava no plantão da madrugada quando entramos sangrando no lugar. - ele riu. 

- Talvez. - concordei. - Mas a cidade não é tão pacífica, então nem deve ter sido a primeira vez. Nós estamos praticamente na Gotham de New Jersey.

- Espere aí... - Gerard arregalou os olhos. - Frank Iero fazendo referências nerds sobre a DC e quadrinhos do Batman? Você está tentando me provocar ou eu simplesmente já tive essa influência tão grande na sua vida? 

- Eu vou ter que admitir a segunda opção. - eu ri. - Mas é bom usar isso para te provocar também.

- Ah, que injustiça, isso é quase um ponto fraco. Você só está se vingando pelas vezes que fiz isso com você. 

- Só um pouquinho. - eu sorri e brinquei entrelaçando meus dedos em uma mecha caída de seu cabelo negro.

Senti minhas pálpebras fechando e obrigando meus olhos a descansarem, por um curto segundo de sono e me obrigando a abri-los rapidamente. Gerard logo percebeu e passou sua mão pelo meu braço. 

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