A hora dos três

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Semanas se passaram, dias nasceram, feridas sararam e eu e Gerard estávamos de volta a disposição de antes, voltando a sermos úteis para o grupo e mais presentes um com o outro. Os recursos para todos estavam bons. Não eram eternos, mas a definição de 'vida de crime' não era tão ruim quanto parecia; ao menos, não conosco.  

Elisa e Rob conseguiram um ótimo valor ao aplicarem um golpe a um empresário um tanto mau-caráter, pessoalmente, no prédio de seu escritório. A história hilária de como Robert conseguiu se passar por um estilista e Elisa o seduziu com as frases mais clichês para enganar um homem cego e com desejo de uma mulher moldada ainda me surpreendia. Os dois venderam um produto inexistente com uma propaganda medíocre, e a imagem passada funcionou mais que bem. O suposto Rejuvenescedor 3001 foi comprado em quantias suficientes na empresa para alegrar o nosso grupo inteiro com a estupidez alheia. Sério, como alguém poderia cair em algo assim? As pessoas estavam muito crédulas ou ignorantes, ou os dois. Para um rico qualquer acusado de abuso sexual, o homem teve bem menos no que merecia. 

Pela vitória merecida da nossa querida dupla, todos nós seis estávamos reunidos em mais uma noite da pizza. Fazia tempo desde que conversávamos tanto, com boas bebidas e lembranças das primeiras ações no começo de tudo isso. Será que eu estava me sentindo nostálgico? 

- Mas, sério, acho que ninguém do grupo discordava que vocês dois acabariam juntos. - Elisa falou, já embriagada por no mínimo umas cinco latas de cerveja. 

- Ah! Quem não perceberia? - Gerard falou. 

- Ei! - eu o repreendi e rimos juntos. 

- Não é minha culpa se você ficou bobo e tímido quando percebeu que estava se apaixonando por mim. Ou... Espera, acabei de ouvir minha frase. É, fazer o que. Meio que foi minha culpa sim. 

Eu soquei seu antebraço de leve, fazendo o retrucar com uma mordida de leve em meu ombro. 

- Ok, ok, o papo de vocês tá fofo, e um tanto gay... Não que isso seja ruim. - Tom se levantou e pegou mais um pedaço de pizza do sabor pepperoni. - Mas eu tenho um pergunta para vocês todos, geral... - ele fez uma pausa, em mistério. Jamia ironizou, tocando baquetas imaginárias e fazendo barulhos pro anúncio. Tom mostrou seu dedo e ela riu de seu jeito ranzinza de sempre. - O que vocês acham que vai acontecer depois de tudo isso com cada um de nós? 

Houve um momento de silêncio comum no armazém, coberto pelos sons de carros e pessoas na cidade afora. Embora ninguém estivesse na condição ideal de sobriedade para isso, todos tiraram um minuto para pensar no que ele havia dito, tentando interpretar e entender de fato a pergunta. 

- O que você quer dizer com isso? - perguntou Jamia, quebrando o constrangimento com a dúvida que estava na cabeça de todos. 

- Ah, vocês sabem... Todos nós curtimos a vida aqui, o nosso grupo é como um família, bem, ele é a única família que eu tive em muito tempo. Mas nós não podemos roubar para viver para sempre. 

- Por que não?! - Elisa pareceu totalmente deslocada. - Eu gosto da maneira que vivemos. Não é como se estivéssemos fazendo mal para quem não merecesse. 

- Senta lá, Robin Hood. - Tom falou, e Elisa fingiu tacar uma garrafa de vidro vazia em sua direção. - Eu sei que nós não somos os vilões aqui, muito menos os mocinhos, é só que eu não consigo imaginar uma Jamia com coluna curvada de 80 anos assaltando alguém na rua. 

- Ei! - Jamia protestou. - Por que sou eu que seria corcunda? 

- Olhe sua postura.  - Ele riu. Jamia estava apoiada apenas com o pescoço na parte de cima da cadeira, com uma de suas pernas aberta e a outra ligeiramente cruzada e elevada no braço do assento, enquanto virava um copo com uísque. Ela levantou de súbito e fez uma careta com o gosto do álcool a atingindo. 

Bulletproof HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora