Decorrer do dia

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Já havia se passado mais de uma semana desde que Gerard e eu fomos ao bar que ele escolheu. O grupo continuava com seus lazeres e diversões rotineiras, mas as últimas operações de roubo tinham sido tão bem-sucedidas que não precisávamos buscar dinheiro por uma boa quantia de dias.

Aquela podia  não ser exatamente a vida no luxo, afinal, o armazém ainda cheirava mal de vez em quando, mas era tranquila e da forma que todos nós seis gostávamos. Mas eu conseguia alguns privilégios, como o de poder fazer um tratamento nada especial com meu cabelo depois de comprar alguns produtos em qualquer loja aleatória. 

E lá estava eu e Way, ocupando o banheiro há quase uma hora. Ele usava luvas e eu estava sem camisa. Havia passado uma máquina para raspar a lateral do meu cabelo e cortar as pontas da outras partes dele. O castanho extremamente escuro estava prestes a se transformar. Seria um processo muito mais rápido se Gerard parasse de rir da minha cara, é claro. 

- O que é que você está achando tão engraçado? - perguntei irritado, jogando para o chão os tufos de cabelo que ainda estavam presos nos outros fios. O espelho mal iluminado sobre a pia era a única forma de eu ter certa noção do que estava fazendo, sem contar Gerard por perto, que eu pedi para ser minha ajuda, e supostamente deveria estar fazendo isso.

- Nada, você fica fofo quando tá irritado. - ele soltou mais uma risadinha. - Por que você decidiu platinar um dos lados do seu cabelo tão de repente? - perguntou.

- Inspiração artística. Não é disso que você sempre fala?

- Me pegou aí. - falou.

- Agora para de enrolar e pega o descolorante.

- Ui, Frank, desde quando você se torno tão mandão? - Dei um longo e cansado suspiro como resposta. - Ei, não precisa reclamar, eu não tava dizendo que não gostei...

Gerard encheu as mãos protegidas com as luvas azuis de plástico do pó dissolvido no líquido, numa espécie de pasta. Ele passou cuidadosamente na região quase totalmente raspada acima da minha orelha. Alguns segundos depois da pasta entrar em contato com minha pele, não consegui conter:

- Ai, que droga, isso queima!

Isso só provocou mais risadas do desgraçado.

- Viu só. Muito fofo. - ele disse, recuperando-se. 

- Se você pintasse o cabelo de alguma cor, qual seria? - perguntei, virando-me em meia circunferência perfeita para ficar cara a cara com Gerard. O espaço entre a pia e a parede era apertado com nossos dois corpos ali. Agora a questão era apenas esperar alguns minutos para o cabelo descolorir no efeito desejado, ou pelo menos era isso que as instruções no verso da embalagem diziam. Way fez expressão de pensativo, mas não demorou muito para elaborar uma resposta.

- Hmm, vermelho.

- E por quê? - perguntei.

- Eu fico extremamente gostoso com essa cor. - Era minha vez de rir com seus comentários. Mas eu não podia discordar. Vermelho cairia muito bem no cabelo dele. - Quem sabe algum dia eu realizo esse meu sonho de adolescente rebelde? 

- É, quem sabe. - falei.

- E aí vou ser eu passando vergonha na sua frente e pedindo ajuda para pintar. - Eu devia estar esperando, é claro, mais uma zoação. Ele inclinou o rosto levemente para a frente e selou seus lábios contra os meus. 

- A qualquer hora. - sussurrei. Ele abriu um sorriso malicioso e eu o puxei para ficarmos totalmente colados pela cintura. Gerard percorreu suas mãos por mim.

O jeito que ele agia me deixava louco. Eu queria tê-lo para mim naquele momento e lugar. 

- O que você acha de, depois... - eu me aproximei do ouvido dele para falar. 

Bulletproof HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora