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— Marcus? — A voz de Apelathei mais parecia a de uma criança. — O que está fazendo aqui?

O anjo terminou de abrir a porta, colocando a cabeça toda dentro do cômodo e checando cada canto antes de entrar. Seu rosto estava sujo de sangue, assim como sua armadura e a espada que segurava firmemente. Seus passos eram precisos, contidos, quase silenciosos enquanto caminhava em direção a ela.

— Obviamente não é um tour — respondeu num sussurro alto.

— Você não deveria estar aqui — disse Apelathei, finalmente se ariscando a soltar a parede e dar alguns passos até ele.

Marcus simplesmente caminhou — correu — até ela e a abraçou, segurando o corpo de Apelathei com cuidado, como se soubesse que se a apertasse demais, ela desmontaria. Ele se afastou e olhou seu rosto, a preocupação nítida em seus olhos azuis-claros.

Apelathei sentiu o meio das sobrancelhas enrugando quando viu lágrimas surgirem nos olhos do anjo.

— Eu estou... — começou ele, mas parou, pigarreou e tentou de novo: — Estou muito feliz por você estar viva.

Ela sentiu um sorriso surgir nos lábios.

— Eu também.

Marcus segurou sua mão e a deixou atrás de si, usando o próprio corpo como um escudo para Apelathei. Eles deram alguns passos cautelosos, sempre olhando para todos os lados, se certificando de que não havia anjos por perto. Apelathei sentia a mão de Marcus tremer e também sentia sua pulsação extremamente acelerada. O anjo estava com medo — e não era para menos.

— Como chegou aqui? — perguntou baixinho, tentando distraí-lo um pouco.

— Ainda tenho contato com alguns Descidos. — Ele parou e olhou em volta. Nenhum som de passos ou vozes. Voltou a caminhar. — Nem todo mundo concorda cem por cento com os métodos do arcanjo.

— Disseram a você onde eu estava? — Apelathei ficou verdadeiramente surpresa. Ela não tinha uma reputação boa, muito menos entre os Descidos, e sabia que o que os servos de Deus mais queriam era sua cabeça em uma lança. Nunca a ajudariam.

— Não exatamente. Disseram-me onde eu poderia encontrar Miguel, e como o filho da puta parece ser um lunático paranoico, ele com certeza estaria com você por perto.

— Você nem faz ideia — sussurrou ela.

Marcus parou novamente e Apelathei escondeu o desconforto. Sua tíbia estava quebrada e muito mais fora do lugar do que deveria. Pisar no chão já era um desafio enorme; parar bruscamente era pior ainda.

— Para ser sincero, eu esperava encontrá-lo lá dentro com você, usando uma pinça ou alguma coisa do tipo para arrancar seus olhos ou sei lá.

Apelathei deu de ombros.

— Acho que a minha voz o deixou entediado.

— Acha que ele vai vir atrás de você? Que ele está por perto ou...?

O rosto do anjo ficou pálido. Apelathei colocou uma mão em seu ombro e apertou, fazendo-o olhar para ela.

— Eu quebro seu pescoço antes que ele chegue perto de você.

Marcus engoliu em seco e olhou para o chão, piscando várias vezes e encarando diferentes pontos do mármore sob seus pés. Depois ergueu o olhar para Apelathei e assentiu timidamente.

— Obrigado.

Apelathei não precisava nem imaginar a aflição de Marcus naquele momento. Ele estava vendo o estado dela; devia estar pensando em todas as possíveis coisas que o arcanjo fizera a ela e temendo pelas que faria a ele se o pegasse. Mas ela não deixaria que isso acontecesse. Marcus era dela, e ela dizia o quanto ele merecia ou não sofrer. Se Apelathei sequer vislumbrasse os olhos frios de Miguel no corredor, quebraria o pescoço de Marcus antes mesmo que ele pudesse soltar um último suspiro. Ele não sentiria nada — não sofreria.

Guerra dos CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora