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Killian, seu filho da puta!, gritou ela mentalmente. Ele não fez isso, não fez uma merda dessas... Terminar comigo? Quando foi que nós começamos, para início de conversa? Quem ele pensa que é para simplesmente me dispensar?

— Eu sabia que isso acabaria em merda — murmurou Lipotak, levando o cigarro eletrônico aos lábios e tragando. — Sabia...

— Cale a porra da boca, Lipotak — resmungou ela lentamente com os dentes cerrados. — Mais uma palavra sua para me lembrar o quão idiota eu sou, e eu o mato.

— O que foi mesmo que ele disse?

"Nós não podemos continuar com isso. É perigoso demais para você e para mim. Se os meus companheiros descobrirem o que temos, vão me mandar matar você, e eu vou ser obrigado a fazer. Porque se eu não fizer, outra pessoa vai vir e vai fazer isso."

— Não me lembro — murmurou ela. — Que se foda, não importa. Ele tinha razão, de qualquer jeito.

Lipotak estreitou os olhos quando fitou Apelathei.

— Você está doente? Apelathei, O Anjo Caído, o demônio mais velho que existe, está mesmo dizendo que está errada?

Se o olhar de Apelathei fosse uma arma, teria matado Lipotak naquele mesmo instante.

Ele soltou uma risada cheia de graça e ignorou o ódio crescente nos olhos da irmã.

— Vocês dois por acaso se uniram para testar a minha calma? — questionou ela. — Eu posso ser velha, mas a minha existência não incluía treinamento para aumentar a porra da paciência. Você e Killian estão praticamente me implorando para que eu os mate, só pode ser isso.

— Estou sendo realista, irmã. — Ele largou o cigarro e virou para Apelathei, olhando-a nos olhos. — Você se importa com ele. Na verdade, você se importa mais do que quer admitir. Apelathei, você já foi dispensada antes. Não aja como se fosse a mulher mais linda e irresistível do mundo. Você não é, mas desde que eu a conheço, e eu a conheço desde sempre, você não se importa com as atitudes das outras pessoas em relação a você. Aí essa gárgula aparece, vocês dois começam a se pegar e então ele a dispensa e você fica maluca. Irmã, você nunca ficou andando de um lado para o outro, furiosa, por causa de um simples homem. Nunca.

Ela olhou abismada para o irmão. Ele tinha razão. Ela nunca ficou com raiva de um homem por tê-la dispensado. Apelathei teve vários — milhares — tipos de homens em sua vida, mas nunca, em momento algum, se apegou a eles. Não importava o tempo que passasse com eles, não os tornava parte importante ou insubstituível de sua vida. Com Killian, isso não existia. Desde o primeiro momento em que o viu, ela se sentiu inegavelmente atraída por ele. Não foi amor à primeira vista — ela é um demônio e não acredita realmente em amor romântico —, mas ele mexeu com ela de alguma forma que ela não sabia nem mesmo explicar.

E Lipotak estava novamente correto. Ela se importava com Killian mais do que queria admitir para si mesma. Ligava de um jeito estranho para o que ele pensava dela.

— Eu não quero isso — disse Apelathei, tentando conter o seu pânico crescente. — Não quero isso que os humanos chamam de amor. Não quero me importar com o que ele faz ou deixa de fazer. Não somos humanos, não namoramos, casamos. Não posso ter filhos e dar a ele uma família e nem ligo para esse tipo de coisa. Eu deveria odiá-lo, Lipotak. Ele é meu inimigo, e mesmo assim, cá estou eu. Rodando de um lado para o outro, sentindo raiva dele pelos motivos errados. Eu deveria odiá-lo porque é isso o que fazemos, e não por ele ter me deixado.

— Negue o quanto quiser, irmã. Essa gárgula vai acabar com você, e nem vai precisar de uma espada para fazer isso. — Lipotak se levantou e caminhou em direção à porta de Apelathei. Abriu-a e, antes de sair, disse: — Não me oponho ao relacionamento de vocês, ou como quer que chamem isso. Mas se você morrer, eu vou matá-lo e queimar o corpo. Depois de incontáveis milênios de existência e muita dor para adaptação a esta merda de mundo, não vai ser um homem qualquer que vai tirá-la daqui.

Guerra dos CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora