Aviso

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Marcus dormia tranquilamente na enorme cama de Apelathei. Ela entrou em seu apartamento, passou pela cozinha, quase tropeçou na mesa de centro e ele ainda dormia tranquilamente. Achou aquilo engraçado. Havia se esquecido dele desde a morte de Gaurel. Ficou feliz por aquele demônio tê-la obedecido, mas não conseguia entender porque ele estava na sua casa e não em uma cela. Aquilo não a incomodava, mas geralmente só dividia sua cama com quem transava.

Cutucou de leve o braço de Marcus e ele se mexeu um pouco, mas não acordou. Segurou uma risada e tornou a cutucá-lo. O salto de susto que o anjo deu foi demais para ela. Enquanto Marcus fazia base de luta, ela ria desesperadamente. Deitou na cama de tanto rir.

— Porra, você, por acaso, quer me matar de susto? — Marcus a repreendeu.

Apelathei lutou para recuperar o fôlego.

— Relaxa, Bela Adormecida. — Sentou-se. — Quem foi que te colocou aqui? E por que você está dormindo na minha cama?

Marcus coçou a cabeça e se deitou de novo.

— Aquele demônio para quem você me entregou como se eu fosse uma mala — disse. — E eu posso ter dado a entender que nós temos alguma coisa para ele não me matar e nem me torturar.

Ela parou de rir e o encarou com a testa franzida. Em que mundo aquele demônio acreditou naquilo? Marcus era um franzino magricelo — para Apelathei — e ela podia até ser uma vadia, mas tinha escrúpulos e amor próprio. Não transaria com Marcus nem que a vida dela dependesse do ato. Até pensar nele nessa forma lhe parece nojento.

— Você sabe que para mim você é tipo um adolescente chato que eu posso ter me apegado, não sabe?

Marcus lhe mostrou o dedo do meio.

— Por que está com essa cara? — ele perguntou, mudando de assunto.

— Que cara? — Apelathei foi até sua geladeira, pegou uma garrafa de água e bebeu um gole.

— De quem viu o diabo em pessoa. — Ela ergueu as sobrancelhas e o olhou com cara de quem queria bater nele. — Certo, me deixe reformular: com cara de quem viu uma coisa muito ruim, ruim mesmo.

Ela não respondeu. Foi procurar o pudim que havia guardado — e não o achou.

— É por causa do arcanjo?

Ela não se deu ao trabalho de virar para encará-lo.

— Como sabe? — Revirou a geladeira e não conseguia achar nada do que tinha lá antes.

— Eu senti — respondeu o anjo. — Minha espinha gelou quando os pés dele tocaram a Terra. Foi...

— Doloroso — ela completou, sabendo exatamente qual era a sensação.

— É... — Marcus sussurrou. — E assustador.

Apelathei parou, olhando para o nada. Aparentemente, ela não era a única com medo do arcanjo. Marcus também estava e se ela estivesse certa, ele não era o único anjo. Muitos outros também estariam, porque Miguel estava na Terra para reorganizar o exercito de Deus — o que significava cortar membros que ele considerava inúteis; e o cortar dele era literal.

Passou a mão pelo rosto, odiando a sensação de medo que percorria suas veias. Estava agindo como uma adolescente de filme de terror barato, com medo até da própria sombra. Precisava lembrar que não se tratava apenas dela, mas de muitos outros Caídos que estavam com suas vidas cronometradas. Quando Miguel começasse a limpa — e ele a começaria muito em breve — muitos perderiam a vida por nada. Estar no lugar errado, ser uma jovem bruxa, ter sido transformado por um idiota egocêntrico...

Guerra dos CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora