Entre Irmãos

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— Para, porra — Apelathei reclamou quando Lipotak começou a rir mais alto, mais escandalosamente. — Não tem porra de graça nenhuma, idiota.

Lipotak engoliu e respirou fundo. Passou os dedos pelas pálpebras e arrumou a postura.

— Algum dia vocês dois ainda vão me matar de rir — disse, caminhando mais a frente da irmã na imensidão da floresta coberta de árvores sem folhas, e neve.

Apelathei revirou os olhos, ignorando a piada do irmão. Sorriu para si mesma, lembrando do sonho consciente que tivera com Killian. Não deveriam ter feito o que fizeram — não que ela se arrependesse — e muito menos em um sonho. Mas Killian era Killian e ela era fraca perto dele. Não conseguia mentir para si mesma e dizer que conseguiria dizer não a ele. Porque sabia que não conseguiria — talvez nunca conseguisse.

— Vocês precisam admitir — Lipotak disse.

Ela parou onde estava — quase atolada na neve — e encarou o irmão.

— Admitir o quê? — perguntou de um jeito mais áspero do que pretendia.

Lipotak ergueu cinicamente uma das sobrancelhas e abriu um pequeno sorriso de canto de boca, colocando uma mão na cintura.

— Admitir que... — Eles ouviram um som de coisa estalando e seus olhos se arregalaram. Olharam em sincronia para o lado, de onde o som tinha vindo.

— O que foi isso? — ela proferiu como um sussurro, apesar de não ter sido um.

— Eu não sei. — Lipotak andou um pouco para frente, o corpo ficando alerta. — Algum animal? — sua voz saiu tão baixa quanto à da irmã.

Apelathei ficou ao lado de Lipotak, andando os dois devagar, mas atentos. O som de estalo foi ouvido outra vez e ela se arrependeu de não estar armada. Os estalos se tornaram passos e eles ficaram ainda mais alerta. Os olhos dos demônios percorreram as árvores meticulosamente, mas não viram nada de anormal — até o som ficar próximo.

— Puta que pariu... — Lipotak pronunciou.

Cinco anjos, com as asas brancas e imensas, expostas, encarando-os de maneira medonha e raivosa. Apelathei e Lipotak estavam em desvantagem numérica — e empatados, considerando que assim como eles, os anjos também não estavam armados. Um dos anjos rangeu os dentes, armando posição de luta.

— Lipotak? — Apelathei murmurou calmamente. — Para quem você disse onde eu estou?

— Ninguém. Eu não contei nem a Killian, quanto mais aos outros.

Ela não precisava perguntar novamente para saber que ele falara a verdade. Lipotak podia ser um galinha, mas não era um traidor. Não com ela. Nunca.

Eles se entreolharam com cuidado. Lipotak estava à direita da irmã, poucos centímetros de distância dela. Sorriram um para o outro e olharam para os cinco anjos que os encaravam lentamente. Os olhos dos irmãos ganharam a coloração alaranjada e veias surgiram em suas pálpebras inferiores. Cada um inclinou a cabeça para um lado, olhando mais cuidadosamente para os inimigos a sua frente.

— Eu fico com os dois da direita e você com os três da esquerda — ele disse.

— Por que eu fico com mais?

Lipotak a olhou e lhe lançou uma piscadela com um sorriso maroto antes de sair correndo para mais adentro da floresta, deixando-a com três dos cinco anjos. Ela levou as mãos à cintura e sorriu docemente.

— Vocês não bateriam em uma garota, certo?

...

Lipotak parou de correr e se virou. Os dois anjos — como esperado — estavam atrás dele. As caras de medo superavam a falsa determinação estampada em seus rostos e aquilo o divertiu. Não era todos os dias que entrava em conflitos — e dificilmente saía perdendo deles. Sorriu e esperou.

Guerra dos CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora