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"Não morra. Ainda preciso de você. Permaneça viva, minha querida. Você não pode morrer agora. Não pode morrer...", uma voz baixa e aveludada lhe disse isso. Era como se estivesse dentro da sua cabeça, e ela odiou. Aquilo a lembrava o Céu. O sussurro profundo e calmo era como a voz de Deus dentro dela. Ela não queria isso. Não queria ouvi-Lo nunca mais. Simplesmente não queria. Apenas a sensação das ondas vocais reverberando em sua mente era suficiente para deixá-la com raiva.

Apelathei abriu os olhos lentamente, e a sua visão estava completamente escura. Ela não enxergava um palmo à sua frente e começou a se desesperar. Respirou fundo e tentou se acalmar e ouvir em volta. Sussurros calmos eram pronunciados, mas nada que ela conseguisse entender. Tentou o olfato e sentiu o cheiro de ervas, sangue, terra e rosas. Ponderou se estaria morta, mas achou a possibilidade de estar no Inferno ou no Purgatório inviável.

Sua visão retornou de maneira gradativa. A primeira coisa que viu foi uma mancha branca, e logo em seguida, um rosto. Uma mulher de olhos amarelos — uma bruxa. Olhou em volta e viu vasos de plantas. Notou que estava em uma cama e sentiu a maciez dos lençóis contra a sua pele estranhamente sensível. Sua visão ainda estava embaçada, mas viu quando a mulher a olhou e deu um passo para trás, saindo rapidamente do quarto.

A mulher fechou a enorme porta de mogno e Apelathei ouviu quando ela disse para alguém:

— Ela acabou de acordar.

A porta foi escancarada, e Lipotak entrou no cômodo quase correndo. Ele a olhou, e Apelathei viu lágrimas nos olhos do irmão. Ela se lembrou que a última vez que ele chorou foi quando caíram na Terra. Ele se sentou ao seu lado na cama e segurou a sua mão. Engoliu em seco e passou suavemente as costas da mão livre no rosto da irmã.

— Você é uma grande filha da puta, sabia?

— Também senti a sua falta — disse ela, sorrindo para o irmão. Olhou em volta e viu Sagara parada na porta, olhando-a. Sentiu falta de uma pessoa. — Onde está Killian? — murmurou.

Lipotak olhou para Sagara e depois para Apelathei.

— Ele não pode entrar aqui. Está lá fora. Gárgulas não são permitidas na Casa das Bruxas.

Ela engoliu e tentou se levantar devagar. Apenas por se sentar, sentiu tontura e enjoo.

— O que eu estou fazendo aqui?

— Você estava doente — falou Sagara.

— Essa parte eu já notei. Só que eu me lembro de estar doente em uma floresta montanhosa na Europa. O que eu estou fazendo na Casa das Bruxas?

Lipotak segurou o seu braço.

— Você estava quase morta. Killian não sabia mais o que fazer. Ele trouxe você para mim, e eu trouxe você para Sagara.

Ela desviou o olhar do irmão para a bruxa.

— O que eu tinha? Conseguiu tirar de mim?

— Era uma doença. Feita especificamente para demônios. Estava matando você de dentro para fora.

— E como eu ainda estou viva?

Sagara fez cara de desdém.

— A gárgula. Ele trouxe você para Lipotak a tempo. Mais um dia e você teria morrido.

Apelathei passou uma mão pelo cabelo desgrenhado.

— Você disse que era uma doença. Quem foi que a criou? Os Descidos não têm poder para criar nada assim, e pelo que eu sei, nem os humanos.

— Aparentemente, e dificilmente acreditável, uma bruxa. Mas se foi, coisa que eu acho muito difícil, ela era fraca. A intenção da doença era matar você em minutos. Você teve dias. Sofreu por dias.

Guerra dos CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora