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A reunião havia sido marcada.

Killian conseguira — com grande relutância de muitos — um encontro para aquela noite. Seria ao ar livre e cada líder dos dois lados poderia levar quantas pessoas quisesse. Apelathei já esperava essa reação dos Descidos — Descidos porque, diferente dela e dos seus, eles vieram a Terra por vontade própria, não foram expulsos do Céu.

Ela estava nervosa — coisa que raramente ficava por causa da idade — e começou a andar em círculos por seu apartamento. Lipotak estava em sua cozinha, preparando para si uma bebida. Ele a olhou e fez uma careta.

— O que tem de errado com você?

— Estou pensando nas decisões que preciso tomar em um futuro próximo.

Lipotak levou o copo de uísque com gelo e limão aos lábios e bebeu como se fosse água. Demônios tinham grande tolerância a álcool, drogas ou qualquer outro tipo de entorpecente humano.

— Engraçado. Eu poderia jurar que é por causa de certa gárgula.

Apelathei parou de andar e lançou um olhar de alerta ao irmão.

— Não se meta na minha vida pessoal, Lipotak.

— Em primeiro lugar, nós somos irmãos, o que me dá passe livre para me meter na sua vida o quanto eu quiser. Em segundo, somos demônios e mesmo assim estamos nos importando com os sentimentos uns dos outros? — Ele se jogou no sofá e levou novamente o copo aos lábios. — Estamos convivendo demais com os humanos. Tantos anos com eles e estamos adquirindo a mania deles de serem sentimentais.

Ela se sentou ao lado dele.

— Eu odeio isso. — Passou as mãos pelo rosto. — Odeio a maneira como ele me faz sentir vulnerável — admitiu.

Lipotak lhe deu um olhar condescendente.

— Odeia a maneira como ele a faz sentir vulnerável ou odeia o fato de que se as coisas saírem do controle, ele vai realmente se tornar o inimigo? Se isso acabar indo além da nossa capacidade de estabilização, você vai ser obrigada a encará-lo como um inimigo, o que vai ser o atestado de óbito de um de vocês.

Lipotak estava certo. Estavam passando muito tempo com os humanos. Estavam se tornando sentimentais. Demônios mais jovens do que eles não teriam esse autoquestionamento. Não pensariam duas vezes caso fosse necessário matar alguém, e fariam até mesmo sem que houvesse qualquer necessidade. Ele e Apelathei estavam na Terra antes mesmo dos dinossauros, droga. Viram milhares de mortes, viram a capacidade de destruição e de criação dos humanos. Eles conheciam cada aspecto bom e ruim dos humanos, e ainda ficavam surpresos em como eles podiam mudar do zero. De bondade a maldade num piscar de olhos...

Lipotak virou o resto da bebida e olhou para a irmã com o cenho franzido.

— Está pronta?

Ela não olhou para ele quando respondeu:

— Seja o que o Diabo quiser.

APELATHEI, Lipotak, Cassilius e Sagara estavam parados no meio do nada, o local marcado para a reunião. O lugar estava cheio de bruxas, vampiros e demônios, todos "convidados" pelos outros líderes dos Caídos. Ela não chamou ninguém. Queria passar aos Descidos a ideia de que não precisava de proteção. E não precisava mesmo. Apelathei era velha. O que mais teve foi tempo para aprimorar o próprio corpo, e lutar com ela era uma das piores ideias do mundo.

Ela usava calças de couro, camisa de manga longa, casaco e botas que iam até as coxas. Tudo preto. Seu cabelo estava solto, e o vento de outono fazia com que ele fosse parar em seu rosto o tempo inteiro. Todos os seus dedos, das duas mãos, estavam cheios de anéis finos.

Guerra dos CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora