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— Eu não quero ficar calmo — gritou Lipotak enquanto Sagara passava uma mão pelo cabelo exasperadamente. — Eu quero saber onde porra ela está!

— Talvez você devesse parar de gritar e procurar se acalmar, caralho! — rosnou de volta a bruxa.

Era surpreendente que ela estivesse realmente falando com Lipotak em um tom tão áspero, mas era estranhamente fascinante também. Os dois costumavam ser sempre tão suaves um com o outro, falando em tom de gentileza e cuidado o tempo todo, não importando a situação.

Bem... até aquele momento, aparentemente.

Apelathei havia sumido — novamente —, e Lipotak estava quase ficando careca de tanto agarrar o próprio cabelo enquanto andava de um lado para o outro, perguntando a si mesmo em voz alta onde ela poderia estar. Ao que parecia, seu contato mental com Apelathei não estava funcionando, porque sempre que ele tentava entrar na mente dela, tudo o que via era o escuro, como se o demônio estivesse fora do ar, como uma rede Wi-Fi — ou pior, morta.

Marcus engoliu várias vezes em seco, louco para falar alguma coisa, mas receoso demais em transformar a preocupação de Lipotak em ódio — dele. Então, como um bom lacaio assustado, permaneceu sentado em seu lugar, ao lado da cadeira vazia de Lukka, em silêncio.

Se fosse pelo menos um pouco mais corajoso, teria feito a pequena — porém óbvia — observação de que havia algumas pessoas faltando naquela sala, e o vampiro assustadoramente esquelético Cassilius era uma delas. E, segundo Sagara, Apelathei requisitara aquela reunião, mas o vampiro não estava lá como todos os outros.

E se fosse só um pouquinho mais corajoso, também teria observado que Apelathei e o vampiro não tinham uma das relações mais respeitáveis um com o outro. O vampiro pensava tão pouco de Apelathei, quase com escárnio sempre que dizia o nome dela... Ele demonstrou tão pouca preocupação com o sequestro dela que era mais do que claro que realmente não se importava com a vida do demônio. É claro, indiferença não era exatamente um motivo justificável para ir atrás de alguém, mas Apelathei nunca demonstrou ser uma pessoa de profundidade quando se tratava de matar alguém.

Vários minutos se passaram e a gritaria, que deveria ter ao menos se tornado uma discussão produtiva, estava ficando cada vez mais alta e histérica. Lipotak gritava de um lado; Sagara rebatia do outro. Lukka dizia uma coisa daqui; um demônio que Marcus nunca vira rosnava outra dacolá. A educação, coitada, pulara pela janela quando alguém simplesmente cuspiu no chão, sem motivo algum, e o caos entrou na sala desfilando, tomando seu lugar de destaque.

Quando o leve odor de coisa queimada chegou ao nariz de Marcus, ele virou o rosto para a esquerda, encontrando uma Apelathei detonada.

O demônio estava sujo da cabeça aos pés, além de estar completamente encharcado. Suas roupas estavam quase que inteiramente queimadas, exceto pela camisa preta claramente masculina que usava. Alguns pedaços de sua pele estavam queimados e haviam derretido dos ossos, mostrando mais do que qualquer um deveria ver do corpo de outra pessoa — a menos que estivesse fazendo uma autópsia. O nariz dela sangrava, despejando o líquido preto que corria por suas veias em sua boca e escorrendo até o queixo.

Marcus se levantou automaticamente, sentindo os músculos doerem a cada passo que dava em direção a Apelathei. Os olhos dela estavam fixos no grupo gritador à sua frente, mas ela não parecia realmente vê-los. Era como se sua mente estivesse longe e seus olhos estivessem simplesmente fixos em qualquer coisa.

Quando ele tocou com cuidado seu ombro, ela saltou levemente, piscando com força e encarando-o com o cenho suavemente franzido. Um sorriso fraco, sem um pingo de emoção real, apareceu nos lábios brutalmente machucados de Apelathei quando ela olhou para o rosto de Marcus.

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