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Killian pousou o mais cuidadosamente que pôde, mas mesmo assim, Apelathei gemeu. Ele podia ver no rosto dela o quanto estava sofrendo, e, por um minuto, ele sentiu a sua dor.

Ele voltou à forma humana ainda com ela nos braços e caminhou para dentro da fortaleza. O antigo abrigo das gárgulas nos arredores búlgaros seria o local perfeito para se esconder. Quem imaginaria que ele usaria o lugar em que começaram com tudo isso para se refugiar?

Abriu a porta da entrada e carregou Apelathei escadas acima para o seu antigo quarto.

Algumas coisas haviam mudado com o passar dos séculos, mas ainda se pareciam com antes. Ninguém mais usava o refúgio, mas ainda pertencia às gárgulas.

Ele abriu a porta do quarto devagar e entrou. Colocou Apelathei deitada de lado sobre a cama, e ela gemeu mais alto.

— Killian... Tire.

Ele olhou a flecha de metal nas costas de Apelathei e desejou matar Dyryam. O filho da mãe a acertou pelas costas. Não teve nem mesmo a coragem de fazê-lo pela frente. Parte dele ficou feliz com isso. O jeito como Apelathei se contorcia de dor mostrava que era melhor estar em suas costas do que em seu coração.

Killian afastou um pedaço do vestido dela e quase gemeu ele mesmo.

— Não posso — murmurou ele. — Eu não posso fazer isso.

— Killian, tire isso de mim, agora! Está queimando! Killian!

Ele puxou a flecha de vez, e ela gritou. O sangue de Apelathei começou a escorrer e ela gemeu mais alto.

— As suas costas...

— O que tem as minhas costas? — perguntou ela, sua voz quase em pânico. — Killian?

Ele não respondeu.

Ela se levantou cambaleante da cama e foi em direção ao espelho no canto do quarto. Quase caiu, mas Killian a segurou. Quando os olhos de Apelathei encontraram a sua pele, ela levou uma mão à boca, reprimindo um grito iminente. O lugar em que a flecha esteve agora estava preto, como se as veias mais próximas estivessem contaminadas. O sangue de Apelathei era escuro, mas aquilo que escorria dela era praticamente uma lama negra. Parecia uma infecção se espalhando. Subia por suas costelas e estava quase no meio de suas costas.

— Eu não sei o que é isso — disse Killian, e ela viu dor em seus olhos enquanto olhava para as veias pretas expostas na pele dela. — Eu nem sabia que tínhamos alguma coisa capaz de infectar um demônio. Achei que vocês fossem inumes a qualquer tipo de doença.

— Eu também achei. — Apelathei começou a tirar o vestido, ficando apenas de calcinha. Olhou novamente no espelho e viu que as veias escuras chegavam até embaixo do seu seio esquerdo. Já a queimação e a dor eram por todo o seu corpo. — Isso vai me matar. Killian, eu... — Ela desmaiou antes de conseguir completar a frase.

NÃO CONSIGO... Estou caindo... Lúcifer!... Asas... Meu corpo... Dor... Dor... Não consigo... Eu O odeio... Ele me deixou... Dor... Preciso de... Dói...

APELATHEI ACORDOU SUANDO FRIO E TREMENDO DESESPERADAMENTE. Falta de ar a dominava, e ela levou as mãos ao peito, sentindo as batidas aceleradas de seu coração. Olhou em volta, mas estava escuro. Não via Killian em lugar algum e um pânico muito humano cresceu dentro dela.

A porta do banheiro foi aberta e um pouco de luz entrou parcialmente no quarto. Killian saiu de lá sem camisa. Ele parecia cansado. Olhou para ela e sorriu discretamente — e ela poderia estar enganada, mas achou ter visto alívio nos olhos dele. Ele se aproximou e sentou na borda da cama.

Guerra dos CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora