"Olá!"

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Apesar de estar calado, Killian não estava feliz. Não queria que Apelathei fosse ao encontro com o arcanjo de jeito nenhum! Com o temperamento "maravilhoso" que Apelathei tinha, as chances dela fazer alguma merda eram enormes e as dela morrer eram maiores ainda. Havia desistido de muitas coisas apenas para deixá-la morrer simplesmente.

— Você não vai — disse antes que percebesse.

Ela largou o envelope amarelado sobre a cama e o olhou surpresa.

— Por que não? — indagou. — E desde quando você me diz o que fazer?

Passou violentamente as mãos pelos cabelos e a olhou seriamente, cruzando os braços de maneira autoritária.

— Desde que você não tem maturidade suficiente para tomar decisões. E você está com medo dele — concluiu.

Apelathei enrugou os cantos da boca e mesmo sabendo que é errado, ele não conseguiu evitar a leve excitação que sentiu ao vê-la daquela maneira.

— Eu não estou com medo dele.

— Claro que não está — zombou, revirando os olhos. — Mas aquela mulher ajoelhada no chão noite passada com certeza estava. — Soltou uma lufada de ar e foi até ela. — Apelathei, você estava fora de si. Eu nunca vi aquele seu olhar. Era medo. Medo de verdade. — Segurou o rosto dela com as duas mãos, apertando-a um pouco. — Eu vi. Nunca pensei que veria aquele olhar em você, eu juro. Você não faz ideia de como eu fiquei assustado.

Ela não disse nada por alguns segundos, apenas o olhou impassivelmente. Afastou-se dele e foi até a cozinha, pegou um copo e o encheu com um liquido âmbar — que ele achava ser uísque — e virou em dois goles. Repetiu o processo, bateu o copo sobre a bancada de mármore e o olhou.

— Não posso recusar o convite — disse. — Mesmo estando ou não com medo, não posso. Ele vai vir atrás de mim se eu não for até ele. Miguel não é Gaurel. Miguel é Miguel. Alguém importante, muito mais forte do que qualquer anjo que está na Terra. Ele não era um qualquer no céu e não é um qualquer aqui.

Killian sentiu aquela sensação no peito. A mesma que sentiu quando disse aos líderes gárgula que mataria Apelathei. Odiava aquela sensação porque sabia que ela queria dizer alguma coisa. Queria dizer que se importava com o demônio — um pouco mais do que deveria. Porém, com aquela sensação vinha à outra — ódio. Nem conhecia Miguel e já o odiava com todas as forças. Apenas de imaginar o que ele havia feito com Apelathei, desejava poder torturá-lo e matá-lo. Desejava queimar as asas dele e depois fazê-lo comer os pedaços. Ninguém machucaria Apelathei. Ele atravessaria o céu e o inferno atrás de quem o fizesse e faria o infeliz sentir mais dor do que conseguiria imaginar ser possível.

— Killian? — ela o chamou, tirando-o do devaneio.

Apelathei saiu de trás da bancada e ele a olhou de baixo para cima, analisando cada detalhe do corpo dela. As unhas dos pés pintadas de preto, as pernas longas, a cintura fina, os seios — que para ele eram os mais lindos do mundo —, os ossos da clavícula, o rosto angelical e bruto ao mesmo tempo, os olhos levemente esticados e castanhos tão escuros que eram quase pretos. Desceu um pouco e percorreu os lábios dela com os olhos. O arco de anjo perfeito e aquela separação dos dentes centrais que eram fofas demais e sensuais de uma maneira esquisita.

— Eu vou com você — murmurou.

— Você não pode. Não deveria nem estar aqui comigo. Sabe disto e vai acabar causando a própria morte.

— Você não vai a lugar nenhum sem mim e muito menos falar com o arcanjo que mutilou você, sem que eu esteja junto.

Ela abriu um sorriso de canto de boca e balançou a cabeça.

Guerra dos CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora