Conflito

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Killian deixou a sala de reuniões furioso. Aquilo estava se tornando um hábito — hábito que ele odiava. Dizia uma, duas, diversas vezes que os Caídos deveriam — pelo menos — tentar não arrumar alguma briga com Descidos, mas era como falar com Apelathei. Eles pareciam ansiar pela luta, pelas mortes. Principalmente os demônios. As criaturas de olhos laranja quase saiam gritando para todos ouvirem que eram mais do que capazes de matar Descidos.

Ele sabia que não era um deles, que não tinha autoridade para lhes dizer o que fazer, mas não dava. Aqueles líderes — Sagara e Cassilius — apenas incentivavam que eles fossem atrás de guerra, de sangue. Em parte ele entendia a raiva da bruxa — ela perdera dezenas de seguidoras, de amigas, de irmãs —, mas o vampiro não o convencia. Cassilius parecia não dar à mínima para seus soldados, apenas queria que eles matassem — quem quer que fosse. Quanto mais mortes, para ele, melhor. Só que a coragem daqueles vampiros, o rancor daquelas bruxas e a paixão por matar daqueles demônios seriam suas assinaturas de óbito. Eles precisavam entender que estava em uma guerra, e em guerras é necessário paciência e, principalmente, estratégia.

A gárgula saiu pisando duro, olhando para o chão para não quebrar alguma coisa.

— Pare! — a bruxa Sagara gritou.

Killian continuou andando, ouvindo os passos apressados dos saltos dela ecoarem pelo mármore. A mulher agarrou seu braço e um instinto primitivo — seu lado gárgula — dele quase o fez acertar a mão no meio da cara dela — e o desejo de matá-la quase o consumiu. Virou bruscamente para encarar com o olhar sanguinário da bruxa quase vinte centímetros menor que ele. Os olhos de Sagara o fitavam com a mesma raiva dele, mostrando que o desgostar era mútuo.

— Não se atreva — ela disse com a mandíbula travada.

— Não me atrever a quê?

— Não se atreva a achar que só porque você está nos ajudando é você quem manda aqui. — Ela ergueu o dedo, apontando-o para o rosto de Killian. — Você é apenas o antigo bichinho de estimação de Apelathei. Nada mais.

Ele inclinou a cabeça, abrindo um sorrisinho presunçoso.

— Antigo, é?

A mulher enrugou o rosto instantaneamente, olhando-o com ar de confusa.

— Ela deixou você — disse Sagara, erguendo a cabeça com a mesma presunção de Killian. — Ela mesma me disse isso.

Foi à vez de Killian demonstrar confusão.

— Quando ela disse isso? — Uma raiva estranha nasceu no peito da gárgula.

A bruxa o olhou de cima a baixo e de volta, colocou a mão na cintura e sorriu.

— Quando transou comigo.

Ele ficou em silêncio, processando a informação que acabara de receber. Sagara e Apelathei? Não faça isso, não vá para esse lado, proferiu mentalmente. Controle-se.

Ele abriu os olhos e sorriu educadamente para a bruxa.

— Meus parabéns. Você é mais uma na grande lista dela. — O rosto da mulher enrugou. — Passar na minha cara que transou com ela não vai tornar você uma líder melhor, e nem uma pessoa mais inteligente. — Deu as costas a ela e começou a andar. — Quando for capaz de coordenar um exército inteiro, aí sim vai poder se vangloriar de alguma coisa.

Não parou para olhar a reação da bruxa — porque precisava controlar o próprio temperamento. Tirou o celular do bolso e ligou para Lipotak. O celular tocou, e cada toque lhe dava mais raiva. Depois de cinco toques o demônio finalmente atendeu, usando aquele tom de voz maroto de quem não está nem aí para coisa alguma. Killian não fez rodeios.

Guerra dos CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora