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Foi fácil entrar na casa dos anjos. Apesar de todos os Descidos terem o talento de se esconder muito bem, era mais próximo do que ela imaginou. Apelathei sequer via necessidade de ficar escondida dentro de uma gruta escura e úmida. Ela gostou da fortaleza dos anjos. Era grande — obviamente — e em estilo medieval. Entrou pela passagem que Marcus comentou.

O anjo poderia estar mentindo para ela, e aquela era uma possibilidade que Apelathei não descartara, mas ela sabia que ele sabia que seria uma atitude muito idiota tentar enganá-la. As chances de Gaurel matá-la sozinho eram quase nulas — e ela mataria os dois antes de eles conseguirem fazer qualquer coisa contra ela. Também sabia que era mais do que imprudentemente estúpido invadir a casa dos inimigos, mas eles tinham jogado sujo — e ela queria devolver o favor. Cortar fora a cabeça de Gaurel lhe parecia uma maneira maravilhosa de dizer "obrigada".

Observou quando dois anjos passaram pelo corredor que daria no quarto de Gaurel e esperou pacientemente eles pararem de fofocar e irem embora. Os dois partiram, e ela acelerou o passo para o quarto do anjo, tomando cuidado para que os seus saltos não ecoassem no chão de pedra da construção antiga. O corredor era escuro, mas tochas presas às paredes iluminavam o suficiente para que não tropeçasse ou pisasse errado em algum lugar. Caminhou mais rápido, com passos largos, até que viu uma porta grande de madeira escura e entalhada entreaberta. Apelathei empurrou levemente a porta e os seus olhos se arregalaram enquanto a sua boca abria, abismada. A bile subiu, e ela sentiu um gosto ruim na boca, reprimindo a vontade súbita de vomitar.

Mas que porra é isso?

GAUREL ESTOCAVA CADA VEZ MAIS DESESPERADO DENTRO DO CORPO DA HUMANA. Sentia raiva por não conseguir sustentar uma ereção por muito tempo, tendo que foder com corpos que não eram o que ele realmente queria.

A humana era negra, com o cabelo acobreado e os olhos levemente esticados. Seu corpo e aparência foram selecionados para se assemelharem ao corpo do demônio que tomava conta da mente dele. Mas agora ela estava morta, e ele nunca mais conseguiria fodê-la. Parte dele ficou extremamente feliz com isso, mas a outra parte queria gritar de raiva por não ter conseguido foder aquele corpo enquanto ainda teve tempo.

Filha da puta. Espero que tenha sofrido muito antes de morrer, sua vagabunda. Agora o seu feitiço sobre mim vai desaparecer.

Estocou mais forte na humana amarrada e vendada em sua cama. O corpo dela nunca chegaria aos pés do demônio, mas a cor da pele e do cabelo poderia iludi-lo momentaneamente. A venda em seus olhos era proposital, é claro. Não queria olhos humanos olhando para ele. Internamente, queria olhos laranja fitando-o enquanto metia mais forte dentro do corpo dela.

A humana gemeu e se mexeu, e ele a segurou com força pelos braços erguidos e a mandou ficar parada. Não a queria se mexendo. Não queria que os seus corpos se tocassem mais do que o necessário.

— Pare — gemeu a humana. — Está me machucando. — Ela se mexeu mais. — Está me machucando, já chega!

Gaurel a segurou pela garganta e apertou os dedos em volta da pele escura.

— Fique calada antes que eu mate você, imunda.

— Acho que ela mandou você parar. — O choque por estar sendo observado o fez se virar abruptamente para trás, ainda dentro da humana. Era o demônio. Ela estava viva! — E se ela é imunda, por que está dentro dela?

Antes que Gaurel conseguisse cair em si, o demônio estava sobre a sua cama, com uma faca em seu pescoço e puxando o seu cabelo para trás com força.

— Eu sabia que você era um pervertido nojento, mas aparentemente, subestimei a sua perversão. — Ela pressionou a faca com mais força em sua garganta, e ele sentiu quando um pequeno corte foi aplicado sobre a sua pele. — Uma humana com a minha aparência? Sério? Você é repulsivo. Eu não ficaria surpresa se ela estivesse usando lentes de contato laranja.

Guerra dos CelestiaisOnde histórias criam vida. Descubra agora