Florescer Carmesim

71 7 22
                                    


Entendi o motivo pelo qual poderia ser forte

Me leve adiante com você

Oh, lótus carmesim, floresça com orgulho!

Ilumine o destino

(Gurenge - LiSA)

: :

Pedras cinzentas. Alexia nunca se sentiu tão feliz ao ver meras pedras cinzentas e lascadas no teto do quarto da casa de Peixes. Não conseguia se mexer com toda autonomia, seu corpo estava fraco, os músculos não sustentavam as ordens para que se movesse. Moveu lentamente a cabeça, tentando enxergar o restante do quarto. Albafica estava ali, sentado em uma poltrona, dormindo. Tentou chamá-lo, mas a voz soava fraca como o assobio de um pássaro caído.

— Albafica — tentou mais uma vez.

Ele abriu os olhos, ainda confuso pelo sono. Ela tenta estender a mão para acenar para ele, mas sentia-se como uma boneca de pano. Estava há quanto tempo sem comer? Quanto tempo deitada naquela cama?

— Alexia, você — ele se levanta, os olhos bem abertos de surpresa — Você acordou!

Ela sorri enquanto ele se aproxima, ajudando-a a se sentar na cama. Albafica sentia o coração batendo acelerado de tanta alegria. Ouvir de novo a voz de Alexia, ver seus olhos abertos cheios de vida, ele jamais saberia colocar em palavras.

— Tenho que trazer algo para você comer. Para se recuperar mais rápido. — diz, mas na verdade estava tão eufórico que não sabia o que fazer primeiro.

Então ele a abraçou apertado. Estava quente, viva. Estava com ele novamente.

: :

Finalmente o clima na casa de Peixes era mais leve e alegre. Todos vieram para saudar a aprendiz que havia retornado. Albafica passou pela porta com uma cuia cheia de um caldo de sopa fumegante para alimentar a enferma. Degél havia feito todas as checagens necessárias, e era só uma questão de continuarem o Elo Carmesim e alimentar bem à Alexia, para que o corpo se recuperasse dos dias de cama.

— Assim que a guerra começar, faço questão de descer ao Yomotsu e quebrar a cara daquele Caronte três vezes. Ele vai reviver, e eu vou quebrar ele de novo. — diz Manigold.

— Seria ótimo poder ver isso, mas não quero ver aquele lugar nunca mais. — comenta Alexia, aceitando uma colher da sopa que Albafica lhe oferecia.

— Estou tão feliz que você está de volta! Que alívio, amiga! — comemora Selinsa.

— Ela estava ficando histérica. — diz Giocca, sentada em um canto — E aquela ordinária, nenhum sinal?

— Sumiu igual fumaça. — afirma Manigold — Mas ela também não me escapa.

— Nada disso, Manigold — interrompe Alexia, depois de tomar mais uma colherada de sopa — Quem vai acabar com ela sou eu. Ela me deve muito.

Giocca soltou uma piada sobre ela ainda estar doente demais para prometer algo assim, mas mesmo com isso o quarto foi tomado por um clima estranho e um silêncio melancólico. Alexia ainda não sabia que Agathia lhe devia muito mais do que pensava: havia atacado o vilarejo e, consequentemente, causado a morte de sua mãe. Ninguém sabia como dizer isso à aprendiz que acabava de voltar, literalmente, do inferno.

: :

Dormir passou a ser um desafio para Alexia. Tinha medo de fechar os olhos e ver aquele lugar, aquela paisagem horrível, receava ouvir os gritos que ainda ecoavam em sua memória, a cena da fila de pessoas se atirando pelo Yomotsu, com seus olhares desprovidos de vida e esperança. Tentava se distrair até eventualmente não conseguir lutar mais contra o sono. Se mexeu na cama, incapaz de adormecer. Não deixava mais que Albafica apagasse as velas e por isso podia ver seu rosto calmo enquanto descansava. Vê-lo a acalmava. Não havia amanhecido ainda, mas ela não conseguiria voltar a dormir.

A Nova RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora