Capítulo 36

144 17 10
                                    

HARRY

"Ah meu Deus!" Ela diz entre gargalhadas. Continuo rindo da minha história. "Eu juro que isso aconteceu. Eu tinha dez anos." Falo limpando as pequenas lágrimas que saíram dos meus olhos de tanto rir.

"Você foi muito mal com ele." Ela diz. Concordo com a cabeça. Estamos aqui na ponte a não sei quanto tempo. Estamos contando histórias do que já fizemos e queremos fazer. A conversa com ela flui tão livremente e aleatoriamente que eu nem vejo o tempo passando.

Agora o sol já não está mais presente. A lua já começa a subir no céu que agora está ficando escuro. "Tenho saudade da minha infância." Digo. Ela olha pra mim por alguns segundos como se estivesse lembrando de algo. "Você não?" Pergunto. "Hã, não muita." Ela diz e olha para a lua. Concordo com a cabeça.

"Me desculpa a pergunta Lia, mas eu preciso perguntar. O que aconteceu com os seus pais?" Pergunto oque eu mais queria saber. Ela fica sem expressão por alguns segundos. "Confie em mim, só quero te entender." Falo baixo para só ela ouvir. Nossos olhos estão fixados. Seguro sua mão em cima do pequeno muro da ponte.

"Harry, eu não..." ela fala baixo e trêmula. "Se você não quiser, eu vou esquecer isso. Mas pense que eu só quero descobrir oque você guarda aí dentro." Aponto para o seu coração. "Você descobriu oque eu escondia e me ajudou a pensar em superar, seguir minha vida. Apenas quero tentar fazer o mesmo por você Lia." Vejo seus olhos ficarem lacrimejados com as minhas palavras.

Ela respira fundo e então começa. "Minha mãe.. ela me deixou em um orfanato quando eu nasci." Apenas com essa pequena e simples frase, muita coisa sobre ela muda em meus pensamentos. "Ela me deixou lá, apenas com um bilhete." Ela fala olhando para a lua. "Eu fiquei no orfanato por cinco anos. Era um lugar bom, mas..." ela tenta falar. E então as lágrimas começam a descer livremente de seus olhos.

Puxo seu corpo para perto do meu. A abraço com força. Queria tirar sua dor e passar para mim, mas é impossível. "Depois que fiz cinco anos, encontraram a minha tia e me deixaram com ela. Ela nunca gostou de mim. Sempre me forçava a fazer tudo para ela. Eu só tinha seis anos quando ela me mandou comprar drogas." Ela diz entre as lágrimas. Fecho os olhos ao pensar nela nessa situação. Acaricio suas costas e cabelo com cuidado.

"Durante a minha vida toda, ela me dizia que minha mãe era um prostituta e meu pai um maluco. Eu acreditei durante 16 anos que minha mãe tinha me abandonado porque não queria mais um erro na vida dela. Mas só agora eu soube toda a verdade." Ela diz por fim.

Acaricio seu rosto molhado por lágrimas. Seus olhos estão ainda mais bonitos do que antes. Ela é perfeita.

"Só a um dia atrás eu descobri que minha mãe sempre foi uma vítima. Uma vítima do meu pai. Ele tentou matar ela enquanto ela estava grávida de mim e por pouco conseguiu. Ela precisou me deixar.. para me salvar." E então todas as suas lágrimas caem com força. Sua história de vida não deixa de me emocionar.

"E então perdi a única pessoa que me restava. Ela me batia, já tentou me matar e todo o resto. Mas eu não consigo sentir ódio da Melissa Harry. Eu não consigo." Diz chorando em meu peito.

Apenas acaricio suas costas enquanto ela chora. Essa mulher guerreira, batalhadora e incrível merece tudo de bom na vida dela. E se ela concordar, estou disposto a fazer de tudo por ela.

Nos afasto por alguns segundos. Olho em seus olhos molhados de lágrimas e então percebo o tamanho da sorte que tive por encontrar ela na minha vida. Acaricio seu rosto e ela fecha os olhos com o meu toque.

"Lia." Chamo baixo perto de seu rosto. Ela olha nos meus olhos. Estamos a centímetros de distância. "Se você me permitir, estou disposto a mudar toda a minha vida, só para conseguir te dar tudo de bom que você merece." Falo com a voz baixa.

E então ela aproxima ainda mais o seu rosto contra o meu. Sua respiração faz leves cócegas em meus lábios que estão implorando pelo seus. Faço o que tenho vontade..

Quebro a pequena distância entre nós e junto nossos lábios. Seguro os lados de seu rosto com firmeza, mas com cuidado. Como se ela fosse uma pequena boneca frágil que pode se quebrar ao toque. Passo a ponta da língua por seus lábios macios e quentes pedindo permissão. Ela abre seus lábios levemente e então nossas línguas entram em contato uma com a outra. Como se já se conhecessem, elas começam uma dança sincronizada.

Nosso beijo é doce e cheio de desejo. Já sabíamos que isso iria acontecer. Precisávamos disso. Pela primeira vez em muitos anos, borboletas voam em meu estômago. Sinto seu corpo tremer em minhas mãos, mas a seguro com firmeza e tento fazer com que ela se sinta segura em meus braços.

Muita emoção aqui desse lado gente!!! ^º^

DUNKIRKOnde histórias criam vida. Descubra agora