DUNKIRK

-Capítulo 10-

Harry está ao meu lado.

Ele observa o pôr do sol com tranquilidade e suavidade em seu rosto. Acho que nunca vou ver ele tão calmo uma outra vez como vejo agora. Ele observa o mar calmo, o dia se transformando em noite e sente o vento bater em seu rosto. Respiro fundo esperando algum insulto vindo dele.

Oque não vem, me surpreendendo. Apenas ignoro sua presença e continuo prestando atenção na pintura real na minha frente. Não entendo oque se passa na cabeça dele. Consigo ver ele com a visão periférica, mas não me atrevo a encara-lo novamente. O que eu fiz para ele me odiar tanto?

Percebo de relance que ele agora olha pra mim. Me concentro no mar a baixo de nós, porém sei que ele não tira os olhos do meu rosto. Desvio meu olhar para ele e consigo ver mistério e tristeza em seus olhos. O que ele esconde por trás desse soldado irritante e bipolar?

Ele fica apenas me encarando. Tento tomar coragem para falar. "Por que você tem tanta raiva de mim?" Pergunto. Minha voz sai baixa e fraca.

"Odeio seu sorriso." Ele fala apenas isso. Sorrio de leve como sarcasmo. "Por que?" Pergunto com o tal sorriso que ele odeia. Presto atenção em seus olhos. Percebo que os mesmos estão cheios de lágrimas. "Harry.." falo fraco sem entender o porquê das lágrimas. Ele passa as mãos nos olhos e vira as costas indo embora.

A cada dia que passa, menos eu entendo ele.

O que tem o meu sorriso? Por que ele o odeia? Por que não quis ser salvo? O que ele esconde!? Todas essas e muito mais perguntas ficam rodando a minha mente. Não sei oque eu faço, não sei oque eu falo! Eu preciso saber oque aconteceu com esse homem!

Fecho os olhos com força e fico apenas na minha imaginação, como se meu corpo estivesse flutuando. Sempre fui uma garota quieta e pensativa. As meninas do orfanato me achavam estranha, pelo fato de eu não gostar de brincar sempre. Eu preferia ficar no meu canto, inventando músicas ou pensando em livros que eu tinha vontade de ler. Minha imaginação era muito fértil, sempre achei que um príncipe iria me tirar de lá com o seu cavalo branco. Para mim não existia medo ou dor. Eu era apenas uma criança inocente que não sabia o que se passava lá fora. Até aquele dia...

Abro os olhos assustada quando minha mão é puxada. No mesmo segundo, vejo Melissa. "Eu estava procurando por você imunda. Por onde andou? Já está dando para os soldados?" Ela pergunta rindo. O cheiro de nicotina e álcool que está nela, faz meu estômago revirar.

"Eu estava aonde eu deveria estar." Falo apenas isso e solto minha mão de seu aperto. Ela me olha com nojo. "Você deveria começar a se prostituir logo, quem sabe faz um bom trabalho." Ela fala rindo. "Se não se importa, vou voltar lá pra dentro." Falo pra ela. "Muito cuidado por aí querida sobrinha."  Ela diz e sai cambaleando. Isso foi uma ameaça?

Deixo isso de lado e volto a entrar no refeitório. Bebo um pequeno copo com água e levo algumas garrafas para a enfermagem. Gostaria de ter mais coisas para ajudar os homens, mas infelizmente não temos. Encontro Jackson sentado no chão, onde nós estávamos. Percebo que ele está com um livro nas mãos. Acabo dando um leve, baixo e pequeno riso quando olho para a sua boca toda babada.

Ao invés de acordar ele, resolvo apenas tirar o livro de suas mãos e o cobrir com um dos cobertores. Me sento também encostada na parede e pego o livro que eu estava lendo. Como um estalar de dedos, me prendo a leitura novamente.

A forma como tudo se encaixa na escrita me fascina, me faz rendida a história. Sempre apreciei a leitura, durante minha infância era a única coisa que me fazia feliz, ler. Simplesmente ler.