•Capítulo 17•

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MERLIA COLINS

O sentimento de vazio tomava conta de mim. Saber que não terei minha pequena ao meu lado destrói todo o meu psicológico. Tentei me abrigar em quem eu mais confio, mas ele estava tomado por ódio e dor.

Eu apenas ignorei tudo que ele fez, além de saber como ele está se sentindo, eu também não ligo se ele me quer bem ou não. Apenas a perda está em minha mente e meu coração. Faço a única coisa que sei fazer de melhor. Fugir.

Corro pelas ruas escuras da cidade como se isso fosse aliviar essa tensão em meu peito. Tento fazer com que as pedras que cortam meus pés doam mais do que isso que estou sentindo, mas tudo é em vão. Nada vai acabar com esse sofrimento que estou sentindo.

Observo uma parte aberta como se fosse um jardim bem cuidado que no centro há uma árvore grande. No mesmo há também um pequeno rio.

Meus pés me guiam lentamente para esse local como um imã. Todo o meu corpo está apenas sendo levado como uma pena que plana no ar. Ao poucos sinto o gramado úmido em meus pés, acalmando o atrito em minha pele.

Logo sinto a água gelada tocar meus dedos me causando um arrepio por toda a minha espinha. Apenas ignoro tudo isso e deito meu corpo na água gélida com a esperança disso levar toda a dor que sinto em meu ser.

No mesmo momento que sinto meu rosto ser coberto pela água o silêncio domina todo o espaço. Apenas o som dos meus batimentos cardíacos, agora lentos podem ser ouvidos por mim. A calmaria embaixo da água faz meu corpo entrar em transe com minha mente.

A pessoa que eu menos esperava pensar surge em meus pensamentos. Minha vizinha, que foi quem eu mais amei em toda a minha vida. Margareth.

A cena de uma de nossas lembranças começa a passar em meus pensamentos como se fosse um pequeno filme.

"Ai! Ta doendo muito!" Reclamo enquanto ela passa uma de suas ervas medicinais em um machucado no meu braço. Um machucado que minha tia fez. "Eu sei, mas já vai passar." Ela diz cuidando do meu ferimento. "Por que ela te machucou dessa vez?" Ela fala baixo. Seus olhos azuis me transmitem confiança e tranquilidade. "Eu quebrei um copo de vidro, mas foi sem querer." Digo choramingando. "Eu sei querida, você não teve culpa." Ela diz acariciando meu cabelo. "Por que ela me machuca tanto?" Pergunto olhando em seus olhos. "Eu.. não sei meu bem. Ela não é uma pessoa fácil de lidar." Ela diz desviando o olhar. "Mas preste atenção, por mais difícil que seja você precisa continuar sendo você mesma." Ela diz sorrindo. "Mas ela me machuca." Digo fazendo bico. "Por mais doloroso que seja meu amor, nunca desista de fazer o certo! Todos podemos fazer o certo, só basta querer." Ela diz dando um beijo em minha testa. "Nunca deixe de sorrir, por mais difícil que seja a situação. O seu sorriso pode salvar."

Levanto meu corpo em questão de segundos como um choque de realidade e respiro todo o ar que consigo. Meu coração está acelerado e meu corpo treme de uma forma incontrolável. O frio toma conta do meu corpo fazendo meus ossos doerem e a cicatriz em minha barriga arder.

Sem saber oque eu estou fazendo me sento na ponte baixa que havia ali. Tento recuperar minha respiração normal e isso é a única coisa que acalma meus batimentos frenéticos.

Respiro fundo e penso em Margareth.

Tenho a opção de deixar tudo de lado e viver com essa dor, mas também tenho a opção de continuar lutando e conseguir minha felicidade. Mas por que é tão difícil? Por que é tão difícil deixar aquilo que te magoa para trás? Por que precisa doer tanto assim?

Não conto o tempo que fico naquela mesma posição, naquela mesma ponte com aqueles mesmos pensamentos.

{...}

O sol já está nascendo. Tento me concentrar no barulho da água, no som dos pássaros e no sopro do vento. Quando eu ficava nervosa ou triste no orfanato isso era a única coisa que me ajudava. Prestar atenção nos pequenos detalhes me fazia bem, me acalmava. Mas nesse momento nada em minha cabeça se encaixa. Sei que minha filha vai deixar um buraco pra sempre em meu peito e isso me machuca de uma maneira indescritível.

Em alguns minutos escuto passos atrás de mim, mas apenas fico parada tentando digerir todos os meus pensamentos.

Não preciso olhar para saber que Harry está sentado ao meu lado. Percebo que sua respiração está acelerada e seus músculos estão tensos. Eu quero me manter ou parecer inquebrável ao seu olhar, tanto para ajudá-lo tanto para me manter forte.

"Por que você tá molhada?" Ele quebra o silêncio com suas palavras. Quando conhecemos e convivemos com alguém desse jeito, não precisamos de muito para ver a diferença no tom da voz da pessoa. Seu sotaque continua grave, mas no fundo sinto um fraquejar de suas palavras.

"Me desculpa, deixei a dor me dominar." Ele diz e logo escuto seu choro baixo, quase inaudível. Ficamos em um silêncio profundo apenas tentando raciocinar algo para dizer.

"Por que isso tá acontecendo com a gente?" Deixo essa pergunta para ele e especialmente queria uma resposta.

"Eu não sei. Realmente eu não sei." Ele fala respirando fundo. "E o que fazemos agora?" Sua voz sai arrastada

Tento pensar em algo para dizer, mas deixo a frase.. "Eu só quero ficar sozinha." no ar e apenas fecho os olhos sentindo minhas lágrimas retomando. Mas eu não quero ficar sozinha. Eu quero o calor humano dele, quero sentir seu amor por mim e saber que ele não vai desistir de nós dois. Porém, sei que entre nós dois sempre vai existir um pequeno pedaço que vai nos afastar.

"Eu não vou te deixar sozinha, nós dois fizemos e nós dois perdemos. Não vou te deixar agora." Como se fosse algo sobrenatural, ele diz e logo puxa meu corpo para repousar no seu. "Ta doendo muito. Como pode doer tanto?" Choro em seu peito.

"Vamos sair daqui, você tá uma pedra de gelo." Ele fala e me segura em seus braços.

Apenas fecho os olhos e penso em tudo por vários segundos.

DUNKIRKOnde histórias criam vida. Descubra agora