-Capítulo 09-

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O dia passou mais rápido do que eu imaginava.

Ajudei Jack na maior parte do tempo depois da cena com o soldado carrancudo. Limpamos a enfermaria e cuidamos do resto dos homens que lá estavam. Organizamos utensílios necessários e também remédios na pequena farmácia. Depois fiquei ouvindo Jack falar sobre as coisas que ele fazia quando era mais jovem e se tudo isso for mesmo verdade, posso dizer que ele é bem vivido.

Durante nossa conversa, ele tenta saber mais sobre mim, mas de uma forma disfarçada acabava mudando de assunto e deixando de lado. Aprendi a nunca confiar em ninguém.

"Quando chegaremos em Dover?" Pergunto quando ele cita o nome da cidade durante uma conversa ou outra. Ele para de escrever algumas coisas e olha pra mim. "Geralmente a viajem dura quatro ou cinco dias. Daqui uns quatro dias devemos chegar." Penso que a palavra 'geralmente' tem significado para 'quando não somos torpedeados'.

Jack percebe meu raciocínio interno. "Calma, não foi oque eu quis dizer, vai dar tudo certo. Tem algo nesse navio que, eu não sei, mas nunca fomos atingidos ou algo do tipo." Ele fala para me acalmar. Apenas concordo com a cabeça e tento deixar o medo de lado.

Olho para o lugar onde estávamos limpando. "Acho que no momento você não vai precisar de mim, ou vai?" Pergunto. "Hã, não. Já acabamos." Ele diz. "Eu vou pegar um pouco de ar. Mas daqui a pouco volto." Dou a desculpa. Ele concorda e eu saio dali. Quando saio pela porta, sinto como se conseguisse respirar novamente.

Me encosto nas barras de ferro da lateral do navio e observo a obra de arte ao meu redor.

Jack não é uma pessoa ruim, mas é totalmente estranho estar aqui com ele, no meio disso tudo. As vezes não consigo acreditar que estou mesmo fazendo isso. Preciso de um pouco de tempo para pensar sozinha.

O dia está chegando ao fim e isso faz com que o céu fique lindo. O alaranjado contrastado com o azul e o amarelo me trazem uma paz interior que não recebia a muito tempo. A brisa fresca bate em meu rosto me fazendo fechar os olhos e apenas apreciar o momento de paz e tranquilidade.

Respiro fundo e tento fazer com que esse momento fique para sempre guardado na minha mente. Paz.

Algo tão escasso nos últimos anos.

Não sei até quando vou poder ter a oportunidade de ver o céu ou de sentir a brisa do mar em minha pele, então aproveito o pequeno e simples momento.

Quando as pessoas têm de tudo, quase não dão valor para as coisas mais pequenas. Mas, quando alguém não tem nada, os mínimos detalhes se transformam em coisas significativas.

Com o tempo eu aprendi a apreciar e amar os pequenos detalhes ao meu redor. Sorrir com o canto dos pássaros pela manhã, observar o voo de uma linda borboleta, ou apenas sentir o cheiro da terra molhada durante a chuva. Me sinto rica em momentos assim, mas não de dinheiro, e sim de memórias. Memórias especiais.

Enquanto sonho alto, percebo que não estou sozinha.

Sinto alguém do meu lado e me assusto internamente.

DUNKIRKOnde histórias criam vida. Descubra agora