Saio do quarto com minha mala em mãos. Melissa se encontra na porta com duas bolsas grandes. Ela me olha de cima a baixo e ri. "Você parece uma palhaça com essa coisa nas pernas." Ela fala rindo da minha vestimenta. Ignoro e vou até a cozinha.
"Joguei o leite e os biscoitos fora, não vamos mais precisar deles." Fala com um sorriso estampado nos lábios pintados de vermelho. "Por que?" Pergunto com a voz baixa. "Porque eu quis." Ela fala como se fosse óbvio. Meu estômago se embrulha de fome. Apenas bebo um copo de água. Me encosto na parede e fecho os olhos respirando fundo. Sempre me perguntei oque fiz para ela me odiar tanto. Nunca entendi o porquê do seu rancor por mim.
Melissa já tentou me matar algumas vezes. Quando eu tinha sete anos, ela chegou completamente alcoolizada, drogada e começou a me bater com tudo que achava pela frente. Ela quebrou uma jarra de vidro na minha cabeça e depois só me lembro de acordar no hospital com a minha vizinha do meu lado.
Margaret. Ela sempre foi uma pessoa incrível. Foi a única pessoa que me tratou com carinho na vida. Ela já era uma senhora de idade quando a conheci. Eu amava muito ela. Ela sim foi a coisa mais parecida de uma mãe que eu já tive. Infelizmente, Melissa me proibiu de ver ela e depois de alguns anos, descobri que ela havia falecido.
"Eu realmente espero que você morra menina." Melissa fala. Não evito o 'sorriso' em meus lábios. "Tudo bem." Falo. Escuto ela se aproximando e antes mesmo de abrir os olhos, sinto sua mão vindo de encontro com meu rosto. Suas unhas finas arranham a minha pele. "Se não fosse por mim, você estava na rua! Mal agradecida imunda!" Ela grita no meu rosto. Apenas fico quieta.
As vezes eu acho que o problema está em mim. Tento mudar tudo que fiz e falei no dia passado, tento ser uma pessoa melhor a cada dia, mas ela é sempre a mesma comigo. Só comigo. Ninguém acreditaria se eu dissesse tudo que essa mulher faz. Pelo contrário, todos me odeiam aqui. Se alguém pergunta sobre mim, Melissa coloca a mão no peito, faz uma expressão triste e fala que eu tenho problemas com drogas e que me deito com todos os homens para ganhar dinheiro e comprar bebida.
Uma buzina no lado de fora chamou nossa atenção. Melissa me largou e abaixou mais o seu decote extremamente indecente. "Pegue as malas. Vê se serve para alguma coisa." Fala com nojo. Pego as duas malas junto com a minha e saio junto com ela. Um Jeep quatro por quatro estava parado em frente da casa.
"Olá senhoritas." O soldado fala no volante. Ele está fardado com um casaco e com uma calça marrom clara, enquanto sua camisa de dentro é um tom mais verde. Sua cabeça está coberta por um capacete escuro de aço. "Quanto tempo Finn!" Melissa fala animada e já entrando no Jeep. "Como você tá Mel?" O soldado pergunta com malícia. Entro no Jeep antes que eles me deixem para trás. O dia está completamente nublado e úmido. No máximo vejo duas ou três pessoas na rua. Todas com o rosto triste e sem vida.
Meu coração se aperta quando vejo uma garotinha brincando com sua boneca de pano. Seu sorriso ilumina o dia. Sua inocência pura faz seu sorriso ser espontâneo e não forçado como o meu. Eu tinha esse sorriso, porém ele foi tomado de mim antes mesmo de eu vim morar com a minha tia. Ignoro minhas lembranças do orfanato e observo a garota. Seu rostinho está completamente sujo, junto com suas roupas. Por que tanto sofrimento meu Deus?O senhor nos deu um mundo bom, com paz e fartura, mas graças aos seres humanos, esse mundo não existe mais. Fecho os olhos e respiro fundo. Lembro das palavras de Margaret. 'Sempre Sorria! Não importa o que está acontecendo! Sorria! O seu sorriso ilumina o mundo!'
Tento ignorar o que está acontecendo no banco da frente. Percebo a mão de Melissa na virilha do soldado. Que nojo.
Por sorte, não demora muito para o Jeep parar. A casa não é longe da praia, mas o general achou melhor alguém nos buscar para não corrermos perigo. Agradeço ao soldado quando saio do Jeep, mesmo sem ele ouvir. Deixo a bolsa da Melissa do lado dela.
Me viro para a praia e a cena que vejo faz as minhas pernas fraquejarem. Várias filas de soldados estavam lá. Todos encurralados, feridos e sujos. Olho para o meu lado e meus olhos se enchem de lágrimas quando vejo milhares de corpos jogados na areia. Alguns gemendo de dor e outros mortos. Me preparo para correr até eles, mas Melissa puxa meu braço com força.
"Apenas os que estão nas macas!" Fala com um tom autoritário. Olho para os homens novamente. Percebo que alguns estão em cima de macas de pano. "A minoria está nas macas." Falo desesperada. "Ordens do General!" Ela fala friamente. Me solto dela e corro até os corpos. Percebo que tem mais alguns enfermeiros junto a nós, mas são muitos homens para poucos médicos e poucas condições.
Abro a maleta de primeiros socorros. Me ajoelho ao lado do primeiro homem. Gemidos de dor saem bem alto da sua boca. "Tudo bem eu vou te ajudar." Tento o acalmar. "Preciso que você seja forte." Falo mais para mim do que para ele. Limpo o sangue que está escorrendo por sua cabeça com um pano limpo que estava na maleta. Ele grita de dor, algo deve ter explodido ao lado dele. Limpo a ferida com água oxigenada e ele grita alto fazendo lágrimas enxerem meus olhos.
Não estava preparada para isso.
"Deixa que eu cuido desse." Escuto ao meu lado. Levanto meu olhar embaçado por lágrimas e observo o rosto de um homem. Seus olhos são bem azuis e seu cabelo é loiro. "Ele vai precisar de mais ajuda." Fala. Concordo com a cabeça me levantando. "Meu nome é Jack." Ele fala. Apenas concordo com a cabeça.
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DUNKIRK
Fanfiction*EDITANDO* Ao meio do caos total, um simples sorriso, uma risada, pode mudar tudo. Talvez para você seja apenas "mostrar os dentes". Mas para uma pessoa que precisa vê-lo é totalmente diferente. Um sorriso é confortante aos olhos de quem precisa del...