Faço o meu máximo para esquecer essa maldita lembrança.
Volto para o mundo real e observo o local com mais atenção. Uma lâmpada não muito boa se encontra pendurada sobre nossas cabeças, iluminando bem pouco do local, mas o suficiente. As paredes são em um tom verde musgo deixando o lugar com um aspecto mais escuro. Há três armários de madeira com alguns medicamentos. Espero que tudo que precisamos esteja aqui.
"Então, qual é o seu nome?" Jack pergunta quando volta. Ele começa a passar um anti-séptico na ferida de um dos soldados. O homem parece tranquilo e relaxado, pelo menos isso é bom. Pisco algumas vezes para retomar a atenção. "Hã.." começo a gaguejar. Passo álcool na mão e logo em seguida pego um esparadrapo. "Pode me chamar.." falo enquanto o ajudo. "De qualquer coisa." Falo por fim.
Ele me olha por alguns segundos sem entender. "Me chama só de garota. Pode ser?" Pergunto. Consigo ver a confusão em seus olhos azuis, mas ele apenas afirma com a cabeça. Agradeço internamente por ele não insistir no assunto.
Ele falou um pouco de sua vida. Descobri que Jack, é na verdade Jackson. Ele vive, ou vivia assim como eu na Inglaterra e tem dois irmãos. Acredito que ele tenha uns vinte e sete anos. Sua barba rala dá essa impressão. Termino de ajudá-lo com mais alguns feridos e por fim finalizo oque posso fazer por enquanto. "Você pode distribuir os cobertores?" Ele pergunta. "Claro." Falo. Pego uma bolsa grande com várias cobertas.
Conforme o dia vai acabando, mais frio vai ficando. Não imagino que esses pedaços de pano fino vão esquentar alguém. "Quando ver alguém sem colete, diga para ir até a parte traseira do navio." Ele pede. "Tudo bem." Falo.
Saio dali com a sacola em mãos e vou até a porta do refeitório. Conforme os soldados vão entrando ou saindo, vou entregando um cobertor e dando as informações que o Jack disse. Após distribuir, entro no refeitório para distribuir para os que ainda não pegaram.
Sei que o mundo todo está triste com a guerra. Eu estava triste com a guerra, mas não estava nem perto de ver a realidade. Pensava que tinha nojo apenas dos nossos inimigos, mas agora eu enxergo que não são apenas eles os errados aqui. As autoridades do nosso lado e principalmente suas ações só me deixam com mais nojo da nossa política e dos governantes que comandam tudo no nosso lado. Acabei de enxergar que nenhum lado é o certo, apenas um é mais "pacífico" que o outro. Mas nenhum dos lados é realmente o bondoso.
Depois que distribuí todos os cobertores que tinha na sacola, saio do refeitório. Mal vi o tempo passando, já que a noite já está começando a chegar e o frio também.
A maioria dos homens estão lá dentro, poucos se encontram em algum canto escondido, fumando um cigarro ou até mesmo bebendo. É triste saber que a válvula de escape deles é a bebida ou a nicotina.
Me encosto na barra de ferro na lateral do navio e fico observando a água passando abaixo de nós. O vento frio bate forte em meu rosto, acaba sendo relaxante e até agradável por algum instante. Me desligo um pouco de tudo.
Penso em um mundo bom, sem guerras, doenças e tudo de ruim que está acontecendo hoje em dia. Fecho os olhos por segundos e apenas minha imaginação fica presente.
As crianças felizes, as famílias juntas. Mães e filhos brincando.
Minha mãe.
Penso em como minha vida seria diferente se eu soubesse o significado disso. Ela estaria viva? A mulher que me deu a vida, estaria em algum lugar?
Tento pelo menos criar uma imagem dela em minha cabeça, mas é impossível já que nunca nem sequer vi como seu rosto era. E sinceramente não tenho nem um pouco de vontade em saber.
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DUNKIRK
Fanfiction*EDITANDO* Ao meio do caos total, um simples sorriso, uma risada, pode mudar tudo. Talvez para você seja apenas "mostrar os dentes". Mas para uma pessoa que precisa vê-lo é totalmente diferente. Um sorriso é confortante aos olhos de quem precisa del...