•Capítulo 13•

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MERLIA

A dor que senti despertou algo em mim, eu sabia que minha filha não tinha sobrevivido à isso. Eu sinto isso, mas uma parte inconsciente do meu corpo ainda tem esperança.

Não sei oque está acontecendo em minha volta, não sinto mais nada. É como se só existisse a minha mente em um lugar vazio e escuro. Olhar para aqueles olhos escuros e sombrios me trouxe lembranças que estavam aprisionadas no fundo da minha alma, no lugar mais escuro do meu ser. Eu não imaginava que ele estava vivo e muito menos que estava tão perto de mim.

Eu ainda sinto toda a dor que ele me causou, tudo aquilo que ele fez comigo passou a ficar fresco novamente em minha memória. Estou tentando não acreditar que minha filha não está mais comigo. Minha mente acaba entrando em um sonho consciente que me faz feliz nesse único momento.

Eu estou na nossa casa. No quarto da Oli. Seu quartinho está pronto, o berço que sua tia deu está encostado na parede rosa claro. Ao lado tem um abajur com vários desenhos de animais, o teto está com figurinhas que brilham no escuro ficando como estrelas no céu. Estou na poltrona ao lado do berço e então sinto uma mãozinha quente tocando na pele descoberta do meu seio.

Sorrio quando vejo ela em meus braços. Seus olhos curiosos olham para todos os lado tentando entender algo desse mundo. Ela logo encontra meu seio com a pequena boca e começa a mamar lentamente. Sua pequena mão toca minha pele me fazendo sorrir ainda mais.

"Parece que alguém gostou do quarto." Harry diz entrando no local. Sorrio para ele que vem até mim olhando para a nossa filha em meu peito. Ela logo para de mamar e coloca seus dedos na boca. "Me da ela um pouquinho." Sorrio e a entrego para ele com cuidado.

Quando volto a olhar em seus olhos, não é o Harry. E novamente ele vem assombrar a minha vida. "Não! Devolve a minha filha!" Grito e então abro os olhos.

"Cadê a minha filha!?" Falo quando vejo que estou em uma sala branca cercada por médicos. "Eu sinto muito." Uma enfermeira diz com lágrimas nos olhos. Grito o mais forte que consigo. Eu preciso da minha filha! Me debato contra os médicos, sinto minha pele costurada no fim da barriga doer, mas não me importo com a dor física.

"Cadê ela!?" Grito entre meu choro. Então o médico me entrega ela. Seu rostinho está ficando escuro e nada me dói mais do que sentir seu pequeno corpinho frio.

"Não." Sussurro.

Escuto a porta ser aberta, mas só consigo enxergar ela em meus braços. Sinto minha vida escorrendo junto com as minhas lágrimas. Minha vontade de viver e minha felicidade acabam nesse instante. "Fizemos o nosso máximo, mas ela já havia falecido dentro do útero."

Nada se passa em minha cabeça nesse momento. 

Seu rosto é lindo. Sua boquinha está entreaberta e suas mãozinhas são pequenas e perfeitas. Todo seu corpinho era perfeito.

Vejo de relance Harry caindo no chão.

É como eu me sinto.

Para Olívia Styles

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