Capítulo 9

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A manhã daquele dia estava se arrastando. Será que os astros tinham noção dos erros humanos? E então eles ficavam prolongando o dia, rezando para que as peças do tabuleiro desistissem, mudassem de caminho, tivessem mais tempo para montar uma jogada. Lilian sentia muito em desapontá-los, aquela manhã poderia se arrastar por séculos e ainda sim, o final seria inevitável, ela terminaria o casamento de Claire e Gabriel.

As damas da casa eram resumidas a Claire, Lilian, Lady Victoria, e Tia Harriet. Estavam às vésperas do casamento, e todas explodiam de felicidade e ocupação, exceto Lilian, que não estava vendo vantagem alguma. Quando surgiu a oportunidade de ir a vila buscar um ramo de alecrim para dar sorte no casamento, uma superstição de Tia Harriet, Lilian a agarrou com todas as forças, precisava se livrar daquele antro casamenteiro.

O vilarejo era singelo e aconchegante, Lilian encontrou a feira com a ajuda do cocheiro e a florista por pura sorte. Era uma mulher jovem e sorridente, com cabelos cacheados livres e brilhantes, cheirando flores e dando "bom dia", a cada pessoa que passava pela banca.

- Bom dia! Devo dizer que sua alegria me contagiou.

- Bom dia, milady! Amo trabalhar rodeada de beleza.

- É uma forma interessante de ganhar a vida. Prazer, Lady Lilian.

- O prazer é todo meu, não é sempre que uma Lady se apresenta por aqui. Me chamo Angélica, como a flor. O que a senhorita deseja?

- Eu encontro um ramo de alecrim por aqui?

- Bem, não são todas as floristas que vendem mais do que flores, mas a senhorita deu muita sorte. Aqui está.

Ela se abaixou e emergiu com um perfeito ramo de alecrim.

- O alecrim está ligado à coragem e a fidelidade. Há algumas damas que pedem que as cozinheiras comprem e usem nas refeições para que os maridos sejam fiéis, mas não creio que essa seja sua demanda. Se me permite a ousadia, para que precisa de coragem extra?

Lilian gargalhou diante da falsa atitude discreta da mulher, e de sua curiosidade palpável. Se fosse honesta, diria pediria 30 ramos de alecrim, precisava de toda a coragem do mundo.

- Sinto decepcioná-la, mas é para fins matrimonias.

- Ora, estou falando com uma noiva? Então não precisa de alecrim milady, tenho certeza de que qualquer homem que se unisse a senhorita seria fiel. A senhorita é muito gentil e bonita como já deve saber.

- Bem, graças a Deus não sou eu a noiva. Vim buscar um ramo para minha prima, ela se casa amanhã.

- Nesse caso, desejo que a magia do alecrim se cumpra. Milady, antes de ir, posso dar-lhe um presente?

- Claro.

Lilian observou a florista montar um pequeno ramo com cravo, crisântemo vermelho, miosótis... Parecia um carnaval: branco, vermelho e azul, rodeados por um enfeite simples.

- Preste atenção, não nos conhecemos, nem nunca nos vimos antes, e a senhorita pode achar estranho o que irei lhe dizer, é comum que a maioria ache. Sinto que devo lhe desejar sorte, e para isso as flores. Sabe o significado?

Ela balançou a cabeça ainda confusa, não era descrita como alguém de fácil leitura, entretanto a florista acertara precisamente.

- Cravo: amor puro, latente e liberdade. O crisântemo é por estar apaixonada, ou próxima disso, e a miosótis amor sincero e fidelidade. Não sei por que, e pela sua cara nem a senhorita sabe, mas sinto que preciso dar-lhe esse presente. Espero que se recorde e ajude no futuro.

Jamais engane um duqueOnde histórias criam vida. Descubra agora