Capítulo 19

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Exatos seis meses depois, Lilian olhava para o salão com certa curiosidade. Deveria ter se retirado para o campo, de certo que sim, assim evitaria dores de cabeça homéricas, conversas tediosas e crises de consciência tardia.

Não podia evitar, era sempre o mesmo diálogo: notícias do duque, vossa graça? E Lilian emoldurava um sorriso no rosto para responder que seu marido mandava cartas toda a semana, contando que cada recanto francês o fazia lembrar dela, em seguida ouvia suspiros apaixonados das damas. Os cavalheiros por outro lado, questionavam que tipo de negócio o Duque de Kahn tinha a resolver em terras distantes, Lilian respondia algo como o cuidado das relações exteriores e de seu próprio patrimônio e fazia uma piada sobre a França ser a um braço de distância da Inglaterra.

As matronas do salão perguntavam quando encomendaria um herdeiro, e Lilian revivia o pesadelo que passou. Durantes três meses suas regras faltaram, seu tolo coração se encheu de receio e esperança, nada une mais um casal do que uma criança, certo? E o que seria pior para uma criança do que um pai que despreza a mulher que lhe deu a vida? O choro foi inevitável quando no chá das cinco, sentiu que sangrava. Se chorou de aliviou ou de dor, esse era um debate que ela preferia evitar.

- Vossa graça? – Subitamente houve uma mudança no tom da conversa, Lady Rothary ficou instantaneamente vermelha. Alguém a havia chamado certo?

- Lady Kahn? – Lilian piscou. Aquela era uma voz masculina. Girou os calcanhares e se deparou com o Marquês de Hastings, Nicholas Gratham. O fiel escudeiro de seu marido, e responsável por sua grande desventura.

- Lorde Hastings.

- Acredito que possa me conceder essa dança?

- Receio que...

- Duquesa, como melhor amigo do Duque, é meu dever cuidar da senhora em sua ausência, ele me fez esse pedido pessoalmente.

Lilian não conseguiu evitar a confusão que passou por seus olhos. Cuidar? Pessoalmente? Travou um sorriso no rosto e aceitou a mão do Marquês, deixando-se conduzir para a dança. Nicholas foi direto.

- Imagino que a senhora deva estar confusa.

- Admito que estou. Não vejo como o homem que envenenou os ouvidos de meu marido possa estar interessado em cuidar de mim em sua ausência. Acaso esse seu plano ardiloso é para conquistar um lugar em minha cama?

- Eu gosto da maneira direta como se expressa Lilian.

- Não lembro de ter lhe dado permissão para usar meu primeiro nome.

- Não me lembro de o Duque ter lhe dado permissão para envenená-lo.

A menção do acontecido teve o efeito imediato, um grande vazio se formou no estômago de Lilian, ela desviou os olhos.

- Ora, a Duquesa ardilosa tem coração afinal.

- Como?

- Percebi, embora um tanto tarde demais, que cometi um erro. Não deveria ter dito nada a Gabriel.

- E por que essa crise de consciência repentina? Foi assolado pela eminência da morte?

- Você não teria tanta sorte. Vamos apenas dizer que cruzei com Gabriel em um clube na França, e ele parecia mais infeliz do que quando estava para casar-se.

- Entendo. – Não. Lilian não entendia. Pior que isso, ela não queria entender. Não precisava de um fio de esperança.

- O que deve mesmo entender Lady Kahn, é que Gabriel é como um irmão para mim, sempre fomos muito diferentes, e ele sempre muito correto. Eu não conseguia admitir que uma mulher havia virado tanto a sua cabeça em tão pouco tempo. Ele estava resignado a cumprir seu dever, fazer o que era certo, eu não imaginei que em tão pouco tempo ele se afeiçoaria a senhora. Eu deveria ter notada que a infelicidade dele era por ter a desonrado, e faltado com sua palavra com Claire, e não porque havia perdido sua prima. Perdoe-me por ser tão desatento.

- Ainda não entendo onde deseja chegar.

- Você é uma mulher inteligente.

- Nunca me acusaram do contrário.

- Seu marido a abandonou.

- Conte-me algo que eu não saiba.

- Ele retornará, precisa de um herdeiro.

- Não é o que todos os nobres precisam? Postergar sua linhagem, passar gerações de soberba e infelicidade adiante?

- Sinto tons de amargura. Pelo que me recordo você sempre foi uma mulher divertida Lilian. Não deixe que Gabriel tome isso de você.

- Ele está me punindo por ter me apossado de algo dele, por ter roubado o amor de alguém que nem sequer... – Oh céus, o que estava fazendo? Revelando um segredo de sua prima para o melhor amigo de seu marido... Engula as palavras Lilian!

- Que nem sequer o queria, nem sequer o amava, ou o desejava na mesma intensidade que você. Sabe vossa graça, andei visitando o condado de Seven, Lady Jones mandou lembranças.

- Como soube?

- Que Claire não queria mais casar-se? Foi pura sorte, tinha acabado de retornar de viagem e eu cruzei com Lady Claire Jones no Hyde Park, ela estava estonteante, emanava felicidade. Que jovem termina um noivado, traída por sua própria prima, e da passeios felizes pelo Hyde Park com seu recém adquirido conde? Tudo me pareceu muito... feliz.

- Parece que subestimam sua inteligência Lorde Hastings.

- Ah, sempre. Meu assunto com a senhora, agora que já sabe que estou inteirado da verdade é outro. Mas isso não é conversa para uma valsa. Irei visitá-la amanhã, separe uns biscoitos de limão, são meus favoritos.

E assim ele se foi. Como uma névoa, Lorde Hastings a conduziu para mesa de bebidas, e se foi. Deixando-a inquieta. Se fora tão fácil para ele perceber... Pobre Gabriel, ele não poderia continuar a receber péssimas notícias do seu amigo. O que diria a Claire? O que seu marido faria se estivesse em posse do real motivo? Lilian pensou no Gabriel que conheceu há meses no campo. Um homem que ela poderia jurar que jamais faria mal a ninguém, muito menos desonraria Claire. Mas aquele que saiu da sua residência em Mayfair há meses, era um homem bem diferente, ele perdera o brilho no olhar, o Gabriel de Kinlet jamais proferiria as palavras do Gabriel de Mayfair. E agora havia o Gabriel da França, que se as fofocas tivessem algum fundo de verdade, era um libertino irresponsável. Esse Gabriel ela nem mesmo chegara a conhecer.  

Jamais engane um duqueOnde histórias criam vida. Descubra agora