Ele regressou antes dos outros, afinal estava um pouco embriagado, e ainda teria um encontro com sua noiva. Antes de tudo precisava passar no escritório e recolher o maldito manuscrito que poderia ser sua ruína. Gabriel chegou ao escritório e duvidou de sua própria mente, não tinha deixado a porta fechada? Espiando pela fresta viu o cintilar de uma vela e um vulto passando, nunca fora de acreditar almas penadas, tinha medo dos vivos os mortos tinham mais o que descansar para ficarem vagando por aí. Por esse motivo, reuniu todo o ar em seu pulmão e saltou pela porta para assustar o intruso.
A intrusa. Lady Lilian gritou e jogou o tinteiro para cima. Seu vestido claro foi aos poucos ganhando tons de preto, e ela olhou a tinta escorrer lentamente pelo pano, até lançar um olhar furioso para ele.
- Inferno!
- Lady Lilian.
- Quem mais? Esperava um fantasma? Meu vestido está arruinado, meu coração parece que vai sair do meu peito, eu gritei de modo tão estridente que posso ter acordado a casa inteira. Veja só ao que me reduziu com sua brincadeira, estou parecendo uma debutante nervosa.
- Peço perdão, não esperava encontrar alguém a essa hora por aqui. Afinal o que faz tão tarde longe dos seus aposentos?
- Não conseguia dormir.
- Não teria sido mais útil pegar um livro na biblioteca.
- Bem, o senhor tem uma casa imensa, muitas portas, muitos cômodos, eu já havia rodado meio mundo e não encontrava, então eu passei a procurar por qualquer coisa que pudesse me distrair.
- E encontrou alguma distração?
- Ah sim, isso não é uma biblioteca, mas tem muitos volumes por aqui.
- São livros caixa em sua maioria.
- É eu percebi, e peço desculpa pela intromissão, mas acabei consertando um erro que cometeu.
- Sou muito bom com números, duvido que tenha cometido algum erro.
- Ora, pois cometeu! As vezes estamos tão acostumados em acertar que não nos preocupamos em revisar. Venha, eu te mostrarei.
- Senhorita, acredito que...
- Eu acredito que não tenha ninguém acordado a essa hora para presenciar essa punhalada no livro de decoro, e eu adoraria ver sua cara ao ter que admitir que estou certa.
Gabriel aproximou-se dela, tentando ficar a uma distância respeitável, mas a pouca luz tornava a missão impossível, acabou debruçando-se sobre a cadeira onde ela estava sentada, ficando indecorosamente perto, sentindo um cheiro de flores silvestres e damasco, parou para analisar como seu cabelo era escuro a noite, o lembrava das águas do mar pela madrugada. Ele piscou tentando concentrar-se no que ela dizia, mas só reparou na última frase.
- Como pôde perceber, eu estou certa! – Lilian tinha um sorrisinho de pura satisfação plantado em seu rosto.
- Ainda não estou certo disso, veja, esqueceu das taxas de comércio. – Ele apoiou parte do tronco no apoio da cadeira, e passou um braço por cima do ombro dela para apontar o dedo diretamente na segunda coluna da página. Lilian demorou a responder, e quando o fez sua voz saiu tremula.
- E o senhor esqueceu-se das taxas de exportação. – Ela virou o rosto para mostrar-lhe uma sobrancelha erguida de satisfação. Grande erro, estavam tão próximos que Gabriel poderia sentir o calor emanando de sua respiração.
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Jamais engane um duque
RomanceLilian decididamente não queria ter nada a ver com a sociedade londrina e suas restrições, não necessitava ser aceita, não desejava ser aceita e o melhor, não precisava, tinha inteligência, fortuna e amor o suficiente de sua família para jamais prec...