Capítulo 21

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Dois anos depois ninguém tinha esperanças ou ilusões do retorno do duque. Há muito tempo Lilian não se pegava criando fantasias românticas, a mais tempo ainda ela não sentia seu coração rachado. Mas Gabriel, maldito seja, conseguia de alguma forma entrar na sua mente. Em alguns momentos pensava nele, quando ouvia uma voz grave ressoar atrás dela em um baile, quando algum cavalheiro sorria por detrás de uma dose de conhaque em um jantar... Sua mente imergia em questionamentos: ele ainda estava na França? Será que havia tomado o mínimo de cuidado para evitar um encontro com seus pais? Quanto tempo demoraria para que voltasse? Voltaria um dia? Havia encontrado uma moça disposta que lhe lembrasse Claire e resolvido criar uma família por lá?

- Senhorita.

Lilian despertou e lembrou onde estava. Não era sensato divagar no meio da passagem para o jardim. Na soirée da recentemente viúva Condessa de Calaham, os comentários eram respeitosos o suficiente para não citarem seu marido de nenhuma forma. Talvez não tão respeitosos para conterem insinuações, ouviu sussurros questionarem onde estava seu amante Lorde Hastings. Aquela era uma história engraçada que vez ou outra ela fazia questão de alimentar. Dizia-se assim pelos corredores e salas de chá "Lady Lilian casou-se com o Duque apenas por sua posição, ela era na verdade apaixonada pelo Marquês de Hastings, com quem tinha um caso a anos e estava falido, eles fizeram um acordo escandaloso para se safarem e viverem ricos. Lilian seduziu Gabriel, o forçou a casar-se e quando ele descobriu o caso de seu amigo e da esposa fugiu envergonhado." Vez ou outra alimentava a história de Nicholas ser seu amante quando dançava mais de uma vez com o Marquês, ou passava mais tempo que o recomendado em sua casa de campo – os verões na casa ancestral de Nicholas eram reconfortantes, cavalgava com Caroline, faziam festas interessantes com amigos nobres pouco tradicionais e novos ricos – que para algumas pessoas era um recanto de devassidão e adultério. Contudo, ninguém dirigia suas teorias diretamente a eles.

- Senhorita?

Apesar de ter dado espaço para que alguém pudesse passar, e agora estar debruçada observando as luzes do jardim, Lilian ainda ouvia aquele termo. O que era de se estranhar, já que não havia uma só alma em Londres que não soubesse quem ela era. A ousadia daquela voz despertou interesse nela.

- Creio que deva referir-se a mim como senhora.

- Não como Lady Kahn? Ou duquesa?

- Então estamos em desvantagem, eu não o conheço, e certamente alguém que me conhece raramente iria me qualificar como uma mulher solteira.

- O que dizem é verdade, a senhorita, perdão a senhora é fascinante milady.

- E o senhor seria?

- Lorde Faulkner.

Imediatamente Lilian associou o nome à pessoa. Lorde Dominic Faulkner, libertino, bon-vivant, artista nas horas vagas – que ela desconfiava ser a maior parte do seu dia – apreciador, como ele mesmo fazia questão de gritar aos quatro cantos, de mulheres bonitas. A última notícia que tivera dele foi algo como ter sido pego pelo Conde de Lavan, nos aposentos do próprio, nu e com Lady de Lavan em seu colo. Escandaloso e imoral de fato, impecavelmente charmoso, e claro uma verdadeira escultura grega.

- Percebo que fez associações. Temos julgamentos associados?

- Não, já que me abordou deve saber que não faço julgamentos precipitados, por outro lado... Não entendo seu repentino interesse.

- Me interesso por pessoas interessantes.

- É claro que sim.

- Vai me dizer que não é tão interessante assim?

Jamais engane um duqueOnde histórias criam vida. Descubra agora