Gabriel não voltou para casa de madruga, e já passavam das sete da manhã e nada dele, nem mesmo chegando bêbado e cambaleante. Lilian havia feito uma aposta silenciosa com o seu destino. Se Gabriel chegasse antes do café da manhã, ela não despacharia as malas. O destino fez seu jogo. Ela não ia mudar sua rotina, e as sete horas e quinze minutos, sentou-se sozinha a mesa, e tomou seu café, com o peito apertado pensando para onde suas roupas estavam indo.
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Quando Gabriel retornou para casa na manhã de quarta-feira, após passar a noite fora com sua mãe, ele achou que nada mais o surpreenderia, ouvir o que sua esposa quase disse, o que ela havia deixado subentendido o perturbou, não mais do que o tormento que fora passar a noite longe dela, não mais que a agonia que girava em sua mente ao pensar na palavra, no sentimento. Gabriel desejou, ele poderia jurar que ouviu o início de uma frase condensando, esperando...
Mas naquela manhã de quarta-feira, ele foi pego de surpresa, duplamente. Adentrou a sala de visitas esperando comunicar a Lilian que a acompanharia no baile dos Norington, onde anos antes ele a conheceu, ele havia planejado um calmo discurso, sobre como eles deveriam tentar, mas foi tomado pela cena. Sua esposa rodopiava pela sala com um ser minúsculo em sua mão, e ela balbuciava sons incoerentes com uma voz fina e alegre, toda sua atenção estava destinada àquele bebê que gargalhava para ela.
Foi como se estivesse observando uma outra vida, imediatamente a mente de Gabriel projetou memórias inexistentes, sua esposa com uma barriga enorme e seios ainda mais fartos, ele com a mão sobre sua barriga esperando a criança chutar, ele ao lado dela após o parto dizendo o quanto a amava e quão forte ela era e... Foi como um soco em seu estômago, era assim que se parecia, algo repentino e gigante, tão forte que o fez titubear, segurou-se na porta e fechou os olhos abruptamente ao perceber que tinha feito barulho.
- Lorde Kahn? Deseja alguma coisa? – Lilian destinava a ele um olhar sério e frio, toda a alegria que tinha presenciado tinha ido embora. Ora, era isso que ele merecia. Nem mesmo seu nome ela havia usado.
- Hum, eu... Quem é esta criança?
- Seu filho.
- O que?
- Não se recorda dos boatos? Todos verdadeiros, larguei a criança no campo.
Lilian gargalhou e o bebê fez o mesmo, achando graça do que nem mesmo sabia. A maior ironia foi ele perceber que a risada dela o deixou feliz, ela havia brincado com ele, nem tudo estava perdido. Gabriel percebeu então, naquele instante que sentia exatamente o mesmo, ele tinha necessidade de Lilian, sua esposa era um vício, tudo que dizia respeito a ela o deixava interessado, ele decidiu dar voz e ação ao que ele sabia que já sentia a muito tempo.
- Ora, Kahn, oh Deus... Sua cara foi, impagável.
- Vejo que meu sofrimento a diverte senhora.
- E de que mal está sofrendo?
- Curiosidade.
- Pois bem...
- Tia Lilian, mamãe pediu que... Quem é você?
Um menino com menos de um metro de altura invadiu a sala correndo. Cabelos muito loiros, olhos azuis brilhantes, ele reconheceria aqueles olhos sempre que os visse. Gabriel se aproximou do menino e agachou em sua frente.
- Ora, está em minha casa rapazinho, eu que devo perguntar quem é você.
A criança cruzou os braços e franziu a testa, em seguida estendeu a mão.
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Jamais engane um duque
Roman d'amourLilian decididamente não queria ter nada a ver com a sociedade londrina e suas restrições, não necessitava ser aceita, não desejava ser aceita e o melhor, não precisava, tinha inteligência, fortuna e amor o suficiente de sua família para jamais prec...