Capítulo 20

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Um ano depois, Lilian tinha ainda menos notícias do seu marido. Não era como se Gabriel tivesse sumido do mapa, ele apenas não mandava cartas nem recados. Se acreditasse em misticismos teria passados noites em claro pensando em um feitiço, em algo que de algum jeito o trouxesse de volta, gostaria de ter capitado sua alma.

Perdeu as contas do quando se sentiu culpada, do quanto imaginou se uma atitude diferente teria mudado sua situação atual. Concluiu que não, hoje ela tinha certeza que não. A dor é um processo interessante, as feridas saram de um jeito interessante. Nos primeiros 6 meses havia sido uma tortura, negou, chorou, se culpou, achou que estava melhor e de repente piorou... Céus, o amor era uma praga! Mas logo concluiu que não há nada que tempo e vontade não curem, e tudo que Lilian queria, era se sentir livre novamente. Os seis últimos meses por outro lado, foram ótimos, percebeu que seu corpo sabia melhor do que ela que aquilo não ia durar. Um dia acordou e não sentiu falta do calor de Gabriel, não desejou seus lábios, não imaginou seu corpo ondulando sobre o dele. Estava enfim curada, simplesmente não era amor, era afeto, culpa e comprometimento emocional. E por mais que uma parte pequena de seu coração dissesse que seria mais fácil ela admitir, viver e trabalhar para dar outro significado aquele sentimento... não, era melhor seguir em frente, ter a certeza de que ama alguém que há a tratou com tanto descaso só traria emoções duvidosas. Lilian valia mais que isso, ela sabia que era muito mais, e merecia muito mais.

Em um ano ela resolveu tudo. Cuidava da administração da casa, das terras, e da sua fundação, havia criado um orfanato onde as crianças eram educadas de maneira regular, bem cuidadas, bem alimentadas, e eram incentivadas a fazer o que desejassem no futuro, ao invés de serem instruídos para serem futuros servidores domésticos da nobreza, eram educados para pensarem e planejarem o seu futuro. Lilian acreditava na educação como a melhor forma de reparação. Nicholas e Caroline, irmã de Lorde Hastings, sempre faziam visitas, ajudando financeira e afetivamente, eram como padrinhos e madrinhas.

As visitas aconteciam regularmente duas ou três vezes na semana, e após brincar e contar histórias para crianças toda manhã, Nicholas, Caroline e Lilian se reuniam para tomar um chá não convencional. Estavam no jardim, lugar favorito de Caroline, apreciando um delicioso vinho que Nicholas havia trazido da França, quando o assunto veio à tona.

- Não é engraçado como na maioria dos romances todos tem uma história triste? – Caroline apoiou o livro na mesa e prosseguiu.

- Fui abandonado no altar, meus pais eram horríveis, o amor da minha vida morreu, e isso é uma grande justificativa para o homem ser um canalha.

- Geralmente pessoas magoadas magoam. – Emendou Nicholas

- Eu acho absurdo que tenhamos que lidar com os traumas dos outros. Quando, e se me casar, que venha um homem simples e sem bagagem, por favor.

- Eu me casei com um homem sem bagagem, isso não quer dizer nada.

- Você criou sua bagagem, se formos honestos vamos admitir que criaram para você. Desculpe, não quis ser rude.

- Aprecio sua sinceridade, estamos entre amigos.

- Sabe querida irmã, um dia você vai aprender que todos tem uma história triste, a forma como lidam com isso é o pesadelo que cada um deve administrar.

- Se todos tem uma história triste, qual é a do meu marido? Eu não consigo aceitar que Gabriel amasse tanto Claire assim... Quando eu os via juntos, sempre parecia que faltava alguma coisa sabe?

- Gabriel não tem histórias tristes, ele é perfeito, sem traumas ou perturbações, nenhum pesadelo para atormentar lhe o sono, embora eu desconfie que agora você o perturbe nos sonhos. Foi criado por pais adoráveis, rodeados por primos, muito amado, ele não tem do que se queixar. – disse Nicholas se recostando no assento.

Jamais engane um duqueOnde histórias criam vida. Descubra agora