Capítulo 23

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Ele retornou para sua casa numa manhã de sexta-feira, embora nunca tenha parecido tão distante de um lar, o Duque estava de volta a Londres. Tinha planejado um retorno discreto, ficaria um tempo recluso em uma segunda casa afastada para se ambientar novamente e traçar estratégias. A fofoca o pegou no meio do porto e arruinou seus planos de tranquilidade. Duas mulheres esperavam para embarcar no navio, quando ele passou por elas percebeu seus olhares indagadores e logo ouviu "Que escândalo! O homem retorna logo agora que estamos partindo. Qual será a reação dele quando descobrir?" Gabriel pensou que não deveria dar atenção a bochichos, mas a curiosidade o corroía.

Lady Lilian sumiu, por meses e assim que retornou não comunicou a seu marido. Como podem recém-casados viajarem para lugares diferentes? Dizem que ela engravidou do Marquês, e deixou a criança no interior todo esse tempo que o Duque esteve ausente. Ela se ausentava periodicamente para o campo, provavelmente para ver o fruto da sua indiscrição. Pobre homem, esperando encontrar uma esposa dedicada e vai se deparar com uma amante indecorosa.

Ora ele também não é inocente, duvido que tenha sido fiel longe dos olhos da Duquesa. Todos sabem que o Duque a abandonou, e em troca ela conseguiu afeição no Marquês. Não era de se esperar que uma mulher como ela ficasse tanto tempo sozinha. Mas abandonar um filho... Antes tivesse criado outra história, uma prima, uma caridade.

Ninguém sabe ao certo se é de fato filho do Marquês ou do Duque. Se for do Duque ela não quis a criança porque não suportou olhar para o menino, que era a cara do pai. Mas correm boatos de que o Marquês, armou o casamento de Lilian com o Duque pois já a havia comprometido. Assim como há boatos que dizem que na verdade, Lady Lilian, para punir o Duque pelo abandono após descobrir a gravidez, resolveu esconder do marido, se está com a criança é porque tem certeza de que o ele jamais poria os olhos no menino.

Mas não é um disparate e ao mesmo tempo uma grande desgraça que não estejamos aqui para ver o que irá acontecer? As notícias vão demorar para chegar na Itália. Imagine se ele encontra com o belo casal de amantes no parque com a criança a tira colo? Lady Annabeth, eu já prevejo os tiros e a euforia do duelo. Uma pena, homens tão bonitos... Uma mulher é capaz de virar a cabeça de um homem, Lady Anderson. De toda forma sinto pela criança, um digno herdeiro. Belo como o pai. Seja qual deles for.

As mulheres olharam para ele, que aguardava as malas serem colocadas na carruagem, ofereceram a ele um olhar de falsa surpresa e alguma comoção. Era preciso dizer que Gabriel não costumava acreditar em fofocas, nem em tudo o que ouvia, não eram fontes confiáveis, eram mais sussurros de pouca verdade e boas mentiras, com toques de ficção para alimentar a sede de curiosidade e destilação de veneno. Mas as fofocas o alertaram uma vez, sobre o tipo de mulher que ele recebeu em sua casa nas vésperas do seu casamento. Seria pouco cordial descartá-la tão rapidamente. Então, ao invés de seguir discretamente para a segunda casa, ele fez um desvio pelo Hyde Park. Infelizmente deveria das crédito às duas fofoqueiras. Em uma cena que deveria ser pinta e emoldurada no museu como retrato da felicidade, estava sua esposa e seu melhor amigo, Lilian sentada sobre a grama gargalhando graciosamente enquanto Nicholas jogava um menino loirinho gorducho de cabelos quase loiros para cima. Vale a pena notar que a criança deveria ter aproximadamente três anos. É válido de nota também, que quando Nicholas levantou Lilian com a criança nos braços, ela o abraçou, e o olhou com ternura.

Gabriel percebeu que segurava com uma força desnecessária o assento, que sua respiração estava tão acelerada que ele podia jurar que estava bufando de raiva. Mas não havia como saber tudo sem perguntar a ela, infelizmente mais uma vez mudaria seus planos por aquela mulher.

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Hoje completavam três anos inteiros sem nenhuma notícia de seu marido além da localização que ela sabia por terceiros, jamais o duque se dignou a mandar-lhe uma mensagem de próprio punho. Na metade primeiro ano imaginou que deveria escrever-lhe, mas o que diria? "Olá, venho por meio desta, comunicar-lhe a não sucedida concepção, siga tranquilamente sua viagem, comemorando sua falta de responsabilidade comigo, já que não há urgência em seu retorno." Ela o autorizou a viver sua vida e esquecer-se dela, parecia o certo a se fazer, devolver ao homem aquilo que tinha lhe tirado, a possibilidade de mandar em seu destino, sentia culpa e ainda restava uma voz insistente alertando que seu coração doía sempre que pensava nele.

Jamais engane um duqueOnde histórias criam vida. Descubra agora