Três anos entre a Itália e a França faziam maravilhas com o espírito de um homem, enriquecia suas vivências culturais, melhorava sua desenvoltura, aguçava seu paladar. Gabriel aprendeu em três anos mais do em seus 25 anos anteriores, era um fato que se tivesse sido ensinado sobre o mundo e como as pessoas poderiam ser cruéis e volúveis sua vida teria outro rumo. Ria ao pensar que carregara um fardo e obrigações que nem mesmo eram dele, mas deveria honrar o dinheiro do homem que o criou de alguma forma. De certa forma ele estava, cuidava de algumas obrigações, mandava e respondia cartas de advogados, e nas horas que sobravam descobria o prazer do ócio e da despreocupação com a imagem.
Assim que botou os pés em Paris, ele procurou colegas que ele tinha preferido manter distância. Aristocratas irresponsáveis, nobres que o conheciam vagamente e não fariam questionamentos desnecessários, colocariam um copo de conhaque em sua mão e uma mulher disposta em seu colo. Assim foi por algum tempo, por três meses ele não apreciava a luz do dia, apenas clubes, boa comida, boas mulheres e muita bebida. Sentia-se em uma roda que jamais parava de girar, sempre em movimento, impulsionado por raiva e rancor, não podia parar, não queria pensar nela.
Um dia quando almoçava em um clube de cavalheiros, Gabriel foi chamado de Lorde Kahn, a primeira vez em meses. De repente ele sentiu como se um vento frio sussurrasse o nome dela e congelasse sua alma, ele se sentiu consciente de tudo, rápido demais. Em sua frente estava seu melhor amigo, Nicholas o encarava como se estivesse diante de um desconhecido, fez uma piada sobre a barba que havia ele havia deixado crescer, riu, bebeu, e ao final disse que Gabriel parecia miserável. Nicholas deixou o Duque com questionamentos demais, "deveria voltar para sua mulher, talvez eu tenha cometido um erro enorme meu amigo, nunca deveria ter me intrometido em seu casamento, sua esposa...", Gabriel o interrompeu assim que ele começou a falar de Lilian, não queria notícias dela. Nick lhe devolveu um olhar de espanto e estranhamento, disse que não o reconhecia ao que ele respondeu com "então estou sendo bem sucedido, não anseio parecer com nada do que já fui", o Marquês que não era de perder argumentos riu, disse que não esperava mesmo que ele lhe desse ouvidos, afinal cada homem tem sua fase, reforçou que ele tinha sua amizade e saiu com um aviso "tome cuidado caro amigo, receio que um homem que deseja mudar tanto, por motivos pouco verídicos acabe por se perder em sua jornada ", e foi embora.
Nicholas estragou a vida de Gabriel duas vezes. Ele não lhe roubou uma fortuna, não o deixou na ruína, não fez um escândalo ou o desafiou para um duelo, não, não era assim que ele jogava, o Marquês de Hastings estraga a vida das pessoas de forma muito sutil, ele era um mensageiro, o barqueiro do inferno. Desde então ele não conseguia tocar outra mulher sem instantaneamente enojar-se do que estava fazendo. Antes ele usava seus corpos imaginando um outro rosto, cabelos escuros se fosse loira, olhos cor de âmbar, lábios cheios, ele projetava Lilian em cada mulher com quem tinha se deitado desde que viajara. Desde o único encontro com Nick, Gabriel não conseguia, e tinha sido assim até o seu terceiro ano em Paris.
Nesse tempo ele passou a apreciar lutas, se exercitar com a esgrima, frequentar teatro de rua, apreciar a arte e a cultura. Em um desses momentos de apreciação na casa de espetáculos Ópera Le Pelletier, Lorde Kahn se viu diante de uma cena que captou todos os seus sentidos. Percebeu que não estava diante de uma das peças aclamadas de Shakespeare, aquilo envolvia um ritmo coreografado. Havia uma mulher e um homem, muito próximos quase abraçados, enquanto uma voz grave narrava leves eventos. "Primeiro a tentação" o casal ficou a um fio de um beijo, "depois o desejo", eles respiravam no mesmo ritmo, "depois a paixão" eles finalmente se beijaram, "e então, a desconfiança, a mentira" surgiu uma sombra no palco e o casal começou a rodopiar, a mulher entoava um leve choro e tentava se soltar, ela dizia não repetidas vezes e ele virava o rosto cada vez que ela tentava alcançá-lo "sem confiança não existe amor". A mulher caiu no chão e correu para homem que lhe virou as costas, "sem confiança não existe amor", violinos começaram a soar mais alto, até que a mulher gritou "amor, nunca existiu".
VOCÊ ESTÁ LENDO
Jamais engane um duque
RomanceLilian decididamente não queria ter nada a ver com a sociedade londrina e suas restrições, não necessitava ser aceita, não desejava ser aceita e o melhor, não precisava, tinha inteligência, fortuna e amor o suficiente de sua família para jamais prec...