Capítulo 15

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Lilian estava meio contente, afinal Daniel estava certo, desejo é algo surpreendentemente motivacional, e ela passou a sentir-se confortável na presença do marido. Gabriel a procurava todas as noites, e eles faziam amor, e cada vez parecia melhor. Mas era só, no final das contas sentia que estava se contentando com pouco, quase não via Gabriel.

Faltavam três dias para retornarem a Londres, e Lilian começava a notar a tensão. Gabriel nunca comentava nada sobre as notícias, nem mesmo lia o jornal próximo a ela, mas não precisava, sua imaginação era competente e já tinha desenhado todo cenário em sua mente. Alguns boatos, alguns comentários, algumas surpresas. Ela não viu seu marido aquele dia inteiro, estava ocupada planejando o fornecimento e distribuição de alimentos e roupas para caridade, e viabilizando a construção de uma escola maior na vila, Gabriel tinha oferecido liberdade o suficiente para pensar e agir como quisesse. Ele por sua vez, parecia cada vez mais recluso. Perdia com facilidade o riso fácil que tinha adquirido na última semana, estava mais pensativo, mas as noites seu marido era perfeito. Lilian se perguntava quanto tempo restava para ela admitir que ansiava por vê-lo, que seu coração falseava quando ele estava por perto, e que só a menção do seu nome a desorientava.

Como nunca foi do tipo que esperava acontecer, ela decidiu que se queria mais deveria ir em busca. Seria absurdo esperar que Gabriel se sentisse só um pouco igual a ela? Precisava de mais. Precisava se sentir conectada a ela, livre para ser ela por inteiro, sem arestas aparadas.

Lilian não encontrou o marido no café, almoçou sozinha e não havia possibilidade alguma dele a acompanhar no chá da tarde.

*****

Gabriel estava no escritório debruçado em contas e papeis, que a todo momento tinha que rever, já que imagens de sua esposa, quente, solicita e macia brotavam em sua mente. Os últimos dias tinham sido surpreendentemente bons, mas ele precisava de distância, não se sentia pronto para liberar parte do seu coração a Lilian e imaginava que ela zombaria da sua atitude. Se fosse sincero, teria que admitir que cada dia que passava gostava mais de Lilian, tinha descoberto que ela cheirava a violetas e alfazema, que ria sempre que se sentia tensa, que se aconchegava como uma criança nele quando terminavam de fazer amor. Não queria desapegar da ideia de Claire, sempre que estava contente com a esposa, se perguntava quão infeliz Claire deveria estar. Entregar uma parte, mesmo que pequena do seu coração a Lilian, significava esquecer Claire, e afirmar que fizera tudo de caso pensado para não se casar.

Gabriel duvidada que seu corpo agira contra ele dessa forma. Sempre que sua mente voava de volta para a noite antes do seu casamento com Claire, tudo o que ele via era um apagão. Como podia um homem se enganar tanto? Lembrava de ter ouvido a voz de Claire, de ter beijado Claire, mas acordara com Lilian em seus braços. Se acreditasse nessas coisas, diria que foi feitiçaria, circulavam história de mulheres que enfeitiçavam homens com perfumes e essências, que faziam poções, invocavam seres do submundo e sacrificavam suas almas apenas pelo amor de um homem. Lilian jamais faria isso, ela não o queria ele e jamais roubaria o noivo da prima. Esse era só mais um motivo para agir com cautela, ele ainda procurava motivos para justificar seu destino.

A esposa o tinha surpreendido, não falava da boca para fora quando dizia que não seria uma dama devotada a bailes e jantares. Lilian tinha ido a vila inúmeras vezes, conversado com todos, prometido reformas, e sempre discutia com os negócios com Gabriel. Ela não parava nunca. Talvez por isso tenha ficado surpreso ao vê-la empurrar a porta do escritório com um olhar tímido tão atípico dela, quase ao final da tarde. Lilian estava belíssima, os cabelos soltos com cachos nas pontas e um vestido simples.

- Olá. – Ela disse.

- Olá.

- Sabe, eu estive pensando...

Jamais engane um duqueOnde histórias criam vida. Descubra agora