XXX

1.2K 113 65
                                    


Samuel


Acordei com o toque estridente e repetitivo do celular ao meu lado na cama. Eu odeio minha vida. Não estou de ressaca, não bebi o suficiente pra isso, mas dormi muito tarde e ser acordado pelo toque do telefone mais cedo do que eu gostaria de acordar é a última coisa que eu preciso. Tateando a cama, peguei o aparelho e atendi sem me preocupar em ver quem poderia ser.

- Que é?

- Bom dia flor do dia, estamos passando na sua casa em meia hora.

- Eu falei ontem que não ia. – resmunguei. – E não vou mesmo.

- Claro que não vai, ele quer ficar em casa com a inimiga mortal. – ouvi outra voz e eu não sei nem com qual deles estou falando.

- É isso mesmo, me deixem dormir. – falei, desligando o telefone e virando para o outro lado da cama, ainda de olhos fechados.

Acordei um tempo depois, dessa vez com o estômago roncando alto de um jeito quase impossível de ignorar. Abri os olhos devagar depois de ouvir o estômago reclamar alto de novo, levantei com muita preguiça e sai do quarto me arrastando. Acabei trombando na Juliana. É claro.

- Andar de olho fechado é imbecil demais até mesmo pra você, Sammy. – ela provocou e eu mostrei o dedo do meio. – Vá vestir uma roupa.

- Cueca é uma peça da roupa, caso você não saiba. Isso te incomoda?

- De forma alguma, por mim você pode andar pelado que não fará diferença.

- E posso saber aonde você está indo? – perguntei, observando a roupa que ela usava.

Um vestido de mangas curtas num tom de vermelho que não sei o nome e que ia até os joelhos e um par de All Stars brancos.

- Não, você não pode. – respondeu desaforada. – Você não é o único que conhece pessoas aqui, idiota.

- Juliana, vá se foder. – falei e ela deu uma risadinha.

- O café da manhã está pronto, mas não me espere acordado, lindinho, não tenho hora pra chegar. – Juliana falou num tom provocativo e saiu andando sem esperar resposta.

Ouvi a porta ser fechada e fui ao banheiro antes de, finalmente, ir para a cozinha comer e fazer meu estômago parar de roncar. Ela tinha mesmo feito café da manhã e usando uma das receitas que eu faço em Los Angeles: uma espécie de "ovos mexidos", mas não de ovos (obviamente) e sim de grão-de-bico. E estava delicioso.

Eu odeio muito a minha vida mesmo.

Depois de comer, fui para a sala e deitei no sofá, pegando o controle da televisão para procurar alguma coisa pra assistir e aproveitar aqueles momentos de paz e sossego, algo que não consigo ter ou fazer há meses. Faz tempo desde que tive paz de ficar sozinho, no sofá, de cueca, sem absolutamente nada pra fazer e sem ninguém por perto além de um animal de estimação.

Pareço muito ingrato ao já não estar muito satisfeito com a estadia tão prolongada na casa do Harry, mas não é esse o problema. Eu só me acostumei demais com meu próprio espaço, anos morando sozinho e, de repente, morar com outras pessoas é a última coisa que eu esperava que fosse me acontecer na vida.

Principalmente quando "outras pessoas" inclui uma pessoa que não me suporta e a quem eu tampouco suporto. Acho que se fôssemos apenas Harry e eu, as coisas não seriam tão exaustivas, mas o fato de ter Juliana enchendo o saco sempre torna tudo mais cansativo e eu estou cansado e velho demais pra lidar com tudo isso.

Make You MineOnde histórias criam vida. Descubra agora